Finados
No período da pedra polida ou neolítico, já se encontra vestígios da crença na imortalidade da pessoa humana. O mistério, o medo, o desejo de uma vida perene, parecem inerentes à auto-compreensão humana. No islamismo, a imortalidade faz parte dos decretos divinos, inesgotáveis como as águas do mar, segundo o Corão.
Na tradição judaico-cristã, o Antigo Testamento mostra um claro gesto de fé na ressurreição. O Segundo Livro dos Macabeus (11,39-45) narra que o general Judas, nas roupas dos soldados mortos em combate, encontrou imagens de ídolos. Faz, então, uma coleta, reunindo duas mil moedas de prata e envia-a a Jerusalém a fim de que fosse oferecido um sacrifício pelo pecado, pensando na ressurreição.
Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, não só define cabalmente a verdade da ressurreição dos mortos, como também Ele próprio ressuscita ao terceiro dia da sua morte. Além da imortalidade, testemunhou, assim, a verdade de toda a sua mensagem de vida nova já, aqui, na nossa existência terrena, a partir da adesão à sua proposta de salvação e libertação.
Daí o motivo pelo qual o povo acorre aos cemitérios no Dia de Finados, 2 de novembro. Desejam, em resumo, renovar a certeza de que, realmente, seus entes queridos não morreram, mas vivem eternamente felizes, e não se separaram de seus familiares, amigos, deste mundo.
É este o maior consolo diante de tão dolorida ausência corporal. Igualmente, a certeza de que, invocando a bondade e a misericórdia divinas, nossa oração por eles pode redimi-los de seus pecados, aliviando-nos o temor de seu sofrimento sem fim.
Diz a letra de um dos nossos hinos que “a melhor oração é amar”. O tempo alivia e pode até fazer esquecer a tristeza da partida de alguém. Amar o próximo, perdoá-lo, carregar a nossa cruz com paciência e sabedoria, no entanto, apresenta-se como caminho para que, após a nossa próxima ou distante morte, estejamos junto a eles, na definitiva união com Deus, nosso Pai.
RAUL KESTRING|Padre