6º Domingo do Tempo Comum
1ª Leitura: Lv 13, 1-2.44-46
2ª Leitura: 1Cor 10,31-11,1
Evangelho: Mc 1,40-45
JESUS E OS MARGINALIZADOS
Marcos, no seu Evangelho, vai mostrando: “Quem é Jesus”. Não se preocupa com definições abstratas… mas apresenta concretamente Jesus agindo. A partir de seus gestos, podemos descobrir quem ele é: Jesus liberta o homem possuído por um espírito mau; estende a mão à sogra de Pedro e ajuda a levantar-se; HOJE vemos a sua atitude para com os marginalizados e EXCLUÍDOS.
A 1ª Leitura mostra severa discriminação dos LEPROSOS, na lei de Moisés: “O leproso andará com vestes rasgadas, cabelos soltos e barba coberta… Viverá isolado, morando fora do acampamento… Ao se encontrar com alguém, deve gritar: sou impuro…” (Lv 13,1-2.44-46). O preceito se explica pela preocupação de contágio e pelo conceito dos hebreus, que viam na lepra um castigo de Deus… O Leproso era assim um castigado de Deus e um excluído da comunidade. Logo, a lepra era um sofrimento duplamente cruel, por causa da doença em si e por causa da exclusão prevista pela Lei (Lv 13;) mas Lv 14 traz prescrições para curar os leprosos e reintegra-los. Na opinião do povo, a lepra devia ser obra de algum espírito muito ruim.
Na 2ª Leitura, Paulo convida a “fazer tudo para a glória de Deus”. (1Cor 10,31-11,1) e tira das “questões particulares” dos coríntios uma regra de vida que serve para todas as circunstâncias. Paulo chega ao termo de suas considerações com relação ao participar dos banquetes religiosos pagãos (que eram, ao mesmo tempo, festas civis) (1Cor 8) e com relação ao comer carne sacrificada aos ídolos e depois vendida no mercado (10,23-30). Acha que não convém usar de seu direito em coisas tão secundárias, se isso causa confusão nos “fracos na fé”, que não sabem distinguir o que é idolátrico e o que não o é. Inclusive, as refeições se fazem sob ação de graça; ora, como render graças se o irmão fica na confusão pelo que estou fazendo (10,30)? Daí a regra geral, adaptável a muitas circunstâncias: fazer tudo, comer, beber e tudo o mais, de modo que se possa dar graças e louvor a Deus (10,31). Paulo se coloca a si mesmo como exemplo (cf. dom. passado): o pregador deve ser a ilustração daquilo que ele prega.
No Evangelho, vemos a atitude de Cristo para um LEPROSO: purifica o doente e o reintegra na sua comunidade. (Mc 1,40-45). Um leproso, contrariando a lei, aproxima-se de Jesus… e de joelhos implora: “Se queres, podes limpar-me…”. Jesus “se compadece”, “estende a mão e toca-o…” e restitui a saúde: “Eu QUERO, fica curado…”.
Ao acolher e tocar o leproso, Jesus transgredia a lei, que proibia tocar neles. Mas logo em seguida a cumpre: manda apresentar-se ao Sacerdote, a quem cabia a decisão de reconhecer a cura e reintegrar na comunidade. Para Cristo, a caridade está acima da Lei… Jesus “compadecido” cura dois males: o mal da solidão e o mal da lepra. E reintegra o leproso na convivência fraterna… O lugar dos marginalizados é o lugar onde se pode encontrar Jesus. O Leproso, ao experimentar o poder salvador de Jesus, torna-se uma ardorosa testemunha do amor e da bondade de Deus.
Deus não exclui ninguém. Todos são chamados a integrar a família dos filhos de Deus. O Leproso não é um marginal, um pecador condenado, um homem indigno, mas um filho amado a quem Deus quer oferecer a Salvação e a vida. O Caminho do leproso deve ser o caminho de todo discípulo: Vir a Jesus, aceitar a própria limitação humana, experimentar a misericórdia e o poder libertador do Senhor e, finalmente tornar-se testemunha das grandes obras de Deus. Onde existe marginalização, o Reino de Deus ainda não chegou, pelo menos não completamente. E onde chega o Reino de Deus, a marginalização não deve mais existir.
Os leprosos de hoje: Infelizmente a “lepra” ainda hoje existe em nossa sociedade e na Igreja. Há muitos excluídos, mantidos “fora do acampamento”. São rejeitados, como se fossem leprosos, todos os “DIVERSOS”: os que pensam ou agem diferente de nós…. E quando alguém se sente um “leproso”, a quem ele deve se dirigir? Será que poderá contar com o apoio dos cristãos de sua comunidade, com a mesma confiança do leproso que procurou Jesus?
Leprosos de hoje são os que vivem nos barracos das favelas; são os desempregados das cidades industriais; os jovens drogados, vítimas de uma sociedade consumista; são as crianças abandonadas; são os idosos sem vez no emprego e na família, como produto descartável… São lepras que matam muito mais do que a lepra do tempo de Jesus.
Jesus não teve repugnância dos leprosos, pelo contrário, aproxima-se deles, porque vê neles um filho de Deus. Qual é a nossa atitude para com eles? Nossos preconceitos, nosso legalismo, não estão criando marginalização e exclusão para os nossos irmãos? Jesus sentiu “compaixão”… O que sentimos diante do sofrimento, da injustiça, da miséria de um irmão? “Estendemos a mão” ou apenas lamentamos: “Coitado”?
O encontro com Jesus transformou totalmente a vida do leproso. Ele não podia esconder a alegria, que esse encontro produziu na sua vida e sentiu a necessidade de dar testemunho. O nosso encontro com Cristo nessa eucaristia nos torna capazes de testemunhar no meio de nossos irmãos, com alegria e entusiasmo, a libertação que Cristo nos trouxe? Quais são os NOSSOS leprosos… que excluímos do nosso convívio? Estamos dispostos, a exemplo de Cristo, nos aproximar deles e estender a nossa mão?
Pe Osmar Debatin
Fonte: Site Diocese de Rio do Sul