Chegamos ao 7º passo da nossa caminhada de Vida Nova e pensando na Sobriedade como um percurso que estamos fazendo em nossa vida, uma nova trilha que estabelecemos como propósito de recuperação nossa e da nossa família, estamos aqui dispostos a entender quais os mecanismos que podemos nos valer para que esta prática tenha bons resultados. O processo de amadurecimento é longo, mas é para toda a vida. Portanto, uma das coisas que devemos estar atentos, é que se fazemos um investimento de melhoria de um relacionamento, precisamos ser cautelosos nesse fazer, para que as nossas atitudes se deem com clareza, com sensatez e assertividade.
O mundo hoje sofre do mal da pressa. Queremos resultados cada vez mais rápidos. Não é só o preço das coisas que estão ela hora da morte, como diz o ditado, a ansiedade também. Nosso estômago que o diga, com tanta acidez que libera, devido à manifestação dessa ansiedade. Nesta questão, a primeira que coisa que devemos fazer é trabalhar a forma como vamos vivenciar esta caminhada. Primeiro devemos buscar com segurança o que realmente queremos. Não adianta nos jogarmos desesperadamente no intuito de obtermos resultados a qualquer custo. Até porque, sendo esta uma caminhada de 12 passos, o tempo é o nosso maior aliado.
Então vamos lá. Antes de tudo é importante avaliar o que nos trouxe até aqui. Como a Pastoral da Sobriedade surgiu em nossa história? O que nos chamou a atenção? Por que essa experiência pode trazer resultados para a nossa vida? A partir dessa avaliação, vamos tomando consciência de que nós estamos procurando encontrar soluções que possam de uma vez por todas acabar com o sofrimento causado dentro de nosso lar, o qual não nos demos conta como começou, mas sabemos que já se transformou num caos, trazendo discórdia e desunião
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Só o fato de chegar até aqui, significa dizer que o que sabemos e o que temos não foi suficiente para reverter o problema, e que sozinho tudo fica mais difícil, como se tivesse suportando uma forma maior que a nossa capacidade, razão pela qual precisamos de tempo para vivenciar todos os passos que somos convidados a fazer. E segue-se o primeiro deles que começa a tocar nas nossas questões pessoais. É comum no Passo Admitir se enfrentar certa resistência. É doloroso reconhecermos que temos a ver com todas as coisas que acontecem ao nosso redor, direta ou indiretamente, senão por ter feito, pelo menos por ter deixado de fazer.
Há quem se pergunte: O que é que eu estou fazendo aqui? Mas sempre travando com estas pessoas o investimento de que devemos insistir, que devemos tomar a iniciativa, vamos auxiliando e sendo auxiliados pela experiência do segundo Passo Confiar. Cada um deles possui uma meta e nem sempre estamos suscetíveis a passar por esta transição. Às vezes por incompreensão, às vezes por não estar completamente propenso a viver aquilo naquele momento, mas o mais importante é se deixar envolver pela caminhada, pois ao longo dela vamos apreendendo aquilo que temos condições de enxergar e absorver.
É com a parte compreendida que vamos trazer novas mudanças pra nossa vida e consequentemente para a vida daqueles que estão ao nosso lado. O terceiro Passo Entregar vem propor que baixemos a resistência. Ainda estamos tentando dominar a situação, ainda queremos que as coisas aconteçam do nosso jeito. Ainda não nos demos conta de que o nosso jeito contribuiu para que as coisas chegassem a este ponto dentro do nosso coração. As marcas deixadas por estas passagens são fortes, mas procuramos nos apropriar o mínimo possível por falta de firmeza.
E sabe por quê? Porque cada passo nos leva a um enfrentamento diferente e cada vez mais comprometido com a nossa conversão, como por exemplo, o Passo Arrepender-se, que começa a remover alguns sentimentos de certeza que estavam incrustados dentro de nós. Entre eles estão a rejeição, o preconceito, os julgamentos, a mágoa, os pensamentos mesquinhos e egoístas, enfim, sentimentos os quais nunca estão isolados. Nesse momento sentimos que algo em nós está diferente. Há uma leve confusão entre aquilo que a gente faz e aquilo que a gente sente. Onde começou esta mudança? A única coisa que sabemos é que esse reboliço nos deixou inquietos, pois ao der-se conta dos erros, parece-nos que não podemos parar por aí.
Somos convidados a agir com o Passo Confessar, que rompe com o silêncio do nosso coração, que denuncia por nossa própria boca as nossas fraquezas, que faz de nós um restaurador de atitudes concretas, que nos mobiliza a enfrentar as nossas mazelas e se prostrar humildemente diante do Pai; e não só reconhecer as nossas falhas, mas capturá-las e não mais torná-las a repetir. Estamos experimentando um processo completamente inverso ao que fazíamos antes, por que recorríamos apenas às soluções externas, quando sua eficácia está em restabelecer a nossa interioridade.
Esta reconstrução não se dá de uma só vez, ou em tempo muito curto. A renovação vai se constituindo aos poucos, pela forma como vamos compor o nosso dia-a-dia, a partir das práticas, das falas, das direções que tomarmos, da maneira como passarmos a nos relacionar, envolvendo o novo sentido que estamos dando a nossa vida. Pelo Passo Renascer vamos ressignificando e aprendendo cada vez mais o que nos fez vir até aqui, o que queremos de nós mesmos e o que precisamos fazer. Somos pessoas que podem tomar as rédeas da nossa vida. Não devemos nos deixar levar pelo turbilhão dos acontecimentos, como se fôssemos algo que está ali para que as coisas se sucedam simplesmente, e que fiquemos como expectadores. Estamos renascendo para uma nova fase, a fase do eu consigo por que Deus é em mim.
E com essa estrutura, refletimos sobre o Passo Reparar, que contempla avaliar os danos materiais, psicológicos e de saúde, que causamos a nós e aos outros, em função de ações e palavras incoerentes. Se tivemos uma postura desonesta, se abalamos os pilares que sustentam a nossa família, se desmoronamos as esperanças de sucesso profissional, se destruímos relações de amizades, se promovemos mal estar dentro do ambiente de trabalho, se traímos as nossas próprias convicções espirituais, se fomos desleais com o Pai, se deixamos de resgatar quem precisava por desinteresse, se alimentamos o sofrimento de alguém, se desvalorizamos as práticas religiosas, se deixamo-nos cair pelo caminho, este é o momento de reparar.
Mas, por onde começar? Primeiro devemos começar quantas vezes for necessária, para que o exercício nos chame à consciência a perceber a diferença entre construção e destruição. Em nome de uma suposta felicidade ou suposto prazer, asfixiamos as palavras cálidas e ignoramos sentimentos sutis, porque sentimos necessidade de atender a um modismo ou de acolher comportamentos rebeldes, radiais, que confinam a nossa beleza interior a um lugar distante e sem acesso lá dentro de nós.
Também agimos sem pensar quando queremos nos livrar de sofrimentos que nos incomodam ou que nos inquietam. Tratamos então de varrer desatentamente qualquer coisa ou rejeitar pessoas que ocasionem esses conflitos, que não permitem que as coisas se deem como a gente quer. No tornamos práticos, ágeis, famintos, sedentos de sucesso, sempre validando a quantidade, não importando o preço pago pra isso. Essa prática provém de um modo de ser muito mesquinho e desonesto conosco primeiramente, pois esse processo de destruição inicia-se em nós e estende-se aos demais, mas quando chega a isso já estamos contaminados.
Então será necessário que tomemos atitudes que remontem esse nosso equilíbio. O Passo Reparar pressupõe escolher ações contrárias às que vínhamos tomando. Pressupõe regatar a nossa dignidade, através de atitudes que removam o que provocamos. E se os erros que cometemos já não têm volta? Então fica o convite à oração porque Deus se fará presente, mostrando pela avaliação de nossa consciência outra forma de reparação. Ele mostrará a melhor forma de compensarmos nossas falhas. Um caminho sempre estará preparado para nós.
Texto: Malena andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau
Imagem: Pe. Raul Kestring