Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo
Apresentamos a meditação escrita por Dom Jesús Sanz Montes, OFM, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca e Jaca, sobre o Evangelho deste domingo (Lucas 12,13-21), 18º do Tempo Comum.
* * *
Alguém do público increpa Jesus para que sirva de mediador em uma discussão familiar a propósito da herança. Esse "poderoso cavalheiro, o senhor dinheiro", cupido de cobiça, é fortemente sedutor, e nas jaulas das suas iscas já caíram homens de todas as épocas.
Jesus pretende, muito além da disputa pontual que aquele episódio lhe apresentou, desmascarar a torpe chantagem que sempre supõe o deus dinheiro, o ídolo do ter, a falsa segurança de acumular. O conselho da parábola deste Evangelho – "descansa, come, bebe e regala-te" – parece ter sido corrigido e aumentado hoje em dia, assim como há 20 séculos, pelos conselhos hedonistas aos que nos empurram os adoradores dos novos bezerros de ouro: compre, consuma, troque, aspire, goze, desfrute…
Não é que Jesus Cristo e o cristianismo sejam tristes e entristecedores, estraga-prazeres da vida, mas alertam sobre a propaganda fácil de uma felicidade falsa.
Denuncia-se que, pouco a pouco, vamos todos acreditando que o problema da nossa felicidade depende do que tenho e do que acumulo. O problema vem quando retiramos a máscara do personagem e emerge a realidade da pessoa; o drama surge quando, no camarim da nossa intimidade, limpamos a maquiagem social e aparecem as rugas da nossa alma, que havíamos camuflado tão bem por baixo de tantas aparências.
E quando os profetas do consumo vão levando nossa insatisfeita sociedade ao jardim das delícias do deus dinheiro; e quando, alcançado o objetivo proposto de adquirir e desfrutar do que nos foi prometido, continuamos mastigando a tristeza e o vazio; e quando, nessa interminável espiral de ansiedade, constatamos que nos falta muito para viver felizes; e quando, entrando na jogada do consumo, do dinheiro e do prazer inumano, o que conseguimos geralmente é angústia, vaidade, enfrentamento, ansiedade, injustiças, desumanização… Então nós, cristãos, olhamos para Jesus, como aqueles outros fizeram há 2 mil anos, e acreditamos que a única riqueza que não mancha, nem corrompe, nem ofende, nem destrói, é essa da qual Ele falava: "não ajuntar tesouros para si mesmo, e sim ser rico para Deus".
Então, à luz deste Evangelho, compreendemos que Jesus efetivamente não é rival do que é bom, belo, gostoso, mas sim é implacável contra toda tentativa desumanizadora que pretende comprar e vender a felicidade e a realização sob uma bondade, uma beleza e uma alegria que são falsas,
ZENIT, 30/07/2010