“Por acaso poderá uma mulher esquecer-se da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do filho do seu ventre?” [Is 49,15]. Estas palavras são antigas, como é antiga a Bíblia, mas são de uma atualidade extraordinária. Deus, através do profeta Isaias, se pergunta como seria possível para uma mãe se desfazer do filho que fez parte dela, das suas entranhas.
As palavras do profeta vieram a minha mente quando deparei com uma notícia que me deixou contristado: um órgão oficial do governo, o Conselho Federal de Medicina, defendeu o aborto até o terceiro mês de gestação. Diante disso, nasce, em meu coração, uma série de perguntas: um médico normalmente passa a vida inteira na pesquisa, no trabalho cansativo de “salvar vidas”. Quantas vezes me aconteceu de ver lágrimas correr dos olhos de médicos que conseguiram ver vidas ameaçadas por graves doenças e, “milagrosamente”, retomar o seu percurso normal; e, muitas vezes, vi a tristeza de médicos impotentes diante de males que não tinham cura.
Não acredito que um médico que procure viver e exercer a profissão eticamente tomaria uma decisão como a sugerida pelo seu Conselho de Medicina. De outro lado, pergunto-me: quem, em definitivo, tem a última palavra sobre o dom inestimável que é a vida? O referido Conselho sustentou sua decisão argumentando que quer defender a autonomia da mulher. Mas quem pode decidir se é mais importante a autonomia da mulher ou a vida da criança que nela está se desenvolvendo? E quem teria mais direito: quem quer viver ou quem quer eliminar a vida? E o que dirão os milhares de casais que, cheios de caridade e sentido de fraternidade, entram em listas intermináveis de adoção?
Deus continua seu pensamento: “ainda que uma mulher se esquecesse, eu de ti jamais me esquecerei”[Is 49,15]. Quantas mulheres gostariam de acolher uma criança em seus braços para manifestar o amor de Deus que nunca se esquece. E há pessoas que pensam na autonomia!
DOM JOSÉ NEGRI|Bispo Diocesano de Blumenau