Eis-me aqui para fazer a tua vontade"(Hb 10, 9).
Este é um versículo do Salmo 40, que o autor da carta aos Hebreus faz com que o Filho de Deus pronuncie num diálogo com o Pai. O autor quer sublinhar deste modo o amor com que o Filho de Deus se fez homem para cumprir a obra da redenção em obediência à vontade do Pai.
Estas palavras fazem parte de um contexto no qual o autor quer demonstrar a infinita superioridade do sacrifício de Jesus em relaçäo aos sacrifícios da antiga Lei. O que diferencia o sacrifício de Jesus destes últimos, onde eram oferecidos a Deus os animais como vítimas ou, em última análise, coisas não relativas à interioridade do homem, é que Jesus, impulsionado por um amor imenso, durante a sua vida terrena ofereceu ao Pai a própria vontade, todo o seu ser.“Eis-me aqui para fazer a tua vontade”.
Esta Palavra nos oferece a chave de leitura da vida de Jesus, ajudando-nos a colher o seu aspecto mais profundo e o fio de ouro que liga todas as etapas de sua existência terrena: a sua infância, a sua vida particular, as tentações, as suas escolhas, a sua atividade pública, até a morte na cruz. Em cada momento, em cada situação Jesus visou uma única coisa: fazer a vontade do Pai; e a cumpriu de modo radical, não movendo um dedo fora dela e repelindo até as propostas mais sugestivas que não estivessem em pleno acordo com aquela vontade.
“Eis-me aqui para fazer a tua vontade”.
Esta Palavra nos faz compreender a grande lição que Jesus com toda a sua vida nos quer dar. Isto é, que a coisa mais importante é fazer não a nossa, mas a vontade do Pai; tornarmo-nos capazes de dizer não a nós mesmos para dizer sim a Deus.
O verdadeiro amor a Deus não consiste em belas palavras, ideias e sentimentos, mas na obediência efetiva aos seus mandamentos. O sacrifício de louvor que ele espera de nós é que lhe ofertemos tudo o que temos de mais íntimo, o que é radicalmente nosso: a nossa vontade.
“Eis-me aqui para fazer a tua vontade”.
Como viveremos então a Palavra de vida deste mês? Também esta é uma das palavras que ressalta explicitamente o aspecto do Evangelho que vai contra a corrente, porque combate uma tendência profundamente enraizada em nós: satisfazer a nossa vontade, seguir os nossos instintos, os nossos sentimentos.
Esta Palavra é também uma das que mais se choca com o homem moderno. Vivemos na época da exaltação do eu, da autonomia da pessoa, da liberdade como fim a si mesma, da auto-satisfação como realização do indivíduo, do prazer considerado como o critério das próprias opções e o segredo da felicidade. Mas conhecemos também a que consequências desastrosas esta cultura nos conduz.
Pois bem, esta cultura fundada na satisfação da própria vontade encontra a oposição daquela de Jesus totalmente orientada ao cumprimento da vontade de Deus, com os efeitos maravilhosos que ele nos garante.
Procuremos então viver a Palavra deste mês, escolhendo também nós a vontade do Pai e fazendo dela, como Jesus fez, a norma e a motivação de toda a nossa vida.
Assim vamos nos aventurar numa divina aventura que nos encherá de gratidão a Deus. Graças a ela nos faremos santos e irradiaremos o amor de Deus em muitos corações.
Chiara Lubich