Mais uma vez aqui estamos para dar continuidade a nossa caminhada. Os 12 Passos da Sobriedade nos trazem a promessa de trabalharmos as nossas falhas, os nossos vícios e pecados. Fazer essa caminhada significa dar um grande passo em nossa vida, porque este é um processo de Vida Nova. Bem sabemos quanto esse investimento requer de nós, pois a cada semana vamos mexendo na nossa estrutura, vamos reavaliando as nossas atitudes, e vamos readequando a nossa maneira de ser e pensar. O esforço desempenhado é intenso e algumas vezes doloroso na medida em que vamos redescobrindo novas verdades em nossa caminhada. Por esta razão, percebemos que ou levamos este acompanhamento a sério ou estamos participando em vão.
Deixamos claro que aqui ninguém fica na metade do caminho. Vivenciamos os doze passos e quantas vezes doze forem necessárias até que possamos dar frutos. Para isso temos 5 opções de Leitura para cada Passo. São num total 60 reflexões até que se possa chegar até a primeira novamente. Temos 60 trechos da Bíblia para nos guiar e cada um deles nos remete a uma nova oportunidade de crescimento. Toda essa informação nos leva a entender sobre a problemática das drogas que afeta a nossa vida através de parentes, amigos e companheiros de trabalho ou de nós mesmos.
A Pastoral da Sobriedade defende a hipótese de tratamento pelo acompanhamento e reflexão dos doze passos. Temos exemplos de pessoas que se livraram de seus vícios apenas com o grupo de auto-ajuda. Outro dia me perguntaram: Qual o tratamento mais eficaz? É eficiente aquele tratamento em que a pessoa consegue largar seu vício. Não importa o tipo de tratamento, mas aderir à forma que cada local ou instituição trate dessa especialidade. Contudo, o tratamento que nos coloca a oportunidade de resgatar a nossa espiritualidade, ele trabalha também as nossas fraquezas e como podemos vencê-las.
Reconhecemos que o abuso de drogas e até as condições viciantes adquiridas por jogos, por comidas, e outras coisas mais, se retratam pela consequência de algum desajuste ou desestrutura em que a pessoa não consegue se equilibrar emocionalmente. Ou seja, a dependência se instaura não como uma causa, mas como consequência de algum fator de irregularidade no contexto do indivíduo. Portanto, além de banir a droga da vida de uma pessoa, é preciso que se verifique o que o levou a repetir, a abusar da substancia. Um bom tratamento mantém a pessoa longe do vício. Às vezes é necessário despender muito tempo, muito investimento, porque a questão de sofrimento que está associada é muito agravada, ou a pessoa não tem suporte emocional suficiente para dar conta num período curto. Em muitas situações a própria dependência tende a desencadear outras doenças mentais que agravam ainda mais o quadro do dependente. Todavia, um tratamento associado ao suporte espiritual traz um conforto maior para o usuário e para a sua família.
Esse projeto de vida oferecido pela Pastoral da Sobriedade mostra o quanto para traz a religiosidade e toda a prática de evangelização. Isso não quer dizer que dentro da nossa Igreja não tenhamos famílias que vivem esse flagelo, mas assegura que quanto mais limite, quanto mais valor moral, mais existe a probabilidade do indivíduo temer, recear ultrapassar as leis, romper com as regras impostas pela sociedade, proveniente de uma densa educação familiar, pautada na hierarquia, no respeito e na responsabilidade. Esses pressupostos nos oferecem uma média dos acontecimentos, apresentando-nos o que é mais provável.
Essa ideia nos leva a trabalhar bastante em cima também dos familiares, que por sua vez, por alguma razão não conseguiu fazer a sua parte. O processo não foca na crítica, mas na reeducação religiosa, na adaptação familiar, no reconhecimento do compromisso de pais para com filhos, companheiro para com esposas, e vice-versa. No primeiro momento convidamos a olhar para nós mesmos e pedimos que se faça uma avaliação da própria vida, procurando enxergar o deslize de cada um. E apresentamos o mais importante dos passos, o Admitir, porque é ele quem vai romper com toda a parte que não se mexia.
A seguir, caminhamos pelo passo Confiar, que nos convida a fazer uma aproximação mais fiel a Deus, e no passo Entregar, ter condições de oferecer aquilo que nós somos na íntegra, pois não adianta bancar o exemplar dentro deste grupo. Somos todos resultados de falhas e faltas para conosco e para nossos irmãos. Um passo mais à frente, nos deparamos com o Arrepender-se, que vem trabalhar a nossa remissão. O passo Confessar pode ser comparado ao buraco da agulha que nos parece difícil de passar, mas aos olhos de Deus até um camelo faz essa passagem. Dando continuidade segue-se com o passo Renascer, que nos restaura, que nos alivia, onde a gente se compreende com uma força maior.
Essa força vai favorecer as nossas atitudes no passo Reparar, que requer o esforço da ação, que nos leva ao irmão, e reconhecendo os nossos erros, podemos resgatar a nossa dignidade. Quando agimos assim, estamos prontos para vivenciar o passo Professar a Fé com mais firmeza, reconhecendo o valor dessa caminhada. Mas ainda temos que trabalhar e muito a nossa humildade, pois costumamos dar garantias sobre aquilo que ainda não sabemos e algo do qual não temos nenhuma certeza é sobre o futuro.
Portanto, este é o momento de aprendermos com o passo Orar e Vigiar, que orienta cuidadosamente a nossa consciência para os desafios que estão por vir. O vigilante está atento para as coisas que podem acontecer, não descarta as más possibilidades. Aquele que é vigilante consegue perceber as situações e coloca um ponto de interrogação diante delas. Não vive com desconfiança porque o seu papel não é de julgar, mas questiona até onde as coisas podem ser favoráveis ou não. A pessoa vigilante pode até ser comparada como alguém negativo, que só pensa em coisas ruins de tanto que cuida,mas não é essa a compreensão que devemos ter. Porém, o vigilante não pode abandonar a oração, porque precisa fazer do otimismo uma referência.
Na atualidade lidamos com muitas gentes que vivem com exagero as suas descrenças ou multi-crenças. Porque acontece assim: ou não se acredita em nada ou se acredita em muitas coisas que são contraditórias, tudo de uma só vez. Então essas pessoas se tornam pessimistas ou otimistas demais, acreditam que estão sempre certas e dão opiniões que encorajam ou desestimulam conforme o seu modo de pensar e acham-se sábios, e principalmente, não buscam se orientar pelos ensinamentos de Deus. Não avaliam sobre si próprios e não se deixam ser instrumentos do Senhor. Existe uma teimosia sobre as ideias que cegam os anúncios do Pai.
Não estamos aqui para ser adivinhadores e sabemos o quanto é difícil ter essa percepção das situações que podem surgir. Todavia, preocupar-se significa se ocupar antes da hora com aquilo que não é nosso. Os avisos corretos devem vir da intimidade com Jesus e devem servir primeiramente a nós mesmos. A nossa resposta a tudo isso deve se apresentar como mensagem para os outros por meio dos nossos atos e não apenas dos nossos discursos. Um coração que se expressa rápido é um dos maiores tropeços para a santidade da boca, da expressão e da língua e é o principal obstáculo para uma pessoa comedida e atenta.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau