Estamos vivenciando o Natal, que tradicionalmente mobiliza e esperança pela boa nova. Renovados, vamos fazendo nossos votos de felicidade, de paz e de saúde por mais um ano. Da mesma forma estamos vivenciando mais uma passo da sobriedade que se iniciou justamente quando estávamos nos preparando para a chegada do Menino Jesus no advento. Fizemos uma bela reflexão quando colocamos que o processo de mudança deve partir primeiro de nós. Sabemos o quanto é difícil quando a nossa família passa por sérios problemas e esse admitir exige humildade. Em algumas situações o admitir se torna muito doloroso, mas o enfrentamento é libertador. Por esta razão, é preciso persistir neste passo sempre que vivenciar um passo novo, para ter plena convicção da nossa caminhada.
No segundo passo trabalhamos a confiança, o que promoveu uma quebra nessa tensão pela compreensão da necessidade de admitir sobre nossas reais condições, pois foi preciso a partir da confiança quebrar alguns conceitos, e ter segurança para renunciar ações que estávamos acostumados a fazer. O passo confiar nos relembrou que a oração precisa ser feita com qualidade, com intenção na verdadeira crença de que tudo pode se transformar, mas é preciso deixar-se ser quebrado, visto que muitas vezes estamos convictos de que estamos fazendo a coisa certa quando somos tomados pelo convite à mudança. Em consequência, há um aprimoramento das relações familiares nesse percurso.
Com o passo entregar tivemos condições de exercitar a paciência e a tolerância. Com o nosso propósito de mudança também fizemos com que as pessoas ao nosso redor se posicionassem diante das nossas novas atitudes e nem sempre elas se colocam à favor, porque nesse exercício terão que sair do seu lugar e fazer um movimento de acolhida ou não daquilo que vamos trazer para essas nossas relações. Ou seja, o nosso processo de mudança requer um investimento que apresentarão altos e baixos e que ainda assim, o resultado não depende apenas de nós, mas como todos vão perceber o intuito do nosso esforço. Por esta razão, quando entregamos nossos desafios nas mãos de Deus e solicitamos a sua bênção e o seu apoio é para não nos deixarmos levar pelas dificuldades que vão se apresentar nesta caminhada.
Neste percurso vamos percebendo que ser uma pessoa que pensa e age diferente não é tão fácil quanto parece, pois notamos que todos estão acostumados a seguir um ritmo e quando este ritmo é quebrado, já não sabem como lidar com a situação e nos cobram por termos agido de tal forma. Vamos reconhecendo que as nossas atitudes interferem nas suas vidas e então nos damos conta de que se a mudança traz esse movimento, o que vínhamos fazendo também. E esse cair em si nos remete ao fato de que contribuímos para que as coisas e situações chegassem a esse ponto. Em alguns casos, enxergar as falhas do outro na verdade é uma maneira de não olharmos para nós mesmos e identificarmos nossa contribuição, nossa participação.
Falamos na semana anterior que o passo arrepender-se traz a possibilidade de acharmos esse ponto tão crucial que nos leva à cena dos erros e falhas cometidas pelo outro, porque ali nos encontramos e ali colaboramos, porque diante das atitudes dos outros também nos posicionamos e acolhemos ou ignoramos alguns fatos. Portanto, se chegamos aqui, foi para rever nossas ações e repensarmos sobre o que poderíamos ter feito melhor. E ainda que tenhamos agido mal no passado, o tempo presente é que nos traz as condições necessárias para consertarmos ou alterarmos essas atitudes.
Hoje, cientes do quanto precisamos nos tornar uma pessoa renovada, é preciso proclamar o que nos trouxe aqui a partir da nossa contribuição. De quais atitudes nos envergonhamos? Onde caímos? Onde motivamos o erro dos outros? Onde maltratamos em nome do nosso desejo de não nos envolver com as dificuldades de quem nos solicitava? Onde dominamos a situação com medo de não acreditar que o outro fosse capaz de vivê-la? E por fim, como podemos nos livrar dessa culpa? Por mais que nos arrependamos, por mais que mudemos a nossa maneira de pensar e agir, fica o acontecido que não se apaga da nossa memória. Quem chegou até aqui, está pronto para vivenciar o passo de hoje.
A confissão se apresenta para atender a essa proposta de nos colocarmos diante do Pai, reconhecendo a nossa responsabilidade pelos erros, de nos prostrarmos em reconhecimento as nossas falhas, às nossas más ações. Esse é um processo de resgate de nós mesmos. Quando nos colocamos frente ao Padre, estamos na verdade procurando nos limpar, pois é como se estivéssemos sujos e o arrependimento nos fez enxergar essa sujeira e não desejar mais estar sujo. A confissão representa a água que nos lava dessa sujeira.
A grande questão é que poucos se admitem sujos, poucos reconhecem que sujaram a si próprios. Muitos estão cheios de lama, quase petrificados, mas não aceitam que precisam de purificação. Sempre insisto em lembrar aqui sobre a validade da confissão. Falar sobre as falhas cometidas é muito importante para o nosso crescimento espiritual. Essa atitude envolve mais uma pessoa que se torna testemunha da nossa verdade e intercede a nosso favor como prova da magnitude por nós manifestada. O Padre se faz presente conosco diante do Pai e pede humildemente que sejamos acolhidos em função de um arrependimento verdadeiro que amparado pelo desejo de não mais repetir tais falhas, somos assim preenchidos da graça do Senhor.
Uma vez que estivemos sujos pelos deslizes cometidos e reconhecendo que essa sujeira não só escondia a nossa verdadeira maneira de ser como também nos tornava fétidos, nos voltamos à fonte primeira, que é aquela que lava, que purifica, podendo agora anunciar a quem ofendemos, a quem machucamos o quanto significou esse arrependimento para nós, o quanto isso nos aproximou do amor de Cristo e que agora também nos colocamos humildemente diante deste que machucamos, que magoamos, para que essa pessoa receba com alegria essa nossa mudança.
Devemos ter consciência que o nosso processo de mudança é uma caminhada que fazemos de forma individual. Cada uma vive a sua particularidade espiritual. Cada um tem o seu tempo de aprender a se aproximar de Deus. Isso que dizer que podemos esbarrar com pessoas que ainda estão iniciando a sua caminhada e é preciso compreensão. Se já estamos aqui prontos a confessar, talvez aquele a quem vamos nos colocar, vamos pedir desculpas, ainda não esteja preparado para perdoar. Mas esse é um movimento que essa pessoa terá que aprender em alguma hora. O nosso papel é seguir adiante, confiantes de que ela possa entender e aceitar um dia o nosso pedido de desculpas.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau