O Vaticano anunciou ontem, 20, que a Igreja Católica publicará uma Constituição Apostólica que trata da acolhida dos anglicanos que desejam aderir ao catolicismo, individualmente ou em grupos. De acordo com o novo documento, serão criados Ordinariatos Pessoais, que permitirão aos anglicanos que se tornam católicos manterem a identidade e especificidade espiritual e litúrgica próprias. Os padres, que na Igreja Anglicana são casados, poderão ser reconhecidos na Igreja Católica para continuar a exercer seu ministério.
“Como em geral os padres anglicanos são casados, a Constituição permite que, uma vez reconhecidos na Igreja Católica, eles conservem os laços conjugais em sintonia com o exercício do seu ministério”, explica o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso, da CNBB, padre Elias Wolff.
“Os Ordinariatos Pessoais serão comunidades católicas formadas exclusivamente por pessoas que deixam a Igreja Anglicana e pedem para ser católicos. Esse é um fato que se intensificou, sobretudo a partir do final da década de 70”, afirmou o assessor. “A Igreja Católica não quer que as riquezas da formação cristã na tradição anglicana sejam abandonadas no caso de um anglicano se tornar católico. Por isso a Constituição Apostólica permite que os Ordinariatos Pessoais sejam presididos por ministros ordenados que já foram anglicanos, o que favorece o acompanhamento pastoral dos ex-anglicanos”, esclarece o assessor.
Segundo padre Elias, ao permitir que os anglicanos convertidos ao catolicismo conservem suas tradições litúrgicas e espirituais, o documento se coloca em sintonia com o Concílio Vaticano II, “que afirma a eclesialidade das tradições eclesiais oriundas das Reformas dos séculos XVI e XVIII”. Na opinião do assessor, a Igreja Católica não incentiva a conversão de anglicanos para o catolicismo, “mas se preocupa no modo de acolher os que querem se tornar católicos, valorizando riquezas da sua formação cristã na tradição anglicana”.
Ainda de acordo com padre Elias, o novo documento é fruto dos anos de diálogo entre católicos e anglicanos e manifesta que nas duas tradições eclesiais há significativas convergências e consensos, sobretudo em questões espirituais, litúrgicas e pastorais. “A nova Constituição não pode ser um obstáculo às relações ecumênicas, mas um incentivo para o reconhecimento dos elementos comuns existentes nas duas tradições e um impulso para o diálogo alcançar novas convergências e novos consensos”, observou.
Segundo o site da Rádio Vaticano, o arcebispo católico de Westminster, dom Vincent Gerard Nichols, e o bispo anglicano de Cantuária, Rowan Williams, leram juntos uma declaração conjunta concordando que “o anúncio põe fim a um período de incerteza para muitos grupos que nutriam esperanças por novas formas de abraçar a unidade com a Igreja Católica”.
Site www.cnbb.org.br – 21/10/2009