Palavra: Rm 10,9-11
9. “Se, com a tua boca, confessas que Jesus é o Senhor e se, em teu coração, crês que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo.
10. Com efeito, crer no próprio coração conduz à salvação.
11. Pois a Escritura diz: ‘Todo aquele que Nele crê não será confundido’.”
Mais uma vez nos encontramos aqui, para juntos contemplarmos este mistério que nos é dito pelas Escrituras. Que possamos compreender ainda mais o que Deus nos quer falar neste momento de nossa vida, em que nos encontramos tão cheios de anseios, tão cheios de perguntas, com tantas dúvidas, que nos fazem titubear nas decisões, e que às vezes, não sabemos se somos assertivos nas nossas atitudes. Em muitas situações, somos chamados a tomar uma decisão, a qual ainda não estamos preparados para enfrentar, mas somos convocados ao desafio. Agimos com receio, meio perdidos, e ficamos angustiados, torcendo para que o resultado seja positivo.
Nesta Caminhada de Vida Nova já demos passos importantes, que mexeram com a nossa consciência, e relembrando este percurso, os três primeiros Admitir, Confiar e Entregar formou a base deste novo movimento. Pensemos numa ave quando rompe a sua casca, desbravando um mundo de luz e de outras possibilidades. Assim também o é para nós. Em nós se reproduziu uma maneira de perceber as coisas que não faziam parte do nosso entendimento, como luz que interpreta melhor os nossos sentimentos, e que direciona com mais clareza. Mas ao mesmo tempo em que é luz, estes três primeiros passos podem ser comparados na mesma intensidade aos primeiros passos de um bebê, que lhe vai dar segurança para um caminhar enquanto vida tiver. Então, eles foram essenciais para o segmento da nossa caminhada, pois aconteceram de dentro para fora, num despertar para a espiritualidade.
Não estamos sós, embora nos sentíssemos, e pudemos continuar em crescimento. Nos próximos passos Arrepender-se, Confessar e Renascer, ganhamos mais força, na medida em que iniciamos o nosso processo de ação, externando o nosso crescimento já trabalhado interiormente, praticando o nosso novo aprendizado. Ainda que tivéssemos todos os recursos para compreender o que nos era proposto, como por exemplo, as Leituras, o companheirismo, as histórias em comum de quem acompanha os grupos de auto-ajuda, os investimentos sugeridos, se não tivéssemos o desejo de mudança, tudo isso seria vão. As coisas poderiam até acontecer, mas desmoronariam com facilidade frente às primeiras dificuldades.
Nos preparamos interiormente e despertamos para o mundo. Agora vamos agir com convicção. Esta etapa produz um fazer já consciente, onde vivenciamos o passo Reparar e hoje estamos abraçando a nossa Profissão de Fé. Buscando o significado da palavra Professar, as descrições nos levam a muitas direções. Professar quer dizer então: reconhecer, confessar, exercer, ensinar, propagar. Percebam quanta riqueza tem esta palavra, e a nossa fé está para todos estes verbos, lembrando que fé sem obra, ela é morta. Neste contexto, pairam as perguntas: Temos como reconhecer a nossa fé? Consideramos que ela existe em nós? Ela tem a nossa cara? Nossa fé pode ser identificada? Onde depositamos a nossa fé?
Aqui estamos nos referindo da Fé em Deus. As coisas as quais acreditamos podem até ter altos e baixos, mas quando não reconhecemos Deus como criador, deixamos também de nos reconhecer como suas criaturas. Como mencionei antes, perdemos nossa identidade de filhos. Então, esta fé não pode ser comparada ou gerar dúvidas. Ela demonstra a nossa condição humana e cristã, criando um laço com os outros significados, visto há pouco.
Podemos dizer que a fé, ela é confessa, pois revela o que somos quando declaramos o que entendemos como verdade. E colocando com convicção, somos capazes de alcançar e semear terrenos áridos, carentes de estrutura emocional. Ela passa para o campo da prática com naturalidade, sem esforço, sempre colocada em pequenas quantidades, assim como a semente, que se transforma em árvores frondosas. Essas árvores são os nossos comportamentos, equilibrados, coerentes, que oferecem grandes sobras, com ações sensatas e tranqüilas, como doces frutos.
A nossa maneira de viver, a nossa maneira de agir pode espelhar o outro e despertar nele o desejo de reproduzir em sua vida essa experiência. A fé demonstra retidão nos nossos passos e produz ensinamentos àqueles que nos cercam. Devemos nos tornar exemplo e propagar a fé que nos envolve como condição essencial de zelo, de cuidado, de amor para conosco e com os outros. E agora chegamos na palavra chave: o amor, principal ingrediente para que esta possa acontecer verdadeiramente.
Nos dias de hoje, temos muitas teorias, crenças às avessas e falas deturpadas que tratam de desconstruir o lugar que damos à nossa fé, desvalorizando o cunho moral, argumentando conceitos de alienação, baseados em propriedades da história e da ciência. Não desconhecendo a importância de cada uma delas, pois história e ciência em muitas situações estão aí para confirmar a nossa fé. Mas uma vez pondo em questionamento nossas crenças, nada foi colocado no lugar para manter o nosso equilíbrio. De alguma forma foi instaurado um caos que se espalhou e parece que estamos vivendo um momento denso, sem clareza das coisas, como se estivéssemos numa grande nuvem de incertezas.
Primeiro aprendemos que o amor é aquilo que nos torna felizes para sempre e sofremos muito ao perceber que não é bem assim. Os contos de fada deixam um gosto amargo, pois sempre dará certo nas estórias contadas e encenadas, mas não na nossa vida. O que temos dificuldade de entender é que o amor é um processo de construção, ele coexiste em nossa existência. Se pensarmos num grande edifício, a amor seria o cimento, misturado a outros minérios tão importantes para a construção, mas que precisam do cimento para manter a estrutura firme e em nossa vida, precisamos do amor para sedimentar. Ao final, o edifício está construído, belo, imponente. Nele entra-se, mora-se, trabalha-se, estuda-se, mas não se vê o cimento, ao passo que se sabe da sua existência ali, e sente-se segurança por ter convicção de que ele existe em cada parede, em cada canto, em cada viga, em cada degrau ali colocado.
Da mesma maneira devemos compreender o amor em nossa vida. Não é para ser exibido, nem exagerado, mas fazendo parte na nossa essência, ele nos edifica com firmeza. E não devemos dar um caráter de glamour porque o amor é simples, porém intenso na sua constituição. Portanto, esse amor ao qual falamos não há como ser desconstruído. Pode ser até questionado quanto a sua intensidade ou autenticidade, mas se pensarmos que não tem sentido em nossa vida, o que temos para substituir? Nada. Eis a razão pela qual as pessoas estão tão inquietas porque com o passar do tempo foi-se substituindo por outras vivências que nos deixam perdidos, a toas, sem referências.
Deus é amor e a fé que temos é a forma que temos para compreender e permitir que nos transforme, que passe por nós e nos preencha, e que assim nos faça ser Seus instrumentos. A Leitura de Romanos nos chama a atenção para sermos um com Ele na terra e no céu. Se o confessarmos aqui, ou seja, declarando a nossa crença, a nossa afinidade, assumir o nosso amor de filhos, também Ele nos reconhecerá no céu. Professar a nossa fé, confessar Jesus significa antecipar a partilha da Sua vitória. Os nossos próprios feitos nos conduzirá a salvação, pois se cremos não seremos confundidos ou ignorados. A humildade é uma condição necessária para nos aproximarmos da clareza que ilumina os projetos do Pai em nós. É preciso aceitar o fato de que a nossa fraqueza nos causa insegurança e desequilíbrio nas atitudes. É preciso estar em constante oração pois a nossa fé é a medida das nossas certezas e nem sempre estamos seguros, nem sempre estamos convictos do que fazemos.
Em outra instância, é importante perceber que o nosso papel vai muito além de manter a nossa fé viva dentro de nós. Ela precisa iluminar e resgatar aqueles que estão perdidos nessas incertezas tão obscuras, que estão infelizes à procura de algo que dê sustentação à sua existência e é por isso que vão buscar tantos artifícios para suprir esta falta e não encontram nada que preencha este vazio, porque isto é falta de amor, é vazio de Deus.
Portanto, que saibamos reconhecer que podemos viver em equilíbrio interior e que possamos ser capazes e declarar a nossa fé, não de forma gritante ou histérica. Esse anúncio precisa se pronunciar de forma leve e sutil, cheio da graça de Deus, com muita retição, para que possamos ser também luz no caminho daqueles que precisam encontrar e sentir a Deus como verdadeiro Pai.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau