Leitura da Palavra: Mc 16,15-18
“15. Então Jesus disse-lhes: ‘Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade.
16. Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado.
17. Os sinais que acompanharão aqueles que acreditam são estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas;
18. se pegarem cobras ou beberem algum veneno, não sofrerão nenhum mal; quando colocarem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados.”
Estamos aqui vivenciando mais um passo desta Caminhada de Vida Nova. Cada passo nos propiciou um desafio diferente, que nos levou a repensar sobre a nossa vida e sobre as nossas atitudes. O nosso desejo de reconstrução interior nos levou a fazer esta caminhada pastoral que é movida pela evangelização, entre os muitos outros programas que acompanham tratamentos para dependentes e familiares. Aqui encontramos questionamentos que envolvem a nossa pessoalidade e que, partindo desse pressuposto, podemos nós também fazer a opção de sobriedade em nossa vida.
Os passos que trilhamos até aqui nos trouxeram direcionamentos que nos auxiliaram no processo de restabelecer a nossa dignidade e compreender o quanto precisamos ainda aprofundar dentro destes ciclos. Sendo assim, Admitimos as limitações, os erros, os vícios, tomando consciência de que o nosso fazer depende exclusivamente de nós. Confiamos em Deus e criamos um laço ainda maior, uma intimidade orante. Depositamos nossas maiores dificuldades e Entregamos nossas fraquezas, para que pudéssemos ser fortalecidos. Com o Arrependimento, assumimos em nosso coração o que vínhamos camuflando. E aconteceu o momento de verbalizar, de dar nome aos erros com a Confissão. De espírito mais leve, Renascemos e renovamos os nossos sentimentos. Assim, tivemos condições de Reparar com convicção os males que promovemos. Neste Passo de hoje podemos falar com propriedade sobre a nossa fé.
Deus nos quer atuantes. A nossa existência não deve sucumbir aos modismos sem uma reflexão, aceitando os fatos acontecerem e deixando-nos levar pelas tribulações do dia-a-dia. Neste mundo deixado para nós devemos multiplicar as boas coisas e abandonar as coisas ruins. Mesmo que as notícias propaguem o espetáculo da desgraça é importante reconhecer que o bem existe e fazemos parte dele. Professar a fé é acreditar. É fundamentarmos a esperança na plenitude deste bem. É estarmos abertos para perceber a ação criadora do Pai que renova e multiplica a partir de nós. Portanto, é imprescindível que estejamos dispostos a assumir esta responsabilidade de viver o desafio de sermos filhos de Deus.
A Leitura de Marcos nos convida a anunciar a boa notícia para toda a humanidade. Temos então o compromisso de conhecer do que se trata essa notícia, compreendê-la, assumi-la em nossa vida, ser o exemplo e depois propagar. Do contrário, como vamos nos fazer entender, se sequer acolhemos estas coisas em nosso coração? Primeiro devemos questionar o que essa fé significa para nós. Qual a importância de Deus em nossa vida? É claro que estamos desejosos de Suas bênçãos, assim como também queremos que todos os nossos quereres sejam prontamente atendidos, e então, buscamos desesperados pela resolução das nossas dificuldades. E rezamos e pedimos, e queremos que Deus vá atendendo e suprindo todas as nossas insatisfações.
Neste percurso nos perdemos completamente, pois as Verdades que vão surgindo não queremos aceitar e saímos atrás de recursos mais fáceis para nos preencher, por que não queremos nos comprometer com este vazio que existe em nós. Vamos fazendo o exercício de camuflá-lo, de enganar a nós mesmos, de mascarar as situações como se nada tivessem a ver conosco, de fugir, de fazer descaso, de cegar às necessidades de afeto, de negar o próprio coração. O que podemos chamar de fé, afinal?
A Leitura diz que dependendo do que acreditamos seremos salvos ou condenados. E não adianta fazermos um papel cristão de aparências. Se frequentamos missa para cumprir as normas; se batizamos por causa do ritual; ou frequentamos festas de Santos e nos excedermos com bebidas; se nos confessamos apenas por obrigação, nós mesmos podemos dar o nosso veredicto. Deus é Caminho e Nele conhecemos a Verdade e através Dela encontramos Vida. Se temos o propósito de fazer parte de Seu Reino, precisamos ser verdadeiros com nós mesmos.
Se realmente acreditamos, os sinais nos acompanharão e também os percalços. A fadiga, o desânimo, a desesperança nos puxarão para baixo porque de alguma forma daremos espaço. E quanto mais espaço nós liberarmos, mais alimentaremos as dificuldades. Tem uma lenda que diz sobre um índio que explica o que acontece em seu coração. Ele fala que ao acordar, dentro dele também se levantam dois lobos, um que é bom e outro que é mau. E os dois lobos lutam entre si, um tentando acabar com o outro, até que um caia. E no dia seguinte eles voltam a se enfrentar novamente. E alguém lhe pergunta: E qual é o lobo que vence? E o velho índio responde: Aquele que eu alimento.
Tomando o exemplo do índio é possível rever as opções que queremos seguir e do que vamos nos alimentar. Embora o desafio seja constante, temos muitas oportunidades para trabalhar a sobriedade do nosso coração. Não devemos permitir o uso de artifícios, de desejos vazios, de satisfações passageiras, de prazeres supérfluos, de vícios ou maus hábitos. Os chamados pecados capitais estão aí para nos corromper constantemente e somos facilmente envolvidos por eles. A oração é fundamental para reconhecermos o que realmente queremos, o que realmente buscamos. Daí o princípio da nossa fé, que vai fortalecer as nossas crenças e nos tornar capazes de alcançar senão a cura, as condições para lidar melhor com as nossas fraquezas.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau