Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo
Apresentamos a meditação escrita por Dom Jesús Sanz Montes, OFM, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca e Jaca, sobre o Evangelho deste domingo (Lucas 14,25-33), 23º do Tempo Comum.
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O Evangelho diz que "grandes multidões acompanhavam Jesus". A passagem do Senhor, com seus milagres admiráveis, com seu ensinamento surpreendente, com sua pessoa fascinante, ia arrancando "seguidores", com toda a carga de entusiasmo e também de ambiguidade. Ele criticou a miragem de uma euforia massiva, porque a compreensão da sua Mensagem e a adesão à sua Vida não se medem por êxitos estatísticos, mas pela fidelidade do coração que é completamente transformado.
Sim, grandes multidões acompanhavam Jesus, mas nem todos pelo mesmo motivo. Assim, todo um leque de pretensões diante de Jesus: os curiosos que querem ficar por dentro de tudo o que acontece, os zeladores de toda ortodoxia tradicionalista, os proscritos de todos os grupos, os abastados e satisfeitos, os párias e empobrecidos… Ele se volta e diz: por que você me segue?
O seguimento cristão e eclesial de Jesus tem uns claros identificadores:
Seguir Jesus pospondo os afetos, inclusive os mais sagrados: pais, esposos, filhos, nós mesmos. "Post-poner" significa precisamente "colocar depois". Não reprimir, nem sufocar, nem ignorar, mas situá-los depois de Jesus; vivê-los n’Ele e a partir d’Ele. Tudo o que é amável na vida, temos de colocar no Amor que o Senhor é e que nos revelou. Diante de Jesus Cristo, absolutamente todo o resto será sempre menos importante.
Seguir Jesus renunciando a todos os bens, porque ninguém pode servir a dois senhores com um coração partido e dividido; onde está o tesouro de uma pessoa, lá é onde ela coloca seu coração. Inclusive neste nível meramente humano e administrativo dos nossos assuntos, a primazia de Deus nos humaniza, evita que facilmente sejamos vítimas, cúmplices ou gestores de tanta corrupção campeante.
E por último, seguir Jesus em seu próprio caminho, inclusive ir com Ele até a cruz. Ser cirineus não é seguir um ausente ou um inexistente, arrastando de forma masoquista todas as nossas dores e pesares ou os dos outros. Ser cirineus é caminhar com Alguém que é ao mesmo tempo caminho e caminhante. Com todas as consequências, até o final.
Quem se aventura a seguir Jesus, aceitando sua companhia de Mestre e Senhor, comprovará que a vida não se torna sombria e pesada depois de tanta "post-posição", mas, pelo contrário, terá uma alegria que ninguém poderá roubar. Seguir Jesus perdendo tudo é a apaixonante e paradoxal forma de encontrar tudo, porque Jesus não é um rival, a não ser daquilo que perverte, idolatra e desumaniza o coração. Seguimos um Deus vivo que ama a vida e nos ensina a vivê-la.
ZENIT, 03/08/2010