Rádio Vaticano, 25/05/2011 11.54.09
A oração como "luta corpo a corpo" com Deus: tema da catequese do Papa nesta quarta-feira, comentando o texto bíblico da luta de Jacó
O Papa salientou hoje que a oração exige luta, firmeza e humildade, numa relação com Deus sujeita a atravessar períodos de incerteza.
A existência humana é como uma “longa noite de combate e oração, habitada pelo desejo de bênção divina” que, recebida “com humildade” através da “misericórdia” de Deus, dá uma nova identidade à pessoa, afirmou Bento XVI na audiência geral da manhã desta quarta feira realizada na Praça de S. Pedro.
A alocução do Papa, baseou-se no relato do livro bíblico do Gênesis que conta a luta noturna de Jacó com um desconhecido, que ao amanhecer o protagonista viria a reconhecer tratar-se de Deus.
Depois de salientar que a Igreja tomou esta narrativa como “símbolo da oração como combate da fé e vitória da perseverança”, Bento XVI referiu que rezar “exige confiança e intimidade”, tratando-se “quase” de um “corpo-a-corpo simbólico, não com um Deus adversário, mas com o Senhor que abençoa e que permanece misterioso”.
A experiência espiritual pode ser “difícil” mas “transforma e é uma inesgotável fonte de graça”, assinalou o Papa, que deu como exemplo a mudança operada em Jacó, “cujo nome derivava do verbo hebraico que significa ‘enganar’”, e que veio a chamar-se “Israel, que significa ‘Deus é forte, Deus vence’”.
A “noite” do patriarca torna-se para os crentes “um ponto de referência para compreender a relação com Deus que na oração encontra a sua máxima expressão”, frisou Bento XVI.
Dirigindo-se em língua portuguesa aos “queridos peregrinos” de Portugal e do Brasil, Bento XVI agradeceu a sua presença, realçando “quanto a mesma significa de confissão de fé e amor a Deus”, e estimulou-os a procurar na oração o auxílio de Deus “para combater a boa batalha da fé”.
“Queridos irmãos e irmãs,
Hoje gostaria de refletir sobre um texto do Livro de Gênesis: a luta noturna do Patriarca Jacó com Deus. Jacó havia usurpado a primogenitura do seu irmão Esaú e obtivera, por meio de engano, a bênção de seu pai Isaac, indo depois refugiar-se junto do seu tio Labão. Ao voltar para a sua pátria improvisamente é atacado, de noite, por um estranho. Ao cabo de uma fatigosa luta “corpo-a-corpo” com este personagem misterioso, que aos poucos vai revelando a sua natureza divina, Jacó, cujo nome derivava do verbo hebraico que significa “enganar, suplantar”, recebe um novo nome que lhe vem de Deus: passa a se chamar Israel, que significa “Deus é forte, Deus vence”.
A Tradição espiritual da Igreja interpretou esse episódio como um símbolo da oração como combate da fé e da vitória da perseverança. Realmente, a oração exige confiança e intimidade, quase um corpo-a-corpo simbólico, não com um Deus adversário, mas com o Senhor que abençoa e que permanece misterioso. De fato, toda nossa vida é como esta longa noite de luta e de oração: para receber com humildade a bênção que nos transforma e que nos permite reconhecer a face de Deus.
Queridos peregrinos vindos de Portugal e do Brasil, nomeadamente da paróquia de Itú, agradeço a vossa presença e quanto a mesma significa de confissão de fé e amor a Deus. Procurai sempre na oração o auxílio do Senhor para combater a boa batalha da fé. De coração, a todos abençoo. Ide com Deus!”