Evangelho do domingo (25/10/2009): COMO GRITOS DE PARTO

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Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca

Publicamos o comentário do Evangelho deste domingo, 30º do Tempo Comum (Mc 10,46-52), redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca, Espanha.

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Saem de Jericó, uma belíssima cidade, fértil e amável, talvez também tentadora para ficar e evitar, assim, a tragédia que esperava por Jesus se continuasse sua viagem até Jerusalém. Mas aquela beleza nem sequer constituía uma tentação para o cego Bartimeu. Seus olhos fechados o deixavam lá, prostrado, à beira do caminho, pedindo esmola. Cego e mendicante, sem luz e sem teto.
Ele deve ter ouvido mais barulho do que o habitual e perguntou o que acontecia ou quem estava passando; responderam-lhe que era Jesus. Então, ele começou a gritar: "Filho de Davi, tem compaixão de mim!". Deve ter feito isso com tanta força e insistência, que chegou a incomodar alguns do cortejo de Jesus.
Bartimeu, que não conseguia andar por causa de sua cegueira física e que ficava no chão, pedindo esmola, tinha mais luz interior que muitos dos que acompanhavam o Senhor. Um cego que não pode andar e alguns caminhantes com cegueira no coração. Não se deve censurar o grito da vida. É o grito de quem sabe que nasceu para ver e para andar e não aceita uma resignação imperativa de ter de contentar-se com esmolas imóveis.
A criação inteira geme com gritos de parto, diz a carta aos Romanos, indicando que, na história dos homens, nem tudo é belo, nem bom, nem justo, nem verdadeiro. E então, a própria criação se ressente, rebela-se e, de mil maneiras, grita através dos famintos de todas as fomes, através dos cegos de tantas cegueiras e através daqueles que sofrem ataduras em sua liberdade e em seu coração. Todos estes gritos desafiam, incomodam, criam comoção. A tentação sempre é a de calá-los, censurá-los, em algum sentido. Quem teria os ouvidos de Deus para escutar tantos gritos e responder adequadamente a eles?
No caminho de Jericó, pelo qual Jesus passava, Bartimeu não deixou de gritar, e cada vez mais forte, como quem diz, do seu jeito urgente e intempestivo, que o que lhe acontece não deve se perpetuar, que ele não nasceu para isso.
A vida amordaçada, encurralada, mutilada ou censurada… não deixará de gritar e gritar-se. "Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!" é a oração de todos os pobres e simples que desejaram alguma vez levantar-se das suas cegueiras e das suas forçosas prostrações.
Jesus o curou elogiando sua fé e Bartimeu se levantou e o seguiu como discípulo. Havia encontrado a Luz e abandonou sua cegueira; havia achado o Tesouro e deixou de pedir esmola; havia encontrado o sentido da vida e se colocou em caminho, abraçando Aquele que é Caminho e Caminhante conosco.
ZENIT, 23 de outubro de 2009
 

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