A leitura de Dt 30,15-20 convida-nos a fazer opções. A escolher um caminho. Você quer viver ou morrer?
Temos diante de nós A VIDA COM O BEM E A COM O MAL. Deus aponta-nos a liberdade e nos chama a atenção para as conseqüências de nossas escolhas.
Se escolhes viver, isso exige também sacrifício pessoal, compromisso com esse querer. Cada um dos caminhos terá direções opostas e resultados diferentes: o caminho da vida nos parecerá estreito, difícil, muitas vezes desanimador. O caminho da morte a princípio parecerá largo, cheio de atrativos e de fácil caminhada. Admitir é escolher a vida. Por outro lado, Ele convida-nos a ser obedientes, seguir suas leis, ir em direção do caminho da retidão, para que possamos ser abençoados com vida em abundância.
E alerta: Se o nosso coração se afastar, e passarmos a adorar coisas, e vivermos em função de algo que nos provoca malefícios, sofreremos também as consequências. Deus nos fala que se fizermos esta opção, nossos dias não serão prolongados. Mais ainda, ele coloca o céu e a terra por testemunha, pois quando atentamos contra nossa própria vida, estamos pecando contra Deus que está nos céus e contra a humanidade, pois estamos nos matando, e o pior, estamos nos utilizando de outras pessoas para fazer isso.
E neste momento paro para pensar sobre o que realmente queremos da nossa vida. Será que queremos alcançar os nossos filhos adultos, nossos netos? Queremos conhecê-los ou ser mais um ser que vagou por aqui sem deixar alegrias, amores e saudades, sem deixar ensinamentos?
Deus nos chama a atenção a nos perguntarmos: por que estamos fazendo estas escolhas? O que nos leva a escolher o sofrimento, muitas vezes sabendo que é pura ilusão? E nesse processo não podemos mais nos esconder atrás das nossas desculpas. Somos hoje convidados a responder o que vamos fazer da nossa vida.
É preciso reconhecer por quais caminhos tivemos andado até então e onde este caminho nos trouxe. Se estamos sendo abençoados ou amaldiçoados. Se estamos felizes com essa caminhada ou se é necessário admitir que não fizemos a escolha certa. Mesmo para quem escolhe o projeto de morte, quanto mais perto dela chega, mais acuado fica, com mais medo, porque morrer só pode ser tranqüilo, sereno, se o for na hora de Deus.
Você admite que tem alguma dependência ou co-dependência?
ACABAMOS DE ENCONTRAR A PALAVRA-CHAVE: ADMITIR.
Bem, admitir depende a priori de saber o que é a dependência e a co-dependência. Por dependência entende-se o uso continuado de algo que lhe causa mal e que vai abreviar anos de sua vida. E quanto ao co-dependente, este tem atitudes que confirmam o vício do outro, encorajam consciente ou inconscientemente, chegando a financiar o vício do outro, seja dando dinheiro, ou promovendo o acesso do dependente à droga, ou o não-apoio à sobriedade.
ADMITIR é o primeiro passo, para assumir um compromisso com a vida. Reconhecendo no sofrimento as consequências das atitudes mal tomadas, temos condições de entender que podemos fazer o caminho de volta a partir de novas escolhas, pois Deus ainda hoje nos diz que somos livres. Não basta verbalizar que se escolhe a vida, caminho do bem, se não se aceita o projeto de Deus. E o projeto de Deus para nós é vida e liberdade.
Não somos obrigados a fazer opções para o resto da vida. O caminho apontado por Deus está ao nosso alcance a qualquer momento, basta meditar, mudar o nosso pensamento, refletir, mudar nossa consciência, nosso pensar, nossas ações, nossos projetos, e nos organizarmos para uma prática de libertação.
A vida e a morte, a felicidade e a infelicidade dependem de nós. O que é esse morrer? O morrer está além unicamente da morte do corpo, é não poder escolher, você perde esse poder, nunca mais você decide algo em sua vida, se torna um fantoche no mundo dos humanos. É isso que você procura? Creio que não, essa impossibilidade é uma triste condição! Cada pessoa tem condições de fazer escolhas, de abrir e fechar portas, de começar e acabar com o sofrimento. Dizer sim à vida é prolongar os dias na terra. A vida em Deus produz libertação. Os vícios, a escravidão.
O apelo de Deus é para que cada um de nós escolha a vida e vida em abundância, não meia-vida. Não podemos adorar duas coisas ao mesmo tempo, sob o risco de estarmos brincando de nos enganar. De alguma forma quando se admite a dependência (doença), têm-se muitos aliados, porque começam a aparecer os anjos, e desaparecem os mal-intencionados. No projeto de morte, aqueles que te acompanham, irão desaparecendo em conseqüência do próprio consumo. Para o projeto de vida tem-se a família, as instituições, o tratamento. Você nunca estará só.
Podemos ainda nos esconder afirmando que não temos vícios, manias, maus hábitos, e que não precisamos mudar em nada. Só quem tem esses problemas é o vizinho, para o qual apontamos o dedo todos os dias. Devemos nos lembrar que enquanto apontamos um dedo em julgamento de uma pessoa, temos três dedos apontando pra nós sem que ninguém perceba, porque sabemos muito bem das nossas faltas.
Então esse é o momento de admitir, de tirar a máscara, de reconhecer e encarar a nossa falta, o nosso defeito, que seguidamente repetimos como um vício; que mesmo sabendo que não deveríamos fazer, ainda assim fazemos, atestando o nosso erro e muitas vezes apontando o do outro para não deixar o nosso evidente. Quando admitimos nossas falhas começa em nós o primeiro passo rumo à conversão.
É preciso muita coragem, é preciso ser humilde, e podemos perceber que aquilo que nos parece impossível já se tornou realidade na vida de muitos irmãos. Admitir é assumir que a gente não é autosuficiente, que a gente não é herói: é uma pessoa com falhas, defeitos, fraquezas, e que precisa de amigos, da família, como ajuda. Será que sou humilde o suficiente? Sou forte para admitir minhas fraquezas?
É preciso ser verdadeiro, e nessa riqueza encontramos o nosso próprio caminho para alcançarmos a sobriedade dos nossos vícios e pecados. Temos de enfrentar sem ter medo de fracassar, pois fracassados já fomos, e hoje estamos erguendo a cabeça para retomar a nossa vida e continuar lutando, pois temos Jesus, o Bem Maior para tomar conta do nosso coração e da nossa vida.
ADMITIR é libertar-se.
Texto: Malena Andrade, Assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau
Imagem: Pe. Raul Kestring