Leitura da Palavra: Lc 13, 1-5:
“1. Neste mesmo tempo contavam alguns, o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.
2. Jesus toma a palavra e lhes pergunta: Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo?
3. Não. Digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
4. Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém?
5. Não. Digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.”
No caminho da vida há acontecimentos trágicos. Os galileus que Pilatos matou, os homens da Torre de Siloé, a queda de um avião, um acidente de trânsito ou um dependente químico em nossa família. Durante nossa vida nós acompanhamos, vivenciamos muitas tragédias pessoais, familiares ou bem próximas de nós. Isso não significa que as vítimas são mais pecadoras do que as outras pessoas. Também não entendemos o porquê das tragédias, pois focamos na nossa individualidade e sentimos muita piedade de nós, como se estes acontecimentos tivessem o sentido de nos punir. Mas o texto bíblico aproveita o acontecido para nos fazer refletir nobre as nossas misérias interiores.
Jesus nos convida a refletir sobre os fatos e nos coloca a urgência do arrependimento, pois a morte pode vir de improviso e a conversão é um processo que acontece gradativamente. A mudança de vida é resultado dessa conversão. A partir de um fato ou de uma tragédia, comumente avaliamos o nosso viver. O que os acontecimentos têm a dizer sobre nós e a situação em que vivemos? O que Deus nos quer falar a partir da problemática da dependência, principalmente quando está instalada em nossa família?
Não há uma relação direta entre culpa e sofrimento, entre sofrimento e castigo, ou ainda culpa e castigo. É fato que se nos detivermos em um desses três não conseguiremos dar continuidade à nossa caminhada. Quaisquer deles vão nos impedir de rever nossos conceitos, de avaliar nossas atitudes, de pensar outras possibilidades. A consciência sugere ação. É necessário que compreendamos o contexto em que vivemos e nos questionemos onde podemos mudar com a nossa mudança.
Podemos começar a refletir sobre a nossa omissão, a nossa negligência, o nosso comodismo, a nossa falta de coragem em assumir fielmente o nosso papel dentro da família. Arrepender-se não quer dizer culpar-se e punir-se, mas resignar-se. Arrepender-se significa dar-se conta do que pode ser transformado pelas nossas próprias ações. Arrepender-se significa tomar consciência das atitudes que contribuíram para o desequilíbrio do nosso relacionamento familiar.
O mistério do sofrimento sem o espírito de fé esmaga o homem e impede de retomar a vida. Impede de buscar condições melhores, de refletir sobre as mudanças e de agir de forma mais segura. O fato já aconteceu, é uma realidade. Agora é preciso encontrar a saída. Jesus nos convida para uma mudança urgente. A partir do ocorrido precisamos nos restabelecer. A vida não será mais a mesma. É necessário reconstruir uma nova história, aprendendo com os fatos ocorridos. Peçamos ao Pai que nos fortaleça na fé e que em nossas orações clamemos por firmeza para enfrentar as dificuldades, e que o fardo se torne mais leve porque nos tornamos mais resistentes.
Malena Andreade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade na Diocese de Blumenau