Intervenção do Papa por ocasião do Ângelus
Apresentamos a intervenção que Bento XVI pronunciou ao rezar hoje a oração mariana do Ângelus, junto a milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
Entre os fiéis, encontravam-se os membros da Ação Católica da diocese de Roma, que concluíam o mês de janeiro, tradicionalmente dedicado à paz. No final da oração, duas crianças, convidadas ao apartamento pontifício, soltaram da janela duas pombas – símbolos de paz.
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Queridos irmãos e irmãs:
Na liturgia deste domingo, podemos ler uma das páginas mais belas do Novo Testamento e de toda a Bíblia: o chamado “Hino à caridade”, do apóstolo Paulo (1Cor 12,31-13,13).
Em sua primeira Carta aos Coríntios, após ter explicado, com a imagem do corpo, que os diferentes dons do Espírito Santo contribuem para o bem da única Igreja, Paulo mostra o “caminho” da perfeição. Este, diz ele, não consiste em ter qualidades excepcionais: falar idiomas novos, conhecer todos os mistérios, ter uma fé prodigiosa ou realizar gestos heroicos. Consiste, pelo contrário, na caridade (ágape), isto é, no amor autêntico, que Deus nos revelou em Jesus Cristo. A caridade é o dom maior, que dá valor a todos os demais e, no entanto, “não é vaidosa, não se ensoberbece”; mais ainda: ela “se regozija com a verdade” e com o bem do outro. A pessoa que ama verdadeiramente “não é interesseira”, “não se encoleriza, não guarda rancor”; “suporta tudo, crê tudo, espera tudo, desculpa tudo” (cf. 1Cor 13,4-7). No final, quando nos encontraremos face a face com Deus, todos os demais dons desaparecerão; o único que permanecerá para sempre é a caridade, pois Deus é amor e nós seremos semelhantes a Ele, em comunhão perfeita com Ele.
Agora, enquanto estamos neste mundo, a caridade é o distintivo do cristão. É a síntese de toda a sua vida: do que crê e do que faz. Por este motivo, no começo do meu pontificado, quis dedicar minha primeira encíclica precisamente ao tema do amor: Deus caritas est.
Como recordareis, esta encíclica tem duas partes, que correspondem aos dois aspectos da caridade: seu significado e depois sua aplicação prática. O amor é a essência do próprio Deus, é o sentido da criação e da história, é a luz que dá bondade e beleza à existência de cada homem. Ao mesmo tempo, o amor é, por assim dizer, o “estilo” de Deus e dos que crêem, é o comportamento de quem, respondendo ao amor de Deus, concebe sua própria vida como dom de si mesmo a Deus e ao próximo. Em Jesus Cristo, estes dois aspectos formam uma unidade perfeita: Ele é o Amor encarnado. Este Amor foi revelado a nós plenamente em Cristo crucificado. Ao contemplá-lo, podemos confessar com o apóstolo João: “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem” (cf. 1Jo 4,16; encíclica Deus caritas est, 1).
Queridos amigos: quando pensamos nos santos, reconhecemos a verdade dos seus dons espirituais e também das suas características humanas. Mas a vida de cada um deles é um hino à caridade, um canto vivo ao amor de Deus. Hoje, 31 de janeiro, recordamos em particular São João Bosco, fundador da Família Salesiana e padroeiro dos jovens. Neste Ano Sacerdotal, eu gostaria de invocar sua intercessão para que os sacerdotes sejam sempre educadores e pais dos jovens; e para que, experimentando esta caridade pastoral, muitos jovens acolham o chamado a dar a vida por Cristo e pelo Evangelho. Que Maria Auxiliadora, modelo de caridade, alcance estas graças para nós.
ZENIT, 31 de janeiro de 2010