Na semana passada falamos sobre a forma de como podemos professar a nossa fé. Não estamos falando aqui de ir a um lugar público e gritar bem alto: “Eu tenho fé!” ou “A minha fé é maior que a de muitos!”. A nossa profissão de fé está diretamente ligada à nossa proximidade com Deus e à maneira como expressamos isso. Não depende de comparações, nem de julgamentos. Porém poderemos transmiti-la pelas nossas ações mais simples. São nas menores atitudes que observamos os maiores compromissos.
Hoje, a caminhada dos doze passos da Sobriedade nos alerta à oração e à vigília, dois grandes momentos do nosso processo de mudança que vem propor um desafio que depende exclusivamente de nós. Estamos nos erguendo na intenção de vivermos uma vida mais sóbria. Por esta razão, tivemos que nos esforçar em reparar os danos que causamos, para encontrar um equilíbrio entre o perdão e a culpa. Cada vivência requer de nós uma expurgação dos nossos vícios e pecados.
Cabe à nossa compreensão que um nascimento possivelmente produz dores que não nos lembramos, por que não temos uma memória capaz de recordar e por não termos ainda apropriação da linguagem verbal para explicar este momento. Contudo, o renascimento dá todas essas condições. Se estamos aqui para renascer, devemos tomar consciência de que essa opção exige que queiramos nos transformar em uma nova pessoa, com novos hábitos e novos pensamentos e que o sofrimento para cabermos nessa nova modelagem ficará bem percebido.
E talvez o mais complicado de todas essas situações que propomos viver nesse projeto de vida nova tenha sido a confissão. Sempre lembrando de que essa postura nos leva a partilhar os nossos erros, para que na cumplicidade e na humildade pudéssemos confessar, abrindo um espaço para o nosso julgamento e entrega diante de Deus. E reconhecendo na pessoa do Padre um testemunho que possa nos ajudar a assumir esse fardo, vimos perceber que apresentar em palavras essas falhas é bem difícil, quando não, impossível. É por isso que tantas vezes argumentamos contra os padres, para que possamos ficar camuflados e esquecidos. No entanto, Deus enxerga a nossa falta de coragem.
Arrepender-se foi a condição chave para abrir os caminhos que nós mesmos destruímos em relação aos nossos familiares, amigos e até desconhecidos. Muitas vezes não reconhecemos que indiretamente prejudicamos pessoas desfavorecidas em nome do nosso egoísmo, ganância e arrogância. Achamos que nossas ações acabam por ali, onde podemos enxergar, mas pelo contrário, elas começam exatamente onde perdemos de vista. Outros mais à frete sofrerão as consequências das nossas ações. Nossa geração vai receber muito do que deixarmos. E é justamente o reconhecimento destes erros que vão nos renovar.
Se nos colocarmos por inteiro, se nos fizermos presente diante de Deus, expondo todas as nossas dificuldades, todas as nossas angústias, teremos um suporte incomparável. É necessário entregar-se plenamente para alcançar o nosso principal objetivo. Contudo, não há entrega possível se não acreditarmos que somos capazes de mudar. Jesus Cristo nos ensina a confiar, nos dá certeza de que somos mais que todas essas máscaras que usamos até então para representar essa falsa felicidade, que tanto implora por substância que nos faça esquecer o que vivemos.
Enfim, é seguramente o ato de admitir, aceitar e registrar cada um desses passos como um movimento de escada, que na medida em que avançamos, também vamos subindo, também vamos refletindo sobre o que fomos, o que somos e o que buscamos ser. O primeiro passo desta caminhada, se não for exercitado dia-a-dia, não caberá em nós a conversão que tanto almejamos, que tanto pedimos em nossas orações.
Estamos nesta semana sendo lembrado de que a oração é o nosso refúgio. É onde podemos reabastecer nossas energias e consolidar ainda mais a nossa relação afetiva com Deus, através de tudo o que Jesus nos deixou. A Oração nos torna vigilante, sensível e aberto para perceber onde precisamos melhorar e como devemos agir. Muitos falam do poder da oração, poucos rezam com qualidade. Não adianta repetir palavras se não nos compenetramos. Não adianta prostrarmo-nos por uma hora, se passamos 55 minutos prestando atenção ao que acontece ao nosso redor. A Oração que Jesus nos ensinou é pequena e completa, mas não é só uma questão de fazê-la e achar que já concluímos a nossa parte. Devo lembrar que precisamos estar atentos para não nos tornarmos cristãos egóicos, que buscam as preces só no momento de aplacar o sofrimento. É necessário que entendamos o propósito desta oração e que enquanto rezamos, possamos aplicar para nós e para o mundo nossas palavras, e que estas sejam abençoadas pelo dom do Espírito Santo, para que nos unamos em corpo e espírito através daquilo que estamos colocando para o nosso Senhor.
Abro um espaço aqui para colocar sobre o jejum. O jejum é um complemento, que deve envolver todo o nosso ser. Na prática do jejum devemos fechar a porta para a existência e abrirmo-nos totalmente para o Senhor. O pensamento deve estar em sintonia com o desejo de encontrar as respostas para as nossas perguntas. Jejum sem oração não é jejum. E ainda que tenhamos alguma atividade a fazer, podemos realizá-la enquanto estamos contritos em Deus, entregues às nossas orações. Jamais devemos demonstrar que estamos jejuando, pelo contrário, devemos expressar alegria. Este é um momento de purificação, onde resguardamos o corpo para receber apenas o alimento para o espírito, para melhor acolher a vontade do Pai.
Podemos escolher como vamos jejuar. Podemos optar por um período do dia, ou optar em não comer por algum tempo alimentos que julgamos demasiadamente prazerosos. Lembrando que a razão de fazê-lo é um movimento interior que deve estar ligado a um estado de graça. Portanto devemos honrar alegremente com cantos, orações e leitura da Palavra, sempre pedindo que seja feita a Sua vontade e não a nossa. Para jejuar é preciso fazer silêncio no coração para que possamos escutar o que Deus nos fala. Por isso também jejuamos em palavras, fazendo momentos de silêncio contínuo, para melhor absorver o sentido desta prática.
Se você quer saber mais sobre o jejum, deve perguntar ao seu pároco. Ele poderá lhe orientar e lhe direcionar da melhor maneira possível, tendo em vista o que você realmente necessita. Nossa reflexão fica por aqui, na intenção de que cada um de nós busque o caminho ideal para o crescimento da nossa fé.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau