Neste novo ano, iniciamos nossa reflexão com um passo que renova, que nos revitaliza, que nos permite retomar a vida sob novas perspectivas porque os passos anteriores nos trouxeram até aqui. Não teríamos iniciado essa caminha senão admitindo primeiro que precisávamos fazer alguma por nós mesmos. Chegamos a um momento da nossa vida que era necessário tomar uma iniciativa. E a decisão mais acertada foi avaliarmos sobre as nossas próprias atitudes diante de nós e do próximo.
Foi importante reconhecer que nossas ações contribuem no resultado dos nossos relacionamentos, seja auxiliando ou prejudicando, seja colaborando para o sucesso ou insucesso nosso e daqueles que vivem ao nosso redor. E ao iniciarmos essa caminhada, nos demos conta de que tomar a rédea da situação não foi tão simples como nos parecia. Melhor seria se as coisas tivessem se resolvido por si só, mas não foi assim que aconteceu. Tivemos que dar a cara à tapa, tivemos que aprender a assumir as nossas falhas, tivemos que começar por nós.
Convictos de que nunca é tarde para trabalharmos a nossa sobriedade, fomos convidados a nos apegar às orações, à família, convidados a acreditar que é possível melhorar as condições em que vivemos que podemos promover, ainda que lentamente, a paz e a harmonia dentro do nosso lar, dentro do nosso trabalho, dentro da nossa comunidade. E confiando em Deus, pudemos seguir com mais segurança, pudemos agir esperançosos, guardados em Seu amor, em Seus preceitos.
E quando aconteceram as aflições, quando nos sentimos perseguidos, quando percebemos que não dávamos conta de toda aquela angústia sozinhos, fizemos silêncio em nosso coração e fomos entregando cada dificuldade que passávamos nas mãos do Senhor. Reconhecemos que este percurso tinha altos e baixos, que estávamos num mar que se acalmava e que tribulava e o nosso principal papel era mantermo-nos firmes no nosso propósito.
Como num livro, abrimos páginas que foram fáceis de ser lidas e outras que não tínhamos a menor vontade de ler, de conhecer, porque esses momentos tinham alguma coisa a ver conosco. Remetiam-nos as nossas próprias falhas ou nossos vícios, quem sabe. Rememorar cada coisa que vivemos, fez com que a gente recapitulasse algumas ações que fizemos questão de esquecer. Sempre foi tão fácil apontar onde o outro precisa mudar, mas é mais doloroso apontar a nós mesmos. Começamos a nos sentir inquietos pelas nossas falhas, pelos nossos pensamentos, pela maneira como interpretamos a vida de um modo geral. O arrependimento trouxe uma sensação inquietante de desconforto e desejo de não mais repetir as atitudes e as palavras.
Esse mal estar precisava se desfazer, mas como? Como pudemos nos arrepender das coisas que fizemos e estar alegres por não ser mais aquela pessoa que não enxergava os outros e ao mesmo tempo ainda se sentir inquieto com aquelas ações do passado? Se sentir arrependido é algo muito importante e deve ser partilhado. A inquietação está no fato de que só nos sentiríamos completos se esse arrependimento fosse confirmado pelo outro ao qual ofendemos, ao qual machucamos. Se o arrependimento era fato, a dor de ter cometido o erro ainda existia, então precisou ser confessado, para que obtivéssemos o perdão.
Se cometemos falhas com alguém foi necessário pedir perdão a Deus e ao irmão. Se cometemos com nós mesmos, da mesma forma foi preciso pedir perdão a Deus e também a nós, porque temos que nos perdoar pelos males que nos causamos. E nesta semana estamos experimentando esse renascimento de nós mesmos. É chegado o tempo de Deus em nossa vida de forma permanente, não apenas suplicado nas horas difíceis. Desde o nosso primeiro passo, estamos procurando viver o evangelho através da reflexão dos passos da sobriedade e vamos descobrindo a importância de não estarmos sozinhos.
Renascer não implica num ato acabado, mas em um processo que se vive diariamente, onde se planeja não voltar atrás, onde se projeta não correr atrás das borboletas, mas cuidar do jardim para que elas possam embelezá-lo. A vida autêntica de um cristão se dá por aquilo que ele crê e prega. Se desejamos ser uma pessoa nova, devemos nos comprometer com esse desejo. A ação é o resultado de um processo que começa no pensar. A partir de então, vamos projetando e trabalhando para que as coisas aconteçam à nossa volta.
Renascer é reviver as promessas do batismo, ser fiel e não deixar-se enganar pelos excessos, prometer amar em condição humana de humildade e caridade, saber escutar principalmente aquilo que se tem dificuldade de ouvir, saber partilhar os aprendizados, pois de nada adianta conhecer a Verdade e não propagá-la. Chegamos até aqui e caminhamos apenas até a metade do caminho. Muita coisa ainda vamos vivenciar neste ciclo. Temos muito que aprender, que conhecer e que praticar, mas não temos estrutura para acolher tudo de uma só vez.
Por esta razão o convite que Cristo nos faz é permanente. Todavia, aceitar este convite exige de nós perseverança e entendimento de que as alegrias e satisfações são passageiras, assim como as aflições e desesperos. Momentos bons e ruins passam. O que fica é como conseguimos passar por estes momentos. Se estivermos preenchidos do Amor Maior, certamente os momentos positivos serão mais enfatizados e partilhados com aqueles a quem amamos do que os negativos. Esse é o diferencial daqueles que acolhem a Sua dinâmica e que estão abertos a viverem a exemplo de Jesus.
Malena Andrade – Pscóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Deiocese de Blumenau