A vida de Santa Gertrudes não podia ser exteriormente mais simples. Com a idade de cinco anos foi entregue pelos pais ao convento de Hefta, na Saxônia, para ser educada e no convento brotou, em sua alma, a vocação claustral, ali permanecendo até a morte. Quase nada se sabe da sua vida no dia-a-dia, além daquilo que ela deixou escrito, não como dados biográficos mas como revelações e aspectos elucidativos de sua espiritualidade.
Em 1281, com 25 anos de idade, teve a primeira visão que a introduziu na vida mística. O conteúdo de suas visões e revelações era o conhecimento do amor de Cristo em relação aos homens. Sua espiritualidade era cristocêntrica. O amor à humanidade de Cristo levou-a a descobrir a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, precedendo as grandes revelações de Santa Margarida Maria Alacoque.
Alma profundamente contemplativa, a ocupação predileta de Santa Gertrudes era meditar a sagrada paixão e morte de Cristo e cultuar Jesus presente no sacrário. Intimamente ligada ao amor de Jesus era sua devoção a Maria Santíssima, que venerava e invocava com confiança filial. Os êxtases e revelações divinas não a dispensavam das práticas de mortificação e penitência, pois cotidianamente castigava seu corpo e o purificava de todo apego às coisas terrenas.
Ela própria recolheu suas revelações num livro com o título: “Mensageiro do divino amor”, que faz de Santa Gertrudes uma das maiores místicas ao lado de Santa Teresa D’Ávila e de São João da Cruz.
Faleceu, como num êxtase de amor, no ano de 1301, com 46 anos de idade.
Conti, Dom Sevilio, IMC – O Santo de Cada Dia, Editora Vozes, 1984, 2ª edição
Santa Margarida da Escócia (1045-1093)
Margarida nasceu em 1045, em Mecseknádasd, Hungria, onde seu pai, Eduardo, herdeiro do trono de Edmundo II da Inglaterra, se encontrava exilado, após a tomada de posse do seu reino pelo rei da Dinamarca, Cnut. As origens da sua mãe, Ágata, são incertas. Sabe-se, porém, que Margarida era a segunda de três filhos. Ainda criança, após a morte do rei Canuto, seu pai decidiu voltar para a Inglaterra, onde faleceu logo depois da chegada do normando William, o Conquistador. Assim, Ágata foi obrigada a se refugiar em outro lugar com seus filhos. Com efeito, encontrou refúgio na Escócia, na corte de Malcom III, homem hospitaleiro, gentil e generoso: viúvo e pai de um filho, apaixonou-se pela bela e inteligente Margarida, educada nos bons costumes e na fé católica. Ele pediu a sua mão em 1070. Aos 24 anos Margarida tornou-se Rainha da Escócia.
Soberana exemplar
A residência de Malcolm e Margarida era o Castelo de Edimburgo, onde a vida de corte era enriquecida com práticas piedosas e orações diárias. A vida do casal real era agraciada por oito filhos: seis meninos e duas meninas. Margarida era uma esposa perfeita: gentil, paciente, bondosa, carinhosa e amorosa com seu esposo: ela sempre estava ao seu lado nas dificuldades diárias; envolvia-o nas suas práticas piedosas; dava-lhe conselhos em questões políticas e administrativas. Deve-se a ela a introdução do feudalismo, em terras escocesas, sob modelo inglês, e a criação de um Parlamento. No entanto, as portas do castelo estavam sempre abertas para acolher, ajudar e assistir os pobres e enfermos, para os quais a soberana mandou construir asilos e hospedarias.
Reformadora
Com Margarida, os cultos das Igrejas locais foram uniformizados e conformados com os da Igreja de Roma. A rainha determinou que o jejum da Quaresma fosse respeitado e a Páscoa celebrada no mesmo dia; recomendou a confissão frequente e abstenção do trabalho aos domingos; difundiu a educação religiosa e incentivou a construção de igrejas, mosteiros, capelas e escolas. Graças a ela, os monges beneditinos fundaram mosteiros na Escócia; as antigas abadias voltaram ao seu esplendor e construídos abrigos para os peregrinos. Na intimidade do castelo, Margarida dedicava seu tempo para bordar os paramentos sagrados e decorar livros, além de entreter seu esposo com leituras espirituais.
Maior que a morte
Devido à sua saúde precária, Margarida adoeceu, em 1093, enquanto seu esposo e filho mais velho tiveram que empunhar as armas contra Guilherme, o Vermelho, que invadia a Escócia. Ambos morreram, em 13 de novembro, na Batalha de Alnwick. É famosa a oração da rainha ao receber a notícia. Suas palavras foram memorizadas pelo monge, Teodorico Turgot, prior do mosteiro de Durham, mais tarde Arcebispo de Santo André, confessor, diretor espiritual e biógrafo de Margarida: “Deus Todo-Poderoso, agradeço-vos por ter-me dado tão grande aflição, nos últimos momentos da minha vida. Espero que, por vossa misericórdia, possa servir para purificar os meus pecados”. Margarida faleceu em 16 de novembro de 1093, no Castelo de Edimburgo. Foi canonizada, em 1250, pelo Papa Inocêncio IV, pelo seu exemplo de vida, fidelidade à Igreja e caridade para com o próximo. O lugar de culto mais antigo, a ela dedicado, é a Capela de Santa Margarida, no Castelo de Edimburgo.
Santa Inês de Assis (1198-1253), irmã de Santa Clara de Assis
Virgem da Segunda Ordem. Bento XIV, no dia 15 de abril de 1762, concedeu ofício e Missa em sua honra.
Inês era irmã de Clara, mais nova do que ela, nascida em Assis em 1198. Em princípios de abril de 1212 foi juntar-se à irmã, que quinze dias antes tinha fugido da casa paterna para abraçar o ideal franciscano e se recolher no mosteiro de Santo Ângelo, nas faldas do Subásio, perto de Assis. Os parentes, exasperados com semelhantes gestos, que consideravam um segundo atentado contra o bom nome da família, serviram-se de todos os recursos para tentarem impedi-la de realizar os seus intentos, sem excluírem mesmo a violência física: Inês chegou a ser brutalmente ferida pelo seu tio Monaldo, que teve o atrevimento de violar a clausura e a tranquilidade do mosteiro. Porém, nem mesmo a força bruta conseguiu fazer vergar a jovem. Foi São Francisco quem sugeriu para a nova consagrada o nome de Inês, porque, pela fortaleza de que dera provas, esta jovem de 15 anos recordava a valentia da mártir romana Santa Inês.
Em 1212 São Francisco trouxe as duas irmãs para São Damião. Em 1220 Inês foi enviada para Florença, como abadessa do mosteiro de Monticelli, fundado no ano anterior. Mas muitos outros mosteiros de Clarissas se orgulham de ter hospedado a santa. Mais tarde regressou a São Damião, onde foi agraciada com uma aparição do Menino Jesus, por isso se representa por vezes Santa Inês com o menino Jesus nos braços. Em Assis Inês assistiu à morte da irmã Clara no dia 12 de agosto de 1253.
No coro do pobrezinho convento de São Damião ainda se podem ler os nomes das primeiras companheiras que seguiram as pegadas de Santa Clara e São Francisco pelo caminho da renúncia total e absoluta pobreza. São conhecidos nomes de senhoras e jovens de Assis que em São Damião tiveram o seu primeiro ninho: Hortolana, Inês, Beatriz, Pacífica, Benvinda, Cristiana, Amada, Iluminada, Consolada… Os três primeiros nomes pertencem a mulheres da família de Santa Clara: Hortolana era a sua mãe, e Inês e Beatriz eram suas irmãs.
Inês foi a primeira a seguir o exemplo da irmã Clara, quinze dias depois dela, pouco depois veio a outra irmã, Beatriz, e por fim a mãe Hortolona. Inês, além de ter sido a primeira, também foi a que mais fielmente seguiu a irmã, vivendo à sua sombra luminosa, sempre delicada e obediente, duma firmeza de caráter excepcional, quase viril, em especial na observância da pobreza. Como superiora foi terna e caridosa, mas inflexível e tenaz. Depois do regresso a São Damião, morreu serenamente três meses depois da irmã Santa Clara, a 16 de novembro de 1253, com 55 anos de idade.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.