Em várias ocasiões percebemos que mal se entende o que as pessoas falam, o que elas necessitam ou o que pretendem, tendo em vista a rapidez com que falam. São raros os bom dias ou boa tardes, muito menos os “como vai?” É perda de tempo!
Resta-nos então um vazio, a percepção de que algo anda torto. Ou seria a pressa, apenas mais uma característica definidora da nova época? Ou ainda seria ela uma maneira de abreviar o tempo?
A pressa sem sentido é geradora de ansiedade e angustia e pode estar ligada ao estresse, causando diversos desconfortos sinalizadores da Síndrome da Pressa. Tal síndrome passou a fazer parte da vida humana, tolhendo a reflexão sobre o comportamento apressado sendo muitas vezes encarada como exigência dos tempos pós-modernos.
Torna-se interessante fazermos um exame do quanto estamos interrompendo as conversas em grupo, de como anda nosso interesse pelo que os outros falam, pela força que seguramos os objetos, como se tivéssemos medo de perdê-los e de como nos colocamos com relação à paciência.
E a agenda, como anda? Abarrotada? Um compromisso seguido de outro, muitas vezes dois, para o mesmo horário, como se isso possível fosse, não sobrando nem um tempinho para respirar, espreguiçar, beber água, olhar para o ipê em flor…
A aceleração que imprimimos às nossas vidas se traduz em irritabilidade, cansaço e intolerância imensa com relação aos nossos limites e aos limites dos outros. Pessoas mais lentas nos são intoleráveis, as denominamos de “lerdas”, “lesmas”, “molengas” e tentamos empurrá-las, presenteando-as com doses de ansiedade, angustia, estresse, que temos de sobra em nossa bagagem. Muitas resistem! Outras tantas aceleram.
A pressa vem dominando. Questionar o quanto ela é útil ou prejudicial pouco resolve, se não soubermos estabelecer prioridades e dizer não. Responder com sinceridade o que se deseja para a vida ajudaria na divisão do tempo, diminuindo a aceleração.
Fica a questão: até que ponto a ferramenta pressa nos torna mais produtivos, realizados e felizes? Parece que estamos retrocedendo em vários sentidos, ou seja, atividades que demandam atenção estão tendo que disputar espaço entre si. Falar ao celular e dirigir é uma delas. Seria possível ler com a TV ligada? Como atender as necessidades de nossos pais, filhos, amigos, lendo o jornal? O restaurante pode ser agradável, podemos ter tempo, mas não encostamos as costas no espaldar da cadeira, mastigamos com força e engolimos com velocidade. Por quê? O que não estamos conseguindo suportar?
Estamos muito apressados, respeitando e conhecendo menos a nos mesmos e aumentando o desgaste físico, mental e psicológico.
Mas afinal, para onde vamos com tamanha pressa?
Vera Lúcia Carvalho
Psicóloga
Paróquia Nossa Senhora da Penha – Penha –SC.
17/09/2012.