“Criatura nova” é quem está em Cristo e vive dEle. Assim inicia-se esta reflexão. Aqueles que acompanham estas leituras desde o início do ciclo, que estão fazendo parte dessa caminhada, e aos que hoje experimentam essa vivência, são convidados a estar em Cristo e viver dEle. Estamos numa nova realidade, pois a criatura velha, que fomos um dia, vive só, de si mesmo. O homem novo recebe de Cristo o verdadeiro amor. Este amor O impeliu a morrer por nós para que n’Ele não mais vivêssemos para nós mesmos. É a presença de Cristo em nossa vida que nos leva a vencer a escuridão e ir à busca de luz. É a essência de Cristo em nosso pensar que nos aproxima da serenidade e nos deixa calmos nas turbulências e nas aflições. É a paixão pelo Cristo, expressa em nossas palavras, que afasta a dependência dos nossos vícios e pecados, e nos dá condições de dizermos não às drogas e aos erros. É a perseverança em Cristo que nos leva a prosseguir na caminhada para a conversão.
Se fomos velhos, agora somos pessoas renovadas, que vivem o presente e acolhem um novo projeto. O nosso presente é feito por uma caminhada de sobriedade que lutamos em manter dia-a-dia, sempre buscando um futuro pautado no enfrentamento das dificuldades, criando uma aliança com Deus através do amor que Cristo anunciou. E Paulo nos chama a atenção para que possamos entender a respeito desse mistério. A partir do momento que resolvemos fazer uma mudança em nossa vida, abrimos espaço para nossa reconciliação com Deus. Uma nova esperança surgiu. Podemos ser resgatados, podemos ser uma criatura nova, podemos trilhar outro caminho, podemos fazer novas opções.
Já não somos os mesmos, pois tivemos que enfrentar muitas barreiras para admitir que falhamos diante de tantos sonhos que planejamos para nós e para nossa família. Fizemos muitas escolhas erradas e em certo momento de nossa vida, entendemos que se não mudássemos, esta situação se tornaria ainda pior. Às vezes é necessário fazer um corte profundo para tirar as impurezas que se escondem por baixo da pele. Assim também acontece ao nosso coração. Muitos hábitos foram se acomodando em nossa vida, de forma que a maneira inconveniente como vivemos ou a maneira como tratamos outras pessoas, ou ainda como tratamos a nós mesmos, vai-se nos parecendo normal e vai nos tornando adoradores de futilidades, repetidores de superstições, imitadores do consumismo, facilitadores de contravenções, propagadores de pequenos abusos, e a gente ainda julga que só o outro é que cai nessa.
Mas quantas vezes já não desejamos e até já obtivemos um acessório para ir a uma festa, que chega a custar a cesta básica que alimentaria uma família inteira em um mês? Ou quantas vezes acreditamos que estamos vivendo assim por que fomos ruins na encarnação passada? Quantas vezes saímos a comprar coisas desnecessárias para aliviar a tensão? No trabalho, já levamos para casa aquele brinde que a empresa ganhou em quantidade e que não vai fazer diferença se levamos um? Já não rimos de alguém por estar “jeca” ao invés de tentar orientá-lo para ficar mais bem adequado? Essas pequenas atitudes fazem de nós pessoas descomprometidas com a educação e com a formação moral. Uma pequena porção de veneno mata tanto quanto uma grande porção.
Se conseguimos com o 1º passo, admitir que falhamos e que não desejamos mais repetir os mesmos erros, então nossa vida ganhou um marco, um ponto de partida, onde o amor de Cristo, agora presente, nos renova através dessa afirmação. E cheios de esperança, vamos sustentando com ânimo as dificuldades que se nos apresentam. Mas as provações são constantes e justamente são as pequenas coisas nos levam a recair em pecado, pois estávamos muito acostumados a lidar com essas atitudes tão despercebidas até outrora. Repito, até outrora. Hoje, essa aliança faz com que a gente se dê conta desses erros com maior percepção. E se em algum momento nos sentimos persuadidos pelas ações anteriores é por que nos deixamos fragilizar. Ainda não estamos firmes nessa reconciliação.
É preciso aprender com o 2º passo, a confiar nessa nossa relação com Deus. Não conseguiremos mudar sozinhos. Não somos fortes o bastante para pensar que podemos caminhar segundo o nosso julgo. As coisas da vida sempre nos porão à prova. As coisas que nós mesmos criamos. A nossa confiança em Deus tem que ser permanente e da boca pra dentro. Se não houver fidelidade, não haverá base para confiar. Este movimento interior permitirá que alcancemos mais segurança diante dos problemas e mais firmeza com relação à nossa caminhada. Se Cristo é presente em nós, é visível e inegável a nossa mudança. Tudo se faz novo: os afetos, os desejos, as idéias e também a forma de concebê-las.
E como todo plano de salvação e resgate da nossa história é centrado em Deus, o 3º passo, da entrega, reforçará esse laço e se encarregará de suportar nossas dores, quando ainda apegados à resolução do “eu quero dessa forma”. Mas eis que o Senhor Deus nos apresentou o Seu Filho, que por sua vez nos confiou o “ministério da reconciliação”. Ora, se Ele nos chama a trabalharmos a reconciliação com o mundo, é preciso que haja uma entrega plena de todas as nossas atitudes, de todas as nossas angústias, dos nossos medos mais íntimos. Se vamos encorajar outras pessoas a fazer aliança com Deus, também nós temos que fazer dessa entrega uma oportunidade que Deus nos dá para que alcancemos a nossa salvação.
E se nesse investimento falhamos em algum momento, se na hora em que éramos mais necessários no exercício cristão, nos tornamos omissos, abdicamos da responsabilidade, e nos voltamos ao nosso jeitinho pequeno de ser, se viramos o rosto para não ver que o outro espera por nós e não queremos nos incomodar com o seu problema, porque o nosso é mais importante, é bom parar por que está na hora de rever a pessoa humana que dizemos ser. O 4º passo, arrepender-se, dá continuidade ao nosso processo de regeneração porque aqui e ali vamos tropeçar e cair. Vamos ficar sujos nessa queda e para que sigamos em caminhada é preciso recompormo-nos, tirar a poeira que nos envolve, remover a sujeira, reativar a cristandade dentro de nós.
Mas para que isso aconteça, teremos que agir perante esse arrependimento. O arrependimento não acontece se apenas lamentarmos e deixarmos por isso mesmo. Ele só se tornará completo quando trabalharmos em seu favor para que ele se dissipe. A incomparável e condescendente misericórdia divina está exibida neste trecho do II Coríntios, onde diferentemente o juiz sempre faz o criminoso pagar a sua sentença, e o cobrador sempre vai cobrar a dívida na íntegra, Deus nos oferece o perdão diante do verdadeiro arrependimento. Como havia falado, o juiz ao fazer o seu julgamento, quando confirmada a culpa, o réu não sairá dalí sem uma pena a pagar, não sairá impune, não sairá livre enquanto não cumprir a sua condenação. Da mesma forma, o cobrador ou as empresas de cobrança. Se estamos devendo, teremos que pagar, de uma maneira ou de outra, eles vão sempre estar verificando o jeito possível para abatermos essa dívida. Na expiação dos nossos pecados, Deus, através do Seu perdão, vai nos redimir completamente dos nossos erros. É diante da confissão, da admissão deste erro, assumindo a falha cometida, que teremos nova oportunidade para corrigirmos o que causamos.
O passo confessar vem nos tornar criaturas novas, nos fazendo abandonar as velhas atitudes. Confessando os nossos erros, entramos em comunhão com Deus. Ele nos dá a possibilidade da reconciliação, pois o Cristo nos confiou este privilégio, de termos nova chance, de reatarmos essa união junto ao Pai. E nesse exercício, seremos multiplicadores na construção do Seu Reino. O senhor nos escolhe para sermos embaixadores de Cristo e que também façamos o convite à reconciliação com o Pai através do arrependimento e da confissão, pois um sem o outro é vão. Não existe arrependimento completo sem confissão, tampouco confissão sem verdadeiro arrependimento.
Deus enviou Seu Filho para interceder por nós. “Aquele que nada tinha a ver com o pecado, Deus O fez pecado por causa de nós, a fim de que por meio Dele sejamos reabilitados…” Ele fez uma oferta pelo pecado. Apresentou Aquele que não conhecia o pecado para superar a injustiça, para dar um sentido à nossa vida, para dar-nos mais uma oportunidade de reconciliarmo-nos com Deus, para que possamos entrar no Seu Reino com dignidade, limpos, purificados, gratificados pela sua bondade. Devemos nos aproximar da confissão cada vez que nós necessitarmos de reparações, ainda que sejam pequenas falhas.