Neste primeiro momento vamos procurar esclarecer sobre o significado do ato de confessar. O que será mesmo que ele representa? A confissão é necessária para a nossa vida? Por que tantas pessoas não aderem essa prática? Infelizmente muitas práticas estão sendo afastadas da vida de uma pessoa porque dentro do seu seio familiar ela não aprende mais a se comprometer com a sua espiritualidade. Por esta razão é preciso investir nesse conhecimento e inseri-lo em nossa caminhada, para que possamos aproximar cada vez mais esse vínculo com o Pai, através do nosso próprio esforço.
Então, vamos lá. O que é exatamente a confissão? Entende-se a confissão como um sacramento apresentado por Jesus para que pudéssemos estar recapitulando os nossos erros, avaliando as nossas falhas, com a possibilidade de sermos compreendidos, e perdoadas as nossas faltas. Temos a oportunidade de reconciliarmo-nos com Deus através dessa fala ao pé do ouvido, pois essa proximidade nos leva ao serviço de Seu Reino. Além disso, nos torna mais evoluídos em humildade e nos prepara para o verdadeiro conhecimento, fortalece a vontade de ser uma pessoa sempre saudável através da própria consciência, evitando-se assim que se multipliquem as atitudes manifestadas em função exclusiva das vontades e desejos desmedidos, que prejudicam outras pessoas.
E qual é a idade adequada para isso? Como já falei anteriormente, a família deve instruir suas crianças desde pequena, que se ela cometer desobediências, machucar pessoas e animais, prejudicar a si mesma não cumprindo com seus compromissos, ela deve praticar a confissão como uma forma de trabalhar a sua sensibilidade, sua atenção para com as coisas de Deus. Quando uma criança começa a compreender sobre a dor dos sentimentos, essa é a idade em que se deve começar a tratar dessas questões. Quando falamos: olha, o seu amiguinho ficou triste porque você não deixou brincar com o seu brinquedo. E então vamos projetando o olhar no outro. Vamos exercitando o ato de compadecer-se pelo sofrimento do outro.
De certa maneira estamos, de forma que possam compreender, ensinando a fazer um exame de consciência pela atitude que tomou, propiciando o entristecimento do outro. Quando expomos para ela essa prática, estamos chamando a atenção para que percebam que a outra pessoa sofre com as nossas atitudes e que podemos fazer uma ação contrária, podemos ir até a pessoa e fazê-la ficar bem de novo. Essa é a consequência do arrependimento. Todavia, se não começarmos a educar as nossas crianças nessa prática, elas vão passar por cima de pessoas e coisas para alcançarem seus objetivos. É importante que canalizemos tais atitudes como um erro, dizendo: é errado machucar os outros, é errado ferir animais. É importante se dedicar para que o nosso filho tenha esse olhar diferenciado para não maltratar, para não estragar, para não destruir.
Se orientamos nossos filhos nesse sentido, essa prática fazer vai se espalhando diante de outras situações mais agravadas. Por tudo o que ensinamos vai ficar plantada a semente da avaliação sobre as próprias atitudes e quando algo mais grave acontecer, é certo de que ela vai nos procurar para buscar as mesmas orientações de forma mais amadurecida. Isso se chama confissão. Se trouxermos isso para a prática religiosa, melhor ainda. Essa pessoa terá ainda mais suporte para se desvencilhar dos seus erros pelo arrependimento e conversão.
Entende-se que o momento de confessar deve atender as necessidades do coração, não quando chega a quaresma, porque é uma data que se estimula a confissão, mas quando estamos cheios de arrependimento. Devemos nos confessar sempre que a responsabilidade dos nossos atos começa a nos cobrar uma atitude diferente. Devemos nos confessar para manter o exercício da avaliação crítica de nós mesmo, das nossas ações. Devemos nos confessar quando nos sentimos distanciados de Deus, sem ânimo ou coragem para reverter aquilo que fizemos.
Isso quer dizer que não faltam razões para nos confessar. Outro dia um rapaz me participou uma dúvida sua: mas o que vou dizer, como vou dizer, o que devo falar, como inicio essa confissão, se nunca vivi isto? Devemos começar falando sobre o que fez a gente chegar até ali. Pode-se falar da dificuldade de estar falando, pode-se falar da dor que está sentindo em ter ofendido alguém. O importante é que se desarme, pois achamos que estamos entregando as armas ao inimigo e seremos julgados. É certo que estamos entregando as armas que utilizamos para ferir, mas na verdade estamos entregando ao nosso Amigo Maior, para que Ele nos proteja dessas mesmas armas, porque essas armas, elas tem dois canos, que apontam para os dois lados, afetando a vítima e também aquele que fere.
Se observarmos bem, saímos imensamente prejudicados quando prejudicamos. Às vezes cometemos falhas sem nos darmos conta, pecamos pela ignorância. Nesse caso só vamos perceber o quanto nos enganamos bem depois, mas ainda assim, aparecem alguns indícios de que agimos de forma incoerente. Fazendo uma avaliação do nosso dia-a-dia, podemos identificar esses pequenos deslizes. Daí temos duas opções: deixar para lá, até que se torne algo maior e mais doloroso ou tentar reparar, mesmo reconhecendo que foi sem intenção de prejudicar. Esse reconhecimento depende de uma condição de humildade muito grande. Cada vez que agimos nesse sentido, estamos nos renovando, estamos crescendo e aproximando a nossa caminhada rumo ao Reino.
Todavia, podermos reconhecer as nossas falhas diária através dos pecados capitais, que são aqueles os quais mais caímos, pois são cometidos deliberadamente, desde que camuflados, onde há certa permissividade em cometê-los. Há quem considere estes, faltas leves, mas penso que uma falha grande começa-se pela repetição das pequenas. Então, só dando uma pincelada sobre estas ditas “pequenas falhas”, podemos entender como e porque elas podem nos levar a cometer erros gravíssimos.
SOBERBA – quando assim nos encontramos, sentimo-nos orgulhosos de nós por algum feito. A satisfação não cabe em nós de tanta que nos invade. Mas acontece que essa satisfação se volta apenas para nós e queremos nos sentir assim o tempo todo. Por esta razão começamos a deixar de perceber quem está ao nosso lado e esquecer-se da existência dos demais. Agora, as pessoas só servem para nos aclamar. O que elas sentem ou sofrem pouco nos interessa. A arrogância toma conta do nosso ser e odiamos se encontramos qualquer outra pessoa que ocupe esse lugar de brilho. Não queremos repartir nada com ninguém.
AVAREZA – sempre tenho em mente que esses pecados capitais são uma corrente do mal porque eles nunca andar sozinhos. A avareza, por exemplo, acontece junto com a soberba, pois todos são preenchidos de muito egoísmo. Queremos o mundo voltado unicamente para nós. Não partilhamos, não confraternizamos, não acolhemos. A única coisa que distribuímos é grosseria e mesquinhez. Mais uma vez não estamos interessados nos problemas dos outros, principalmente se precisarem de nós.
LUXÚRIA – esse pecado trata da ostentação. Queremos ser os melhores, os mais bonitos, os mais bem afeiçoados, os que brilham. Ninguém deve aparecer mais do que a gente. Percebem como as coisas sempre estão voltadas para nós? Queremos ser desejados, usamos o nosso corpo para isso e reciprocamente, também queremos usar o corpo do outro. Nada mais importa neste caso senão o desejo carnal, até que vire doença, até que vire dependência.
IRA – esse é o pecado do pavio curto. Nada pode ser dito ou questionado, muito menos argumentado. A intolerância é a sua irmã gêmea. A ignorância sua prima mais próxima. Juntas afastam qualquer ser humano da nossa convivência. E ainda nos fazemos de vítimas por que as pessoas é que não nos compreendem. Temos uma facilidade incomum de nos ofendermos com qualquer coisa, até mesmo com o vento que desmancha o nosso cabelo.
GULA – deste mal muito sofrem. Usamos a tradicional expressão “comer com os olhos”. Hoje a saúde pública busca soluções para tratar casos agravados, mas ele começa para suprir e satisfazer as vontades do corpo. Ainda estamos falando das nossas próprias vontades que tem que ser atendidas. As pessoas que se encontram em obesidade se sentem excluídas porque a sociedade prega uma beleza em que ela não dá conta de se enquadrar e geralmente se deprimem com essa realidade.
INVEJA – a gente sempre carrega um pouco. É preciso ter maturidade emocional para reconhecer e admitir o momento de se trabalhar quando nos encontramos nessa falta. Geralmente ela dá seus primeiros indícios com um elogio, depois desponta a vontade de querer ter algo igual. Posteriormente, se a gente não se apropria daquilo, carregamos um ódio inquietante, até que façamos algo para ter em nossas mãos. O importante neste caso é ter, sempre mais, mais que o outro.
PREGUIÇA – essa é uma companheira muito conhecida. Ela se alimenta do nada, quanto mais nada fazemos, mais ela se fortalece. Quanto mais deixamos de fazer, mais atrofiamos. A preguiça se enquadra nas atitudes, nas decisões, nos enfrentamentos, nas escolhas. Tornamo-nos fracos, covardes, indecisos, desanimados, enfim, não conseguimos mais crescer nem profissionalmente, nem espiritualmente, nem de qualquer outra maneira.
Já temos aí um grande desafio pela frente que é o de compreender sobre as nossas falhas e começar a dar um valor especial ao ato de se confessar. Aproveitemos o momento quaresmal para trabalhar essas atitudes em nossa vida. Tanto a de reconhecer os deslizes, quanto a de se confessar e lapidar o nosso processo de conversão.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau