Em uma sociedade violenta como essa em que vivemos, é difícil abordar um assunto como o do perdão. Como é possível perdoar a quem destruiu uma família, a quem cometeu crimes bárbaros ou a quem, mais simplesmente, atingiu nossa honra em questões pessoais, arruinando a nossa carreira, traindo a nossa confiança?
A primeira reação instintiva é a vingança, é pagar o mal com o mal, desencadeando uma espiral de ódio e agressividade que torna a sociedade cada vez mais violenta. Ou então, é cortar todo tipo de relacionamento, guardar rancor e aversão, numa atitude que deixa a vida amargurada e as relações envenenadas.
A Palavra de Deus irrompe com força nas mais variadas situações de conflito e propõe, sem meios termos, a solução mais difícil e corajosa: perdoar.
Desta vez, quem nos faz chegar esse convite é um sábio do antigo povo de Israel, Ben Sirac. Ele mostra como é absurdo uma pessoa dirigir a Deus um pedido de perdão, quando ela mesma não sabe perdoar. Num antigo texto da tradição hebraica lemos: “A quem é que [Deus] perdoa os pecados? Àquele que, por sua vez, sabe perdoar”1. Foi isso que o próprio Jesus nos ensinou, na oração que dirigimos ao Pai: “Pai… perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”2.
Também nós erramos, e cada vez que isso ocorre gostaríamos de ser perdoados! Suplicamos e esperamos que nos deem uma nova chance de recomeçar, que nos considerem ainda dignos de confiança. Se isso acontece conosco, será que também não acontece com os outros? Não devemos amar o próximo como a nós mesmos?
Chiara Lubich, que continua inspirando a nossa compreensão da Palavra, comenta assim o convite ao perdão: Perdoar “não é esquecer, o que muitas vezes significa não querer olhar de frente a realidade. Perdoar não é mostrar fraqueza, ou seja, fechar os olhos diante de uma atitude injusta, com medo do outro que a cometeu, por ser ele mais forte. O perdão não consiste em considerar sem importância aquilo que é grave, ou dizer que é bom aquilo que é mau. O perdão não é indiferença. O perdão é um ato de vontade e de lucidez, portanto de liberdade, que consiste em acolher o irmão tal como ele é, apesar do mal que praticou contra nós, do mesmo modo que Deus acolhe a nós, pecadores, apesar dos nossos defeitos. O perdão consiste em não responder à ofensa com ofensa, mas em fazer aquilo que diz Paulo: ‘Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal pelo bem’3.
O perdão consiste em abrir, a quem comete uma injustiça contra você, a possibilidade de um novo relacionamento; portanto, a possibilidade, para ele e para você, de recomeçar a vida, de ter um futuro em que o mal não tenha a última palavra”.
A Palavra de Vida nos ajudará a resistir à tentação de responder na mesma altura, de pagar o mal com o mal. Ela nos ajudará a ver com olhos novos aquele que tem inimizade contra nós, reconhecendo nele um irmão, ainda que mau, um irmão que precisa de alguém que o ame e o ajude a mudar. Será essa a nossa “vingança de amor”.
“Vocês dirão: ‘Mas isso é difícil’” – continua Chiara no seu comentário –. “É lógico. Mas essa é a beleza do cristianismo. Não por acaso você é discípulo de um Deus que, morrendo na cruz, pediu a seu Pai o perdão para aqueles que o tinham levado à morte. Coragem! Comece uma vida dessa qualidade. Asseguro que encontrará uma paz nunca antes experimentada e muita alegria, ainda desconhecida”4.
Fabio Ciardi
1 Cf. Talmude babilônico, Megillah 28a.
2 Cf. Mt 6,12.
3 Rm 12,21.
4 Cf. Costruire sulla roccia, Roma : Città Nuova, 1983, p. 46-58.