A Leitura de hoje cai sobre nós como uma pesada chamada de atenção. Hoje vamos tocar nessa dura tarefa de explanar a hipocrisia que nos circunda. Neste processo de sobriedade, estamos de alguma forma muito frágeis, muito expostos às dificuldades e aos enfrentamentos. Estamos passando por um momento muito sutil da nossa vida, pois estamos abandonando um jeito de ser, estamos dissecando os nossos erros, outrora admitidos no começo desta caminhada, que em nenhum momento significa facilidade.
Cada movimento que fizemos semanalmente nos levou a um novo degrau e esse novo passo exigiu reflexões que não passavam por nós. Fomos chamados a confiar Naquele que traz a oportunidade de uma vida nova. E só tivemos condições de dar continuidade quando entregamos por completo todos os nossos anseios, dúvidas e inquietações. É, essa vivência nos traz muitas revelações. Contrário ao que pensávamos, que aqui encontraríamos conforto de todos os tipos, como se fosse um balcão de compras qualquer, aqui nos deparamos com impressões que nos deixam sem palavras.
Ao chegarmos meio sem jeito e colocarmos o que vimos procurar, fomos aconselhados a olhar para dentro de nós mesmos e refazermos a proposta. O que realmente queremos para a nossa vida? Ora, vimos arrumar, tentar dar um jeitinho na vida do outro e somos aconselhados a olhar para dentro de nós? Isso. Se assim não o fizéssemos, não teríamos como seguir adiante. O projeto de vida é claro: é preciso que tomemos a nossa cruz, é preciso que reconheçamos a nossa cruz, é preciso que assumamos a nossa cruz.
E foi deixando de lado os malfeitos, as intrigas, os julgamentos, os erros, os vícios, as atitudes perversas, identificadas pelo nosso arrependimento, que pudemos adquirir forças para erguer os braços em direção à busca da Verdade e retomar nossa caminhada com mais firmeza. Quando nos demos conta dessas falhas, uma inquietação nos levou à insatisfação de quem fomos. A confissão veio como uma possibilidade de externar essa sensação de descontentamento causada pelas nossas atitudes. Tivemos a oportunidade de afastar esse pecado dos nossos corações.
Deus nos tornou renascidos desse erro que nos consumia, que nos castigava e nos mascarava. Fomos perdoados diante do nosso arrependimento e da nossa confissão. Resta-nos agora refletir sobre o que podemos fazer para reverter as nossas atitudes. Reparar compreende sair do nosso cantinho cômodo, onde até então nossa caminhada movimentava apenas a nossa interioridade. Onde o nosso processo só se dava internamente, agora se transforma numa agitação que nos traz à tona. Somos obrigados a dar sinal de quem somos. É-nos exigido ir em direção àquele que maltratamos e revertermos o que fizemos.
Este 7º passo nos leva a confrontar nossas atitudes, avaliá-las e assumi-las diante do Senhor e das pessoas a quem prejudicamos. É um passo de reafirmação do nosso novo ser. Este é o momento em que a gente se apresenta como pessoa que busca a mudança. Até então apenas refletíamos enquanto estávamos sendo preparados para tirar essa máscara de falsa moral, ou de falsa felicidade, ou de falso viver. Vivíamos uma fase da nossa vida que foi adulterada pelos mecanismos que diziam que essa era a melhor forma de viver, que nos enganavam, que nos faziam afundar nos nossos deslizes. Podemos nos questionar: quantas ações devo mover dentro de mim para por fim a minha hipocrisia?
Temos grande habilidade em estabelecer metas e normas para que os outros as cumpram. Estas metas estão sempre apoiadas em dificuldades que provavelmente já demos conta em alguma situação, mas não estamos nem aí se o outro tem ou não possibilidade de enfrentá-las. Ora, se já passamos por isso e conseguimos suportar, se conseguimos nos dedicar, se conseguimos agir com decência, por que é que o outro não pode?
Em algum momento já mudamos o curso dessa pergunta, refazendo a maneira de perguntar? Podemos então nos perguntar assim: o que será que essa pessoa está passando, que não consegue prosseguir assim como eu prossegui? O que faz essa pessoa estagnar na vida, que lhe falta coragem de seguir decentemente, assim como eu o fiz? Onde poderei ser útil para que essa pessoa possa ser alguém melhor? Será que posso ajudá-la a superar os seus erros? Ou serei justamente eu quem está colocando empecilhos para que essa pessoa se torne alguém melhor? Muitas perguntas podem ser feitas nessa ocasião. Contudo só vamos encontrar as respostas se as fizermos para nós, pois só nós poderemos respondê-las.
Existem pessoas que só se arrependem dos seus erros por que estão colhendo as consequências, como é o caso da maioria dos usuários de drogas. Enquanto estão curtindo o seu vício, a família pode desmoronar. Esse é aquele que peca pelo egoísmo. Ele não vê o sofrimento de ninguém, só verá o seu mais adiante. Para a sua salvação, Deus sempre cuida para que diante dos nossos equívocos, possamos voltar a traz. E quanto mais demoramos a nos arrepender, tanto mais sofreremos. O arrependimento de fato provoca o desejo de reparar, e este consiste em fazer o bem a quem em outra situação fizemos o mal.
Dentro de nós existe um desejo imenso de acertar, e sabe por quê? Porque nós fomos feitos em Deus. Se erramos, e se sentimos vergonha pelo nosso erro é por que o nosso arrependimentos está despontando. Aproveitemos esse mal estar e ajoelhemo-nos, inclinemo-nos para receber o perdão e nos voltemos a arrumar a bagunça que causamos.
Deus nos conhece profundamente, conhece as nossas fraquezas e sabe o quanto somos suscetíveis a repetir os mesmos erros e apegados a bens materiais. Mas assim como disse João Paulo II: o que nos une ao Seu amor é infinitamente maior do que o que nos separa. E pensando desta forma, devemos agir, converter as nossas atitudes a partir das transformações dos nossos pensamentos de quem realmente somos. Se nos corrompemos, se nos afastamos da sabedoria de Deus, se ferimos, se prejudicamos, se magoamos, ainda é possível reverter essa situação. E com essa atitude devolvemos a paz para aqueles que não soubemos amar. Esta é uma condição para alcançarmos a dignidade. Não podemos ser felizes sendo escravos dos nossos vícios, dos nossos erros. É necessário reconhecer, que neste passo a reparação só será concluída com o perdão.