Vivemos hoje o Passo Renascer, que traz como alicerce a reconstrução deste novo ser que nos propomos ao investimento, através da Caminha de Vida Nova. Mas para chegarmos até aqui, iniciamos partindo do princípio de que precisávamos nos tornar uma pessoa diferente, com pensamentos e atitudes diferentes. O Projeto Libertador de Jesus nos convidou a admitir que as nossas ações comprometem em muito na convivência, na relação e nas decisões nossas e daqueles que nos cercam. Portanto, se chegamos a um ponto em que, as dificuldades que atravessamos estão cada vez mais improváveis de se superar, alguma coisa era necessária que se fizesse. O enfrentamento que teríamos que ter, é que só poderíamos agir, se reconhecêssemos o quanto fomos atuantes diante dessa situação em que nos encontramos.
A experiência do Passo Admitir foi imprescindível para a continuidade desse processo. Se sou eu que trago a queixa, sou eu que tenho a possibilidade de mudar primeiro, de alterar essa situação, de recompor essa história. Assumir essa carga de responsabilidade requer muita coragem, pois significa assumir as rédeas da situação que por tanto tempo deixamos à deriva, relaxando aqui e ali, responsabilizando o agravamento com justificativas que no fundo sabíamos que o que tentamos mesmo foi sensibilizar os outros, camuflando a nossa própria falta de ação.
Aceitar esse desafio por amor à família, por amor a si próprio, nos reserva ao mesmo tempo a dor do enfrentamento e o conforto de que tudo pode ser mudado. Ao Passo Confiar coube trabalhar a trajetória da nossa crença. Matar a sede de beber dessa fonte, só pôde ser sentida pela prática. Há que se ter no mínimo conhecido esse Jesus anteriormente e dar testemunho desse Jesus. É muito fácil dizer que acreditamos em Deus. Quem terá coragem de dizer o contrário? Mas, infelizmente, somos denunciados pelas nossas atitudes, pois não fomos capazes de dar o exemplo Cristão. Não conseguimos repassar esses ensinamentos para os nossos familiares, fizemos escolhas indevidas, reagimos às situações de conflito de forma imatura, sem atentar para o seu real valor. Foi preciso desejar que Jesus estivesse entranhado em nós até a alma. E isso significou acreditar verdadeiramente.
O convite ao Passo Entregar nos trouxe a esperança de repousar as nossas dores e angústias, os anseios e as aflições. Como quem se lança sem exitar para algo que muito se quer, assim nos colocamos em Suas mãos para descansar o nosso fardo, um fardo que construímos e não demos conta, um fardo pesado e calejado. Todavia, não adianta entregá-lo e pegá-lo de volta. É preciso fazer uma escolha. Quando entregamos alguma coisa a alguém é porque acreditamos que esse alguém poderá contribuir para a nossa melhora. Se entregamos e pegamos de volta não permitimos que o processo se dê por inteiro. É importante que se faça um esforço muito grande para desprender-se das coisas, as quais queremos tomar conta o tempo todo.
Devemos considerar sobre a importância de estar avaliando a nossa caminhada. Cada detalhe que vamos percebendo é que vai propiciando a construção dos requisitos para a nossa conversão. Mesmo que só venhamos a nos dar conta de pequenos detalhes, devemos nos lembrar de que são exatamente estes detalhes que passaram despercebidos e se mascararam, que produziram dúvidas sobre o nosso modo de agir. Os pequenos detalhes são a isca para reconhecer onde falhamos. O Passo Arrepender-se é vivido primeiramente pela nossa consciência. Ela vai sinalizando como num “clic”, e desperta para o reconhecimento das atitudes, que geraram um ping pong de ações falhas, inclusive de terceiros, que agora precisam ser revistas.
À medida em nos arrependemos dessas faltas, que também podemos chamar de excessos, geralmente nos entristecemos porque nos culpamos por estes acontecimentos. Contudo, este passo desperta o início da consciência para uma nova prática. Então, o que devemos, portanto, é potencializar a alegria de termos conseguido enxergar a realidade dos fatos, e que a partir daí podemos conduzir a situação de outra maneira. Só que essa outra maneira requer um movimento ainda mais aprofundado das práticas de conversão, que antes não existiam em nossa vida, apenas raramente, que é a vivência do Passo Confessar, o que nos leva a reconhecer que toda essa caminhada espera de nós um investimento muito intenso e fiel. Há quem se valha de inúmeros argumentos identificados como resistência, que muitas vezes desemboca no medo de estar sob o julgo de terceiros. Mas esse pensamento precisa ser trabalhado para que se possa compreender e aceitar essa conversão como uma limpeza das impurezas causadas pelo nosso egoísmo. Com o passar do tempo vamos praticando essa retrolavagem com mais facilidade do que pensamos.
E nesse momento, chegamos ao Passo Renascer, que recria a oportunidade de cheios de graça e de uma espiritualidade revestida de fé, encontrarmo-nos prontos a mexer com os fatos, pois quebramos os muros da ignorância, da arrogância, do medo de enfrentar, do receio de assumir-se como pai, mãe, esposo, companheira, irmão amigo, enfim, através do nosso esforço, da nossa aproximação com Deus, estamos preparados para combater o mal que estava em nós, maquiado pela nossa incompreensão. Mesmo não estando salvos, mesmo que ainda falte muito para alcançar nosso objetivo, estamos a caminho, estamos buscando esse direcionamento e isso é o mais importante, fazer a escolha do Caminho que nos leva à Verdade e à Vida.
Hoje pode ser o melhor dia de nossa vida porque estamos presente nele e podemos ser atuantes, e nesse contexto, temos autonomia para mudar as coisas do lugar, para usar os ingredientes certos na medida certa. O valor se encontra no sentido que damos às coisas que fazemos, às coisas que doamos, às coisas que sentimos, às coisas que podemos compreender, pois também é importante os instrumentos que vamos utilizar para modelar a nossa vida. Ninguém deve colocar tristeza no lugar da alegria, ou a mágoa no lugar do perdão. É como se teimássemos em colocar sal no café, no lugar do açúcar.
Se a humanidade não tinha conhecimento necessário para interpretar o amor de Deus, Cristo nos trouxe essa oportunidade. Jesus nos propôs um tempo de renascimento aqui, em vida mesmo. Basta que nos convertamos, que desejemos fazer a escolha certa, a escolha da vida, o projeto de reconstrução, a retomada da nossa espiritualidade, o encontro com Deus aqui, neste momento. Nesta passagem do Passo Renascer, devemos orar pelo nosso entendimento, para que saibamos compreender a vontade do Pai em nossa vida, para que o nosso SIM seja consistente e duradouro.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau