Escrita em 1998 (1)
Esta é a grande novidade que Jesus anunciou e ofereceu à humanidade: a filiação divina. Tornar-se filhos de Deus mediante a graça.
Mas como e a quem é dada esta graça? «A quantos O receberam» e a quantos O receberão ao longo dos séculos. É preciso recebê-Lo na fé e no amor, acreditando em Jesus como nosso Salvador.
Mas tentemos compreender mais profundamente o que significa ser filhos de Deus.
Basta observar Jesus, o Filho de Deus, e a sua relação com o Pai: Jesus invocava o seu Pai como no “Pai-Nosso”. Para ele o Pai era “Abbá”, ou seja, o paizinho, o papai, a quem se dirigia com tons de infinita confidência e de extremo amor.
Mas, já que tinha vindo à Terra por nossa causa, não se limitou a estar só Ele nessa condição privilegiada. Ao morrer por nós, redimindo-nos, tornou-nos filhos de Deus, seus irmãos e suas irmãs, e deu-nos, também a nós, mediante o Espírito Santo, a possibilidade de sermos introduzidos no seio da Trindade. De maneira que também nós podemos usar aquela Sua divina invocação: «Abbá, Pai!» (2), ou seja, “papai, meu paizinho”, nosso paizinho, com tudo o que isso representa: certeza da sua proteção, segurança, abandono no seu amor, consolações divinas, força, ardor. O ardor que nasce no coração de quem tem a certeza de ser amado.
«A quantos O receberam, (…) deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus».
Aquilo que nos une a Cristo e nos faz ser, com Ele, filhos no Filho é o batismo e a vida da graça que recebemos com o batismo.
Nesta passagem do Evangelho está também referido o dinamismo profundo desta “filiação”, que se deve atuar dia após dia. Com efeito, é necessário «tornar-se filhos de Deus».
Tornamo-nos, crescemos como filhos de Deus, quando correspondemos à Sua oferta, vivendo a Sua vontade, que está toda concentrada no mandamento do amor: amor a Deus e amor ao próximo.
Receber Jesus significa, pois, reconhecê-Lo em todos os nossos próximos. E também eles poderão ter a oportunidade de reconhecer Jesus e de acreditar n’Ele se, no amor que lhes demonstrarmos, descobrirem uma parcela, uma centelha do amor infinito do Pai.
«A quantos O receberam, (…) deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus».
Neste mês, em que recordamos, de modo especial, o nascimento de Jesus nesta Terra, procuremos aceitar-nos reciprocamente, vendo e servindo o próprio Cristo uns nos outros.
E então uma corrente de amor recíproco, de conhecimento e de vida, como a que liga o Filho ao Pai no Espírito, se instaurará também entre nós e o Pai, e sentiremos aflorar sempre e de novo nos nossos lábios a invocação de Jesus: «Abbá, Pai».
Chiara Lubich
1) Publicada em Città Nuova, 1998/22, p. 37; 2) Mc 14,36 – Rm 8,15.