Neste dia 12 de outubro, em Blumenau, chovia forte. Assim, antevia-se pouca participação dos blumenauenses nas comemorações do Dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Mesmo com a presença, em nossa cidade, da réplica oficial da sua imagem, trazida do Santuário Nacional, em Aparecida, SP, a chuva torrencial que caía teria podido afastar o povo de comparecer à Catedral.
Mas não foi assim. A nossa ampla igreja diocesana lotou de devotos da Mãe Aparecida, provindos da nossa cidade e região. Acorreram para participar da missa de despedida da querida imagem que, em carreata, atravessaria a cidade, até o Santuário da Itoupava Norte. Desde quinta-feira passada, quando chegou de Navegantes, a réplica autêntica da imagem de Nossa Senhora Aparecida encontrava-se exposta para a veneração dos fiéis na nossa igreja catedral, durante as 24 horas de cada dia, pois, naqueles dias realizava-se o Cerco de Jericó, que se encerrou no domingo, dia 11, à noite.
Quem chegou em cima das 07h30, hora marcada para o início da santa missa, encontrou dificuldade para estacionar seu veículo no espaçoso estacionamento e nos arredores da Catedral.
Pe. João Bachmann, Cura da Catedral e Vigário Geral da Diocese presidia a celebração. Dom José Negri, Bispo Diocesano de Blumenau, em seu genuflexório ao lado do altar, revestido dos paramentos episcopais, dela participava. Pe. Jorge Figueiredo concelebrava e Diác. Humberto, exercia seu ministério diaconal, auxiliando no ato religioso.
Um grupo de crianças, vestidas de anjos, portando cestas de pétalas de rosas, posicionou-se em frente ao altarzinho de Nossa Senhora. Chamavam a atenção para o Dia da Criança, que também é comemorado no dia 12 de outubro. A presença delas lembrava ainda que o amor à Mãe de Jesus se aprende desde a infância, no colo das nossas mães.
Desceu para a frente da escadaria do presbitério também o presidente da celebração eucarística, o sacerdote concelebrante, o diácono e os coroinhas. Ali procedeu-se à consagração da Paróquia da Catedral e de toda a Diocese a Nossa Senhora Aparecida. Todos participavam da significativa cerimônia acompanhando o canto da ladainha e, ao refrão, erguendo as mãos na direção da nossa Mãe e Rainha. A oração “Ó Senhora minha” encerrou a consagração.
Dom José, então, dirigiu-se para cima do presbitério, retirou a imagem da sua reluzente redoma e apresentou-a à assembléia, que irrompeu em calorosa salva-de-palmas, vibrando em aclamação. O Bispo, em seguida, com a milagrosa imagem, abençoou solenemente as famílias, o povo presente.
Iniciou-se o traslado para o Santuário da itoupava Norte. Ao descer os degraus do presbitério, Dom José deteve-se com as crianças vestidas de anjos. Nossa Senhora recebe uma chuva de pétalas daquelas encantadoras crianças. Nada melhor poderia ter feito a festa daqueles pequenos e pequenas do que se sentirem próximos da Mãe Celeste, poderem, na sua inocência, homenageá-la, agradecer-lhe por nos ter dado o Menino Deus e Salvador.
Num carro do Corpo de Bombeiros, acomodada na cabine, por causa da chuva, a pequena imagem seguiu pela cidade, rumo ao novo destino. O som das cirenes, das buzinas dos veículos e de fogos de artifício, tornavam possível acompanhar o lento e solene avanço do festivo cortejo por todo o seu trajeto.
Sobre a ponte Irineu Bornhausen, no bairro Itoupava Seca, a carreata parou. Dom José desceu do caminhão do Corpo de Bombeiros e abençoou o Rio Itajaí-Açú. Foi nas águas de um rio, o Rio Paraíba, em São Paulo, que Nossa Senhora Aparecida foi achada.
Diante dos apóstolos quase desesperados por causa da tempestade, Jesus acalmou mar. Pela intercessão da sua e nossa Mãe, o Senhor, poderá também acalmar a ameaça, a fúria das águas do nosso rio, que tanto sofrimento já causou à cidade e à região.
No Santuário, o povo se apinhava, esperando a chegada da imagem que foi trazida de Aparecida. Também a grande barraca de lona que cobria todo o pátio interno do santuário, estava quase lotada de devotos.
Momento forte de emoção viveu aquela multidão com a chegada de Nossa Senhora, que o bispo, elevando-a, sempre segurava em suas mãos e, com a qual, abençoava as pessoas por onde passava.
Diversos meios de comunicação da cidade, jornais, rádios, TVs, blogueiros, fotógrafos, divulgadores, enfim, registravam e transmitiam o comovente momento.
O presbitério do Santuário ficou lotado de padres, diáconos, ministros e ministras da santa missa comemorativa do Dia de Nossa Senhora Aparecida e da Criança. Também ali, um belo grupo de "anginhos" marcava presença, à frente do povo.
Dom José presidiu a concorrida celebração. Apesar da chuva, que não dava trégua, ali igualmente os blumenauenses e moradores dos arredores acorreram em massa. A presença da imagem peregrina despertava entusiasmo, emoção, alegria, demonstrações de fé.
À homilia, o Bispo de Blumenau, lamentou que, na noite do último sábado, voltando da celebração de Crismas, viu jovens embriagados, deitados na valeta do lado da rua. Manifestava sua tristeza porque esses jovens buscavam a alegria enganadora, ilusória, do prazer material, alcoólico. Mais do que enganador e ilusório prazer: prejudicial, doentio, destruidor da vida.
A partir do Evangelho daquela solene liturgia, destacava o Bispo, Jesus veio para dar-nos o vinho da alegria verdadeira, que nos vem da sua Palavra, do seu caminho, da sua proposta de vida nova.
E quem nos proporciona esta alegria, esta paz, esta felicidade é Maria,a mãe de Jesus, também presente numa festa de casamento. Ela diz aos serventes, naquelas núpcias, em Caná da Galiléia:”Fazei tudo o que ele vos disser”. Como aqueles serventes, se escutarmos Mãe de Deus e nossa, veremos nossa tristeza e nossa dor mudarem-se em alegria, nossos vícios em virtudes, nossa divisões em reconciliação, nosso ódio em amor, nosso egoísmo em solidariedade.
Dessa forma, tornar-nos-emos, como aquela mulher escolhida, instrumentos da graça de Deus. Não só a comunidade cristã poderá, assim, transformar-se, mas também as famílias, a sociedade, o mundo.
Até mesmo uma Oktoberfest poderá, com essa nova luz, diferenciar-se. Nem todos os oktoberfesteiros se entregam ao exagero, ao mau exemplo, à corrupção dos costumes. Com certeza, um grande, cada vez maior, número de blumenauenses e de visitantes que buscarem fazer uma festa com dignidade, com respeito; pelo menos, não extrapolando os limites de um divertimento moderado e de uma convivência sadia, isso poderá fazer-nos ver uma oktoberfest mais favorável à vida, à educação social, à celebração das nossas culturas e da amizade entre pessoas, grupos, etnias, povos.
Esse sonhado e possível espírito novo de festa, pode levar-nos a falar de “Oktoberfest de Maria”. A prova dessa possível mudança, todos pudemos constatar nesta manhã de 12 de outubro. Mesmo com a chuva que caía intermitente, em torno de cinco mil pessoas participaram efetivamente das celebrações do Dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, e Dia da Criança.
Pe. Raul Kestring
Blumenau, 12 de outubro de 2009