“Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25)
No evangelho de João há uma passagem deveras elucidativa quando nos perguntamos a respeito do sentido da Ressurreição. Mais do que entender teologicamente esse fenômeno grandioso da Ressurreição de Jesus e nossa, ele nos motiva à vivência desse “caminho”.
Leiamos o referido texto, situado no contexto da ressurreição de Lázaro: “Então Marta disse a Jesus: ‘Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas ainda agora, eu sei: tudo o que pedires a Deus, ele te dará. ‘ Jesus disse: ‘Seu irmão ressuscitará.’ Marta disse: ‘Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia.’ Jesus disse: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá para sempre. Você acredita nisso?’ Ela respondeu: ‘Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Filho de Deus que devia vir a este mundo” (Jo 11,21-27).
Marta expressa a crença corrente no seu tempo de que somente após a morte aconteceria a ressurreição. “Eu sei que ele (seu irmão Lázaro) vai ressuscitar na ressurreição, no último dia” – diz ela no versículo 24. Ela conhecia as Escrituras como lhe fora ensinado. Ao mesmo tempo, sugere aquela esperança como tentativa de auto-conforto diante da dolorida morte do irmão querido. Jesus, porém, revela-lhe uma novidade, também para todos nós. A ressurreição não acontece somente após a morte corporal. No momento presente a pessoa pode ressuscitar. Como? Aí vem um “Eu sou”, dos sete que Jesus pronunciou (1. “Eu sou o pão da vida” (6,35); 2. “Eu sou a luz do mundo” (8,12; 9,5); 3. “Eu sou a porta” (10,7,9); 4. “Eu sou o bom pastor” ; 10,11);); 6. “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida” (14,6); 6. “Eu sou a videira verdadeira” (15,1); 7. “Eu sou a ressurreição e a vida” (11,25.).
“Eu sou” reporta-nos ao livro do Êxodo (3,11-15), quando o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó diz o seu nome a Moisés, que lhe perguntava. “Eu sou aquele que sou”, respondeu Javé. O verbo ser não indica unicamente a definição de uma essência divina. Indica também um Deus que age a favor do seu povo. De fato, mostrou- -se um Deus compassivo, libertador, companheiro do seu povo escolhido.
No diálogo com Marta, o Senhor utiliza esta expressão na surpreendente afirmação: “Eu sou a ressurreição e a vida”. E recebe a adesão firme daquela mulher: “Eu acredito!” Pedro já havia feito a mesma profissão de fé em Mt 16,16. Vinda da boca e do coração de uma mulher, este “eu creio” adquire muito mais conotação de sentimento, emoção.
Cremos nós também que ressuscitaremos não só após a nossa morte biológica. Ressuscitamos agora, em cada momento da nossa existência quando rompemos o túmulo de nossas mortes, isto é, do egoísmo, do ódio, da ganância, da vingança, do ciúme, de toda maldade, enfim, e aderimos à proposta do amor, da solidariedade, da fraternidade e da esperança. O apóstolo Paulo diz: “Quem está em Cristo é uma nova criatura” (2Cor 5,17).
Mais ainda: como “nova criatura” em Cristo, a pessoa torna-se colaborador de Deus na ressurreição do mundo, da criação, da sociedade. Com Cristo, ela se tornou novo Adão, do qual nasce a nova humanidade, plenificada pela graça e pelo amor de Deus, Criador e Pai.
Irmão, amigo, concluímos, então, que devemos viver, não como mulheres e homens mortos pelo pecado, pelo distanciamento do projeto amoroso de Deus, pela adesão ao mal, às propostas de Satanás! Vivamos, sim, já, agora, como ressuscitados em Cristo, coerentes com nosso batismo, vivos verdadeiramente, fazendo o bem, na caridade, inclusive na perspectiva da fraternidade universal, como viveu e ensinou Francisco de Assis, já lá, no século XIII.
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Padre Raul Kestring
coordenador da Pastoral da Comunicação
Via Jornal da Diocese de Blumenau