Hoje chegamos a mais um final de ciclo. Completaram-se os 12 passos e com ele uma caminhada intensa, com muitas propostas de mudança. Podemos fazer uma recapitulação sobre o nosso desempenho neste ciclo. Podemos agora avaliar como foi para nós esta caminhada de três meses, este desafio que sempre nos convidou a olhar para nós mesmos e perceber o que havia de errado em nós, o que precisava ser mudado.
Já no primeiro passo admitimos nossas falhas, nossos vícios, nossos erros repetidos e nos comprometemos em fazer diferente. No segundo passo procuramos confiar mais intensamente nas promessas do Pai e no terceiro passo entregamos toda a nossa vida, para que o fardo se tornasse mais leve. No quarto passo, convictos das nossas faltas, nos arrependemos e no quinto passo confessamos as nossas culpas para enfim, no sexto passo, sentirmo-nos renascidos novamente. E preenchidos da leveza e do perdão de Deus, buscamos no sétimo passo reparar as nossas faltas com os nossos irmãos.
No oitavo passo professamos a fé, sendo um anunciador do milagre da conversão diária que acontece em nossa vida. Todavia, foi preciso aprender com o nono passo a orar e vigiar para não dar oportunidades à repetição dos nossos vícios e falhas. No décimo passo tomamos o exemplo de Maria, Mãe do Senhor, e seguimos servindo aos propósitos do amor. No décimo primeiro passo partilhamos a ceia do Senhor celebrando a santa missa, junto a Ele, em Sua mesa. E por último, com o décimo segundo passo, vamos festejar toda essa vivência e nos dar conta de que experimentamos uma transformação. Hoje somos constituídos de novas perspectivas, de novas esperanças, de anseios nos quais podemos atuar com mais segurança.
Para que se festeje é preciso ter um motivo que nos dê alegria e vontade de comemorar com mais alguém, para que deixemos na memória de todos aqueles que partilham dessa festa a importância deste momento de felicidade. Neste ciclo dos 12 passos elaboramos um projeto de vida, uma caminhada. Mas será que temos o que comemorar? Qual foi o resultado que obtivemos desse percurso?
É fato que enquanto grupo, trabalhamos bastante a nossa espiritualidade. Fomos convidados a rezar mais, a fazer uma entrega completa, a pedir perdão e a perdoar, a louvar, a servir… Mas como será que nos saímos individualmente dessa experiência? Desde o primeiro passo somos chamados a nos perceber, a rever nossas atitudes e reconhecer que a mudança deve partir primeiramente de nós. Então, esse processo de mudança começa a requerer muito de nossas atitudes. O desafio que nos colocamos é algo que ainda não tínhamos parado para refletir e eis que o convite à conversão começa já ali, no primeiro passo. Claro que é sempre mais fácil ver o outro mudar, porque entendemos que é a partir dele que começam os problemas. Porém as chances de solução estão em nós. E quando aceitamos esta condição, logo vem mais um passo que exige que tomemos a iniciativa.
No passo confessar temos que quebrar mais uma algema, pois nossa educação atual pouco demonstra interesse pela adesão às práticas religiosas. Muitos usam frases até repetitivas porque não tem um pensar próprio a respeito da confissão. Qualquer coisa para não ter que abrir a boca e colocar os próprios erros a terceiros. Então vale falar dos erros dos outros, de modismos ou de conceitos ultrapassados, de ligação íntima com Deus, qualquer coisa que detenha esse nosso falar, esse nosso agir, principalmente se o arrependimento é passageiro, principalmente se ainda alimentamos a intenção de cometer os mesmos erros novamente.
A oração e a vigília é um passo que, acontecendo, deve ser exercício constante, visto que tomamos conhecimento que a oração detém um poder de conversão muito grande. Mas ainda somos mal acostumados a solicitar apenas quando precisamos. Por esta razão, vamos dando lugar ao descaso e falta de zelo com nós mesmos. Se não tomamos banho, ficamos sujos. Se não rezamos, ficamos empobrecidos de fé e o nosso coração fica obscuro. É a oração que nos aproxima de Deus, que aprimora a nossa fé, que converte o nosso coração, que nos torna instrumentos das vontades do Senhor.
Mesmo que essa caminhada tenha trazido poucas mudanças, ainda assim devemos festejar, pois nos permitimos abrir para uma nova fase da nossa vida. Quando estamos preparando uma festa, pensamos numa decoração alegre, numa roupa especial, em uma música agradável, enfim, reservamos um tempo para organizar e receber os convidados especiais. Sendo este o último passo, podemos dizer que desde o primeiro vivemos na verdade uma preparação para ter conosco Alguém muito importante em nossa vida.
Limpamos a nossa casa interior expurgando os vícios e pecados. Organizamos o que deveria ser mantido e qual a melhor forma de manter. Convidamos pessoas queridas a retornar ao nosso coração e suplicamos o seu perdão quando necessário. Decoramos com cantos de louvor, com preces, confiantes de que tudo daria certo. Vestidos com uma roupagem nova nos prontificamos a receber esse Amigo tão especial. Mas qual é nossa surpresa ao aparecer alguém completamente estranho, sujo, mal cheiroso e descalço, pedindo para adentrar neste ambiente tão especial que preparamos. Se duvidar, ainda está sob efeito de alguma droga.
Quantas surpresas Deus nos oferece. Temos muito ainda o que aprender e é imprescindível que estejamos abertos a estes ensinamentos. Se queremos ser moldados pela sabedoria do Pai é preciso que nos deixemos amolecer os sentimentos e os pensamentos. Deixarmo-nos convergir pelo caminho da Verdade, que enxerga a beleza e a pureza, não só pelo externo, não só pela estética, mas pela soma de tudo que agregamos, pois de alguma forma expomos o que temos dentro do nosso coração. As nossas ações confirmam o que se passa pelo nosso interior. Façamos hoje uma festa alegre e convidemos Aquele estranho a fazer parte da nossa vida. Sejamos nós seus convidados especiais.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau