Palavra: Hb 8, 12:
12. “Porque eu vou perdoar as faltas deles e não me lembrarei mais dos seus pecados…”
Este versículo de Hebreus sintetiza o passo que vamos refletir hoje. Os erros são resultados da nossa fraqueza. O pecado é a consistência deste erro em nossa vida. O erro fatalmente vai tomando uma forma concreta e intensa em nossa vida, de forma que passa a fazer parte da nossa constituição, provocando uma morte interior do bem que faz parte de nós. Para entender o pecado é preciso reconhecer o caminho que o leva a movimentar as nossas ações.
Compreendendo melhor a situação, consideremos que tudo começa quando nos sentimos menosprezados, e na dor desejamos que aquele que provocou isso sinta a mesma coisa. Quando esta situação é acompanhada de grande gravidade, vamos transferindo esse desejo para além de outras pessoas. Um caso perfeito para explicar essa fala é o bulling, onde a pessoa diminui outras. Ela, comprovadamente já sofreu humilhação e revida, mesmo que em situação diferente. O que conta é que ela se sinta vingada daquilo que trouxe sofrimento para ela. Contudo, isso é um caso agravadíssimo que requer intervensões maiores. Mas nos faz entender que o desprezo é fortalecido pela dor e provoca a sede de revidar. Neste caso o sofrimento já trouxe um adoecimento porque passou dos limites das normas existentes na sociedade e deve ser tratado como uma doença psíquica.
Mas, voltando para os nossos erros diários, somos afetados no trabalho, quando alguém nos chama à atenção por uma falha ou pela falta de atenção ou pode até ter se confundido. Nessas condições já fomos maltratados. O nosso ego já foi ferido porque detestamos que nos chamem à atenção. Não aceitamos ser apontados. A sensação de humilhação nos envergonha, principalmente se hierarquicamente somos inferiores no quadro de trabalho. E então queremos devolver essa coisa que aperta o nosso peito.
Mas não pensemos que isso só acontece no trabalho. Nas ruas, quando trombamos com alguém que já está afobado com suas próprias situações, o dilema pode se tornar extremamente desagradável, principalmente no trânsito. Em casa, quando acreditamos que os familiares tem a obrigação de entender o que estamos passando e não percebem que estamos fragilizados, determinadas palavras soam aos nossos ouvidos como pedradas. Queremos ou não queremos revidar?
É importante salientar que no momento em que nos sentimos assim, menosprezados, estamos considerando apenas um lado, o nosso. Esse fato é tão marcante que na maioria das vezes o outro nem imagina que tudo isso passa pela nossa cabeça. Nem sempre o comportamento do outro acontece para nos ofender, mas ofende. E a essas alturas, a sua intensão pouco importa. O que levaremos em consideração a partir daí é o sentimento que as ações do outro provocou em nós. Então, o primeiro sentimento negativo que nasce para se compor um erro, e posteriormente um pecado é o individualismo e o egoísmo.
Pois bem, nesses momentos não existem só os sentimentos ruins. Também somos preenchidos de sentimentos que nos salvam dos erros, que é a tolerância, a paciência, a empatia, que significa se colocar no lugar do outro e entender pelo que o outro está passando; existe a humildade, o sentimento que cala, a doçura, a mansidão, a coerência, a sensatez, a percepção do agravamento. Olhem como Deus nos ampara antes de cometermos o erro. E para cometê-lo vamos passando por cima de cada um desses sentimentos. Cada um deles existe para nos fortalecer, para que possamos driblar o sentimento mesquinho que valoriza apenas um lado da relação.
Por esta fase todos nós passamos, pois é humano amar primeiro a si e depois aos outros. Amar a nós mesmos como aos outros é um desafio que alcansamos com muito empenho e dedicação. O erro acontece quando não nos policiamos, quando não nos igualamos, quando cegamos ao que acontece ao nosso redor, quando não consideramos as demais situações, quando potencializamos valores que não fazem sentido estar em tão alta conta. Aqui devemos parar. Ir além significa muito mais que repetir a dose. Ir além representa não rever as atitudes. Ir além também não é permanecer em ignorância. Ir além quer dizer ter consciência e optar pelo mal, ter consciência e desejar que o sofrimento tenha continuidade no outro, alimentando e fazendo o próprio sofrimento criar raízes tão profundas que herdaremos como frutos, o pecado. Ou seja, ir além é pecar.
Quando pecamos vivenciamos outros sentimento diferentes daqueles que tivemos a oportunidade de sentir antes de cometer o erro. Dessa vez são sentimentos pesados, como a amargura, solidão, triteza, frustração, desânimo, inferioridade, vergonha, insegurança e negatividade. Se mirturarmos todos esses sentimentos, por fim teremos o arrependimento. O pecado se constitui inicialmente pela satisfação e passa por cada um desses sentimentos, mas seu fim só se conclui com o arrependimento. Se não chegarmos ao arrependimento ainda estaremos alí, em pecado.
Sobre esta questão, falamos na semana passada, quando mencionamos a Parábola do Filho Pródigo. O arrenpendimento aconteceu quando o jovem se deu conta das atitudes que vinha tomando, mas para isso passou por todos os sentimentos de fragilidade que citamos. Ao encontro do pai veio confessar que pecou contra Deus e contra ele. Desejava a absolvição. Ainda que seu pecado tenha se finalizado no arrependimento, a absolvição só se concluiu na confissão, quando o jovem admitiu, verbalizou, expôs o que foi capaz de fazer. Essa atitude desvalorizou e colocou por terra todos os sentimentos ruins que ele tinha tornado resistente.
Arrisco dizer que desde o começo de nossa caminhada, lá no primeiro passo, estivemos nos preparando para essa hora. Quando iniciamos, não tínhamos condições hábeis para aceitar tamanha tranformação. Só o fato de aceitar a Caminhada como um processo pessoal e admitir para nós mesmos que precisamos nos reconhecer como falhos já foi muito difícil. Assim como no erro, Deus nos oportunizou nesse Projeto de Vida Nova, sentir a Sua presença tornando-nos mais confiantes e nos preenchendo de segurança através da oração, fortalecendo-nos pela entrega do mais espinhoso sofrimento.
Ao cair em si, ao dar-se conta do quanto machucamos, o quanto fizemos sofrer a nós e aos outros, refletimos sobre a dor que levou ao arrependimento. Mas não podemos parar por aqui. Estamos no meio de uma caminhada e o nosso propósito é concluí-la. Cada passo pressupõe o seu sentido e um não se completa sem o que o antecede, ou sem o que vem a seguir. E hoje, somos convidados a conhecer o direcionamento da confissão. Comparando o pecado como uma sujeira instalada em nosso coração, o arrependimento pode ser entendido como uma água que adquirimos para lavar, inclusive preenchida com as nossas lágrimas. Todavia não são suficientes para tirar as manchas. O arrependimentos varreu o grosso da sujeira pelo meio, onde podemos expor o nosso coração, mas não completamente porque os cantos estão manchados. A confissão expurga de dentro de nós as sujeiras que estão escondidas aos olhos do mundo. Porém, para que possamos ser limpos, precisamos mostrar onde estar sujo.
Agora vivemos outros novos sentimentos que fazem um reboliço em nossa vida e que nos deixam inquietos, pois não estamos mais de posse de nós mesmos, afinal estamos entregando o nosso coração e todo o nosso ser ao Pai para que ele nos limpe e nos purifique. São estes, sentimentos contraditórios como alegria e receio, esperança e ansiedade, desconforto e coragem, satifação e apreensão. Por tudo o que já fizemos, parece que estamos passando por uma prova final. Contudo, essa sensação é resquício das ações que produzimos. A partir do arrependimento fizemos a nossa parte, removemos as sujeiras que éramos capazes. Na confissão devemos deixar para Deus a parte que não temos condições de fazer. Deixemos que Ele nos limpe por completo. O antídoto que Ele oferece para nos limpar é o perdão.
Mas a resistência a esse encontro parece-nos muito assustador. Argumentar que Ele já conhece toda a nossa vida é uma maneira de não assumir esse retorno. Não à toa, nos arrependemos tanto das coisas que fazemos e não conseguimos nos livrar do peso que carregamos, não é? É na confissão que encontraremos liberdade, felicidade e paz de espírito. Indo ao encontro do Pai, somos agraciados sobretudo com a plenitude do Seu Espírito Santo, que nos recria e nos faz criaturas novas. Com este gesto quebramos o silêncio que nos mascarava como alguém que não éramos, ou como alguém que gostaríamos de ser, mas não somos. Aqui, assumimos as nossas responsabilidades e paramos de justificá-las.
Todavia, muitos criam resistência em se colocar diante do padre, argumentando ser ele uma pessoa que também tem pecados. Graças a Deus temos essa chance, pois ainda não somos dignos de estarmos diante de um ser completamente puro. Quem parte dessa fala declara explicitamente que a vergonha é mais forte que o desejo de consertar os erros. Não é o padre quem perdoa os pecados. Pelo conhecimento que tem a respeito das Escrituras, ele nos auxilia a entender e a procurar novos caminhos. Mas a absolvição não depende dele. Ele apenas intercede e testemunha o nosso arrependimento. O Passo Confessar sugere a ação de Deus em nosso processo de purificação como condição essencial para reavaliar a maneira como conduzimos a nossa vida, sendo tomados pela consciência dos nossos problemas e percebidos de forma mais serena, o que nos dá condições de mudar não só as nossas atitudes, mas inclisive a nossa maneira de pensar.
Então, como se aproximar sem medo desse sacramento de misericórdia? Sabemos que os nossos males são as nossas fraquezas e sabemos o quanto nos curvamos ao nosso mal, o quanto cedemos aos nossos vícios. Para enfrentá-los devemos nos valer das nossas orações, da Palavra Sagrada e da Eucaristia. Cada vez que não valorizamos este tripé, este pilar, estamos optando por priorizar outros valores. Por esta razão, no Programa de Recuperação não buscamos soluções momentâneas. Tentamos aprender de forma voluntária praticar o bom senso, a sinceridade, a conversão em Cristo, e aquilo que se aprende, se leva para a vida toda.
O momento da confissão também não é um momento de justificativas, mas de reconhecimento das falhas. Mesmo sabendo que o segredo de confissão é inviolável, muitos buscam se confessar com padres que não são de sua comunidade. Por isso, é importante falar sobre a falta de jeito, sobre o desconforto ou sobre não saber por onde começar. O padre também nos preparará para a confissão. Este é o seu papel. A confissão é um sacramento de reconciliação e sendo assim, deve-nos trazer satisfação e confiança nesta presença sacerdotal que nos auxilia.
Mudando o nosso assunto, já estamos bem próximos do Encontro Diocesano e reforçamos o nosso convite à sua participação. Aproveite para fazer a sua inscrição. O encontro é direcionado a todos aqueles que buscam esclarecimentos a respeito de como lidar com a problemática das drogas. Os palestrantes apresentarão as suas vivências, nos oferecendo condições de ampliar nosso conhecimento, fortalecendo não só as experiências familiares, mas o trabalho dentro da Pastoral da Sobriedade. Diga SIM à vida e não às drogas.
As incrições podem ser feitas pelo email [email protected] ou pelos telefones 9609-4073 e 9919-2298, respectivamente com o Pe. José e com Malena.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sopbriedade da Diocese de Blumenau