Três mil pessoas participaram da Romaria da Terra e da Água em SC

Tags

Muita sincronia de forças percebeu-se na XXI Romaria da Terra e da Água de Santa Catarina, realizada no dia 15 de novembro, na localidade de Braço Baú, município de Ilhota, Diocese de Blumenau. Na verdade, a Romaria de SC foi transferida do mês de setembro por motivo da gripe H1N1.
Do Km 25 da BR 470, entrava-se em estrada de chão por cerca de 10 km, até chegar ao citado local. Jovens da Pastoral da Juventude da Diocese anfitriã, com suas camisetas e bandeiras, em atitude de festa, acolhiam os romeiros e romeiras ao longo do trajeto. Carros-pipa molhavam a estrada para que não levantasse a incômoda poeira.
Da bonita igreja-matriz Nossa Senhora da Glória, percorria-se em torno de dois quilômetros até o local da concentração. Toda aquela região conserva ainda as marcas da tragédia de novembro de 2008. Viam-se sinais fortes da catástrofe nas propriedades dos pequenos agricultores, nos riachos, nas encostas dos morros.
 Encontravam-se muitos espaços cuidadosamente preparados para estacionamento de carros de passeio e ônibus. Excelente carro de som, com palavras e cantos de boas vindas, acolhia os romeiros naquele recanto, onde muito verde, passarinhos, límpidas águas correntes, flores, contrastavam com os sinais da destruição.
Em torno de três mil pessoas lá acorreram para construir a Romaria, momento de celebração da vida, de reflexão, oração, solidariedade, de encontro. Um grande grupo, por exemplo, saiu de Chapecó, região do extremo Oeste catarinense, às 11h da noite de sábado para, às 8h30 do Domingo, 15, chegar ao Braço Baú. 
Entre os ritos e símbolos vivenciados, o minuto de silêncio pelas trinta e duas pessoas mortas pela enxurrada e pelos deslizamentos comoveu todos os presentes. Nesse momento, deveras impressionava, de um lado o profundo silêncio daquela verdadeira multidão; de outro, o canto dos pássaros e a música dos riachos descendo dos morros. Noutro momento, os romeiros e romeiras foram motivados a acocorarem-se e tocar a terra com a mão, sinal de respeito e veneração com a mãe terra, mãe da vida, em nossos dias, tão agredida e ferida.
A grande cruz de cedro foi levantada, aplaudida, celebrada pela multidão. Foi apresentada com destaque a Bíblia, Palavra de Deus a iluminar a caminhada da vida pessoal, comunitária, social.
 Iniciando-se a caminhada, rumo à igreja, a cruz era levada em muitos e fortes ombros de homens e mulheres. Igualmente, a Bíblia, passando de mão em mão, ia acompanhando os caminhantes. 
Duas paradas aglutinaram os romeiros ao redor do carro de som, que levava a todos mensagens fortes e claras. Na primeira parada, um grupo de jovens apresentou significativa encenação ecológica e um morador do local contou sua experiência por ocasião da tragédia. Nela, disse ele, viu desaparecerem de repente diversos membros da família. Tanto ele se deixou tomar pelo choro, sem conseguir concluir sua fala, como os romeiros viveram forte momento de solidariedade com o narrador e com todos os que ainda sofrem com a perda de seus familiares.
A segunda parada foi de leitura bíblica, lembrando a promessa de Deus de dar a seu povo a “terra onde correm leite e mel” (Êx 3,8), ou, como dizem nossos indígenas, a “terra sem males”.  Hoje, com certeza, este paraíso será fruto da nossa conversão ao amor, ao cuidado com a terra e a água, à solidariedade com os irmãos e irmãs mais fragilizados. Diz bem o tema desta XXI Romaria da Terra e da Água de Santa Catarina: “Cuidar da Terra! Garantir a vida!”
À frente da igreja-matriz Nossa Senhora da Glória, noutro belíssimo momento vivenciado por todos e todas, foi plantada a cruz de cedro, ritual de todas as romarias da terra e da água. Espera-se que o tronco reviva e seja sinal de que nossos gestos de amor ao próximo e à mãe natureza, aliados à ação do Espírito, renovem a vida no planeta, na humanidade.
Em seguida, sempre orientada e motivada pelo carro de som, a multidão dirigiu-se para um grande gramado, onde estavam as diversas tendas. Ali havia comida diversificada, muitas frutas, bebidas (não alcoólicas), doces, preparados, principalmente pela comunidade local. Encontravam-se também muitos tipos de artesanatos, inclusive de indígenas, que ofereceram também sua contribuição à romaria.
Os muitos grupos sentados na grama, com seus pratos de comida e recipientes de bebidas, lembravam muito bem a passagem evangélica da multiplicação dos pães. Também ali ninguém pagava sua comida e sua bebida.
Fazia lembrar ainda o Profeta Isaías, que convida:”Atenção! Todos os que estão com sede, venham buscar água. Venham também os que não têm dinheiro: comprem e comam sem dinheiro” (Is 55,1)!
Num palco sobre um caminhão, nesse tempo de almoço, foram apresentadas outras significativas encenações, mensagens, cantos, falas, etc…
A santa missa de encerramento e envio, na igreja-matriz Nossa Senhora da Glória, do Braço Baú, foi  presidida por Dom José Negri  (Bispo Diocesano de Blumenau), concelebrada por Dom Ladislau (Bispo Diocesano de São José dos Pinhais, PR, e presidente nacional da Comissão Pastoral da Terra – CPT), Dom Luiz Carlos (Bispo Diocesano de Caçador), e por muitos sacerdotes. Foi ajudada por inúmeros diáconos, ministros extraordinários da comunhão, lideranças diversas e vivamente participada pelo dedicado e amado povo de Deus que, de perto e de longe, veio à Romaria.
 
 Texto e fotos: Pe. Raul Kestring
 Blumenau, 15 de novembro d 2009

Leia também...