Essas palavras são dirigidas a mim. O Senhor vem, e devo estar pronto para acolhê-lo. A cada dia eu lhe peço: “Vem, Senhor Jesus”. E Ele responde: “Sim, eu venho em breve” (cf. Ap 22,17.20). Ele está à porta e bate, pede para entrar em casa (cf. Ap 3,20). Não posso deixá-lo fora da minha vida.
O convite a acolher o Senhor que vem é de João Batista. Era dirigido aos judeus de seu tempo. Ele os convidava a confessar os próprios pecados e a converter-se, a mudar de vida. Ele tinha a certeza de que a vinda do Messias era iminente. Será que o povo, que também o esperava havia séculos, o reconheceria, escutaria as suas palavras, haveria de segui-lo? João sabia que, para acolhê-lo, era necessário preparar-se. Daí o convite urgente:
“Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para Ele.”
Essas palavras são dirigidas a mim, porque Jesus continua vindo ao meu encontro todos os dias. Cada dia Ele bate à minha porta. E também para mim, como para os judeus do tempo de João Batista, não é fácil reconhecê-lo. Naquele tempo, contrariando todas as expectativas, Ele se apresentou como um humilde carpinteiro proveniente de Nazaré, um povoado pouco conhecido. Hoje Ele se apresenta no perfil de um migrante, de um desempregado, do patrão, da colega de escola, dos familiares e até mesmo de pessoas nas quais o semblante do Senhor nem sempre se mostra em toda a sua luminosidade; pelo contrário, às vezes parece estar escondido. A sua voz delicada, que convida a perdoar, a oferecer confiança e amizade, a não se conformar com opções contrárias ao Evangelho, é muitas vezes abafada por outras vozes que incitam ao ódio, à prática de tirar vantagem, à corrupção.
Daí a metáfora dos caminhos tortuosos e acidentados, que lembram os obstáculos que se contrapõem à vinda de Deus na nossa vida de cada dia. Não vale a pena enumerar a mesquinhez, o egoísmo, os pecados que se aninham no coração e nos tornam cegos à sua presença e surdos à sua voz. Cada um de nós, se for sincero, sabe quais são as barreiras que lhe impedem o encontro com Jesus, com a sua Palavra, com as pessoas com as quais Ele se identifica. Eis então o convite que a Palavra de Vida dirige hoje exatamente a mim:
“Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para Ele.”
Endireitar aquele julgamento que me leva a condenar o outro, a não falar mais com ele, para chegar a compreendê-lo, a amá-lo, a colocar-me a seu serviço. Endireitar aquele comportamento ambíguo que me faz trair uma amizade, me faz ser violento ou ludibriar as leis civis, para em troca converter-me em alguém disposto a suportar até mesmo uma injustiça para salvar um relacionamento, a ser prejudicado se necessário, para fazer crescer a fraternidade no meu ambiente.
A Palavra que nos é proposta neste mês é dura e forte, mas também libertadora. Ela pode mudar a minha vida, abrir-me ao encontro com Jesus, fazendo com que Ele venha a viver em mim, e que seja Ele em mim a agir e a amar.
Essa Palavra, se vivida, pode fazer ainda muito mais: pode fazer nascer Jesus em meio a nós, na comunidade cristã, na família, nos grupos em que atuamos. João Batista dirigiu-a a todo o povo: e Deus “veio morar entre nós” (Jo 1,14), em meio ao seu povo.
Por isso, ajudando-nos uns aos outros a endireitar as veredas dos nossos relacionamentos, a eliminar todo desacerto que talvez exista entre nós, queremos viver a misericórdia para a qual somos convidados neste ano. Dessa forma nos tornaremos juntos a casa, a família capaz de acolher Deus.
Está chegando o Natal: Jesus encontrará o caminho aberto e poderá permanecer entre nós.
Fabio Ciardi
(Cf. também o comentário à Palavra de Vida de dezembro de 1982)
0
Commenta