Leitura da Palavra: Lc 4, 38-39:
“38. Jesus saiu da sinagoga, e foi para a casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela.
39. Inclinando-se para ela, Jesus ameaçou a febre e esta deixou a mulher. Então, no mesmo instante, ela se levantou e começou a servi-los. “
Hoje estamos avançando mais um passo da nossa caminhada. Chegamos ao décimo e isso deve representar para nós uma vitória, uma conquista, a garantia de um esforço, o qual decidimos viver a experiência. E por esta razão, nos permitimos conhecer um pouco mais de nós mesmos. Falamos de reconhecimento de si mesmo, de fraqueza, de perdão, de culpa, de confissão, de desafio e hoje vamos falar de serviço e de família.
Este trecho do Evangelho de Lucas, nos fala sobre o vínculo familiar e a responsabilidade que temos dentro dele. Quando Jesus sai da Sinagoga e vai à casa de Simão, ele se desloca de um grupo grande para um grupo menor, mas não menos importante. A família é o núcleo onde se concentram as primeiras informações, onde se criam as primeiras regras, onde se capacita para a vida. É lá também que devemos conhecer Jesus, através dos hábitos do dia-a-dia, das orações, do exemplo cristão, da convivência e do exercício de comunhão fraterna.
Dentro deste contexto há a condição em que cada um cumpre com o seu compromisso. O grupo vive reunido, mas cada um tem determinada tarefa e papel definidos. O do pai e da mãe que educam, que trabalham, que assumem as despesas e são responsáveis pelo sustento; o dos filhos que devem se responsabilizar pelas atividades educacionais; o dos avós, que terminam por se fazer presentes para dar suporte aos filhos na oferta de disponibilidade para amparar nas dificuldades dos filhos.
Naquele tempo não era muito diferente. Impossibilitada de cumprir as suas funções pede que Jesus a cure. Ele lhe socorre em seu momento difícil, toma-lhe pela mão e a faz levantar-se. Isso significa a restauração de sua vida, onde prontamente é atendida. Levando-se em consideração que se tinha poucos recursos, Jesus lhe trouxe à vida. Hoje somos beneficiados pela ciência e contraditoriamente nos deixamos adoecer o espírito. Estamos aqui em busca de uma cura, em busca de um milagre, em busca de uma vida melhor, de uma vida sensata e coerente, uma vida de paz e tranqüilidade no seio familiar.
Jesus vai ao nosso encontro, entra em nossa casa, chega aos nossos ouvidos, toca o nosso coração, afirma que pode nos ajudar. É preciso que queiramos a cura dessas nossas doenças, desses nossos males. É preciso que queiramos nos livrar dos nossos erros, dos nossos vícios. Quando somos convidados a levantar não devemos ter receios. Mas uma vez de pé, devemos assumir as nossas obrigações, assim como a sogra que convertida a sua doença em saúde, se propõe a retomar o seu papel, prestando serviço à sua família.
E a nossa obrigação, qual será? A primeira delas é tomar para si todos os nossos compromissos que deixamos de lado quando caímos doente, quando cegos, não enxergamos como deveríamos agir. É mudar nossas atitudes e sermos fiéis e comprometidos com a nossa família. É assumirmos integralmente o nosso papel familiar, seja de pai/mãe, seja de esposo/esposa, seja de filhos… Esse é um papel básico, de orientação moral e educacional.
Falamos da nossa primeira obrigação, que é assumirmos o nosso compromisso, retomando a nossa caminhada de vida nova. A segunda se remete justamente a maneira como nós vamos assumir esse novo projeto de vida. Que instrumentos vamos utilizar? Ora, se buscamos no Senhor a recuperação, é preciso que nos mantenhamos sob a Sua guarda para não cairmos em tentação novamente. Se aceitamos a conversão é porque aceitamos o chamado à vida e esta é uma experiência marcante e decisiva, pois muda completamente a nossa trajetória.
É necessário que nos preparemos para servir ao Senhor. É preciso que, assim como a sogra de Simão, tenhamos em nós as habilidades de acolher a Cristo com humildade, com sabedoria, com dedicação e zelo. Se fomos ao Seu socorro e Ele nos curou, agora devemos dedicar nossos afazeres em Sua intenção. E podemos começar a princípio por aqueles a quem amamos que é a nossa família. Deus sempre nos dá a oportunidade de renovarmo-nos por desafios possíveis. Ele nos quer bem e vai nos possibilitar a cura e um dos remédios é a oração, paciente e contínua, determinada a envolver e converter o seio familiar.
Quanto ao tempo, apenas dediquemo-nos aos afazeres com alegria. Muitos argumentam que os dias são difíceis e há pouco tempo para realizar as próprias coisas, que dirá, se dar ao trabalho de se lançar a outros desafios que não sejam em causa própria. Se prestarmos atenção, em geral, as pessoas que servem a Deus têm vários outros compromissos e dão conta de fazer as suas orações, enquanto que boa parte de quem está à toa, nunca tem tempo para viver uma entrega plena. Quem serve ao Altíssimo não é melhor que os outros, mas certamente faz escolhas mais direcionadas, mantém o foco em atitudes coerentes e consegue aproveitar melhor as horas de seus dias.
Temos a difícil tarefa de evangelizar a nossa própria família. Os excessos de informações torpes, de propagandas enganosas, de satisfação no consumo desenfreado, de busca por um prazer insaciável, têm produzido um distanciamento muito grande dentro do seio familiar e a proposta de hoje na nossa caminhada é que tenhamos um contato maior com aqueles a quem amamos e possamos não apenas falar desse Jesus que nos rodeia, mas praticá-Lo sutilmente, fazê-Lo existir nas atitudes mais simples dentro de casa. Pois Ele é amor, é fortaleza, é vida eterna e vem fazer parte da nossa vida para que tenhamos a oportunidade de crescer em espírito, mas também propagá-Lo para que possamos compartilhar e construir o Reino que começa já aqui.
Malena Andrade – Psicóloga Assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau