O nosso caminho está sempre cheio de novidades quando realmente nos damos oportunidade de perceber as pequenas coisas que acontecem ao nosso redor. Vivemos deixando as coisas simples de lado e dando mais significado as situações que chamam a atenção de todos, colocando elas como importante, só porque todos perceberam.
Estou começando esta reflexão desta forma, para que compreendamos sobre o sentido das outras pessoas em nossa vida. Como é importante que olhem para nós, que percebam os nossos esforços, que sintam a nossa existência, que reconheçam os nossos sentimentos. Alguém há muito tempo já afirmava: “Ninguém vive só!”. Essa frase já foi tão repetida, que hoje todo mundo fala, mas não contempla. Convido todos a se imaginar num mundo em não tivesse mais ninguém ao nosso redor.
Lamentavelmente não iríamos ser percebidos. Não seríamos elogiados, ninguém sentiria o nosso cheiro, as nossas roupas, os nossos cabelos penteados ou cortados. Para quem iríamos falar? Ninguém ouviria as nossas colocações verbais, não veriam o nosso sorriso. Caminharíamos em que direção? Não teria ninguém para abraçar, nem para fazer um cumprimento com a cabeça. Quem iria considerar o nosso trabalho bem feito? Precisaríamos apenas ir atrás do alimento para sobreviver, já não teríamos com quem nos divertir. Começaríamos a viver apenas em função do instinto. Seria arrogante dizer que precisamos das pessoas para nos fazer existir?
Apesar de essa ser uma pergunta um tanto egoísta, mas é prova real de que enlouqueceríamos se vivêssemos sozinhos. Por esta razão também poderíamos dizer nos valemos das pessoas para mantermos a nossa sanidade. A partir desse entendimento, faz-se importante reconhecer que viver em grupo é o que nos possibilita trabalhar a nós mesmos. Devemos considerar este fato uma bênção, pois temos vários grupos para nos relacionar. Provavelmente, se existíssemos num único grupo, talvez adoecêssemos em algum grau de enfermidade.
Abro aqui um espaço para falar do nosso primeiro grupo, a família, que salvas as exceções, é universal. Nele, vivenciamos as primeiras construções, os primeiros aprendizados. Aprendemos a comer, a chorar, a falar, a negar, a aceitar, a andar, enfim, aprendemos todas as necessidades básicas. Aprendemos também a dar nomes às coisas. A chamar de dor quando nos sentimos machucados; a chamar de amor quando enchemos o espírito de satisfação, a chamar de raiva quando recebemos uma reprovação. Aprendemos bastantes coisas nesse grupo. Aprendemos a entender o que é família com ele, pois até então pouco conhecemos das outras, e possivelmente continuaremos conhecendo muito pouco das outras famílias, até que construamos a nossa.
Depois desse primeiro grupo, vamos interagindo com outros grupos, ainda familiares, como o dos tios, dos padrinhos, dos avôs e só depois passaremos a conhecer outros grupos, como a escola, a Igreja,… Epa! Tem algo que não soa bem nessa frase. Não seria correto dizer que a Igreja deveria ser tão presente em nossa vida quanto o grupo familiar? Por que então não está lá no topo? Nós não podemos fazer opção ainda, mas os nossos cuidadores deveriam estar nos apresentando constantemente a este grupo desde o nascimento. Como poderemos no acostumar a ideia de que este grupo é tão importante para nós quanto nós para este grupo?
Deus nos coloca à disposição inúmeras condições para suportarmos a nossa própria carga e permite que a trabalhemos, que repousemos e distribuamos parte daquilo que a gente é, através daquilo que a gente faz. E o nosso fazer começa pelo nosso aprendizado e pelo ensinamento de quem nos educa. A Igreja, pela sua orientação, vai contribuindo com esta educação gradativamente. O processo que no move até ela é permanente, mas é preciso estar voltado aos seus ensinamentos. Quero lembrar a todos que precisamos de condução espiritual e independente da opção que se faça, é necessário vivê-la com seriedade.
Jesus Cristo, quando foi feito homem, não veio para falar de brincadeira, nem para sofrer à toa. Sua morte foi miseravelmente sofrida. Ele, que trouxe palavras desafiadoras, que rompeu regras que estavam representando valores que limitavam a ação do bem; Ele, que nos apresentou a possibilidade de uma vida nova, através do Seu caminho, da Sua luz; Ele veio para que compreendêssemos que nossa vida é agora e que precisamos fazer por ela, amando-nos uns aos outros, não pode ter vindo ao mundo para não ser levado à sério.
Esse é o nosso tempo, é hora de reconhecermos que a vida só tem sentido quando somamos, e em mais de um, praticamos o bem. Em muitas questões somos egoístas e nos utilizamos das pessoas para o nosso próprio benefício, para o nosso próprio bem estar. Somos em algumas condições tão oportunistas, que praticamos boas ações para que possamos nos sentir pessoas melhores. Às vezes, chegamos a ser ardilosos até, reproduzindo essas boas ações aos ouvidos de terceiros, para que também eles percebam que somos bons. E se somos assim é por que queremos reconhecimento. E se queremos reconhecimento é por que nesse desejo de ser elogiado paira o receio de não ser lembrado, de não existir para as pessoas.
No fundo o que queremos mesmo é que as pessoas nos gostem. O problema é que muitos não querem esforçar-se, pois o reconhecimento das nossas atitudes são uma consequência obvia, das boas e das más ações, assim também como das ações de intenções, das ações contagiadas de desânimo, das ações apressadas, das ações desinteressadas, das ações descrentes. Sabe quando a gente faz, mas não acredita? Das ações arrogantes, das ações comprometidas. Todas as ações são um pouquinho de nós que deixamos pelo caminho dos outros, como se fossem flores, ou fezes.
Mesmo que esse seja um comentário grosseiro, estas são as representações que deixamos e que também colhemos, pois estamos no mesmo nível de relações. Podemos até fazer o exercício cristão de sermos pessoas melhores, mas aqui e acolá sempre nos encontramos em uma situação ou outra que nos deixamos levar. Por isso que é tão importante trabalhar a nossa espiritualidade em Deus, o nosso coração para manter os sentimentos equilibrados, a razão sem dureza e a caridade sem intenções de auto reconhecimento.
Esta a razão de hoje vivenciarmos o passo Orar e Vigiar. Todas as semanas investimos em um desafio. Todas as semanas buscamos avaliar o que nos rodeia e tentamos desenvolver a nossa consciência, procurando esclarecer para nós mesmos o que nos levou a ser o que hoje somos. Mais ainda, questionamos o que demos de nós para as pessoas com quem convivemos e o que recebemos delas. Estamos aqui para aprender a ser alguém que possa acertar mais que errar, que possa sorrir mais que chorar, que possa alegrar-se mais que sofrer, que possa amar mais, ofertar-se mais, acreditar mais, compreender mais, perdoar mais.
Mas, para que existam tantos “mais” em nossa vida, também haverá de precisar MAIS dedicação. Neste propósito, começamos pelo 1º passo Admitir, que nos mostrou o quanto responsáveis somos por tudo o que nos acontece. Seguramente compreenderemos um pouco mais sobre o 9º Passo Orar e Vigiar, até que consigamos trabalhar a nós mesmos e da mesma maneira, trabalhar o nosso crescimento.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau