Palavra: 1Pd 5,7-11:
7. “Coloquem nas mãos de Deus qualquer preocupação, pois é Ele quem cuida de vocês.
8. Sejam sóbrios e fiquem de prontidão! Pois o diabo, que é o inimigo de vocês, os rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar.
9. Resistam ao diabo, permanecendo firmes na fé, pois vocês sabem que essa mesma espécie de sofrimento atinge os seus irmãos que estão espalhados pelo mundo.
10. Depois de sofrerem um pouco, o Deus de toda graça, Aquele que os chamou em Cristo para a Sua Glória eterna, Ele os restabelecerá, firmará e fortalecerá, e fará com que vocês sejam inabaláveis.
11. A Deus pertence todo o poder para sempre. Amém!”
Estamos mais uma vez prontos a dar um novo passo nesta nova caminhada de sobriedade. Tivemos que nos preparar para chegar até aqui, tivemos que ter força e coragem. Tivemos que reconhecer que enxergamos primeiro as falhas dos outros para depois percebermos que é a nossa que precisa ser cuidada. Tivemos que identificar onde erramos e voltar lá atrás para desfazer esse mal entendido. Não lá atrás no nosso passado, mas lá, há três semanas, no primeiro passo. E para aqueles que começam a partir de agora, vale lembrar que já vivenciamos dois passos muito importantes.
O Passo Admitir nos convida a fazer a experiência de sobriedade, reconhecendo que temos falhas, maus hábitos, que cometemos deslizes, indelicadezas, ofensas, e por arrogância, enchemos os pulmões e batemos no peito, alegando que o outro está condenado pelo seu vício. Para muitos, este é o passo mais difícil porque para vivenciá-lo é necessário aproximar-se da humildade e colocar-se no mesmo nível de todos os outros. A proposta é lançada para aqueles que reconhecem que sozinhos, não vão além de si mesmos. Nesse aspecto, se não nos preenchermos da pedagogia de Jesus Libertador, se não deixarmos que a Palavra nos alimente, não teremos de onde tirar forças para lidar com todas as dificuldades existentes em nossa vida.
O Passo Confiar veio a seguir trazendo esperanças, facilitando o percurso desta Caminhada que já tão cedo arranca de nós o véu do descomprometimento. Aceitamos fazer esta experiência de Vida Nova e ficamos aflitos porque nos encontramos de frente com as nossas más ações e o quanto precisamos trabalhar a nós mesmos. Felizmente neste segundo passo podemos confiar na presença de Jesus em nossa vida. Ele compreende as nossas fraquezas e nos dá força para seguir adiante, resgatando a pessoa de bom coração e digna que tínhamos deixado de lado, a pessoa que em razão dos erros se afastou das práticas coerentes e valorizou as intrigas, as ofensas, a pessoa em nós que se tornou fria, grosseira, indiferente. Fomos confortados neste passo e pudemos nos valer dessa oportunidade para nos sentir mais estimulados a vivenciar os próximos passos.
Agora estamos nos aproximando do Passo Entregar. Na verdade este passo é um complemento do anterior que se concretiza na perseverança. Se realmente confiamos que o Senhor pode fazer algo por nós, se confiamos que Ele pode fortalecer a nossa conversão, então cabe a nós entregarmos todas as nossas fraquezas para que se complete a Sua obra em nós. E não adianta mostrarmos apenas o nosso lado bom, nossas benfeitorias, nossas atitudes benevolentes. Estas não precisam ser mexidas. Devemos entregar em Suas mãos aquilo que não conseguimos transformar por causa da nossa incapacidade, por causa da nossa desestrutura com relação aos problemas. Quanto mais resistirmos, mais distantes nos tornamos daquilo que buscamos.
Portanto, compreendendo a importância do aspecto divino em nossa vida, ou seja, o valor da espiritualidade vivida em nossas ações, é que tomamos neste terceiro passo a decisão de nos entregar aos cuidados de Deus. Passamos a ser conduzidos por suas promessas, desde que acolhamos obedientemente Seus preceitos, e aceitemos de coração a condição de sermos instrumentos do Seu amor. Quando nos entregamos por completo, também nos afastamos de situações que nos induzem aos vícios, também optamos em buscar recursos para enfrentar o desânimo, também encontramos forças nas orações pra lidar com os nossos medos.
Toda reflexão gera um aprendizado, mas quem realiza é a prática e uma coisa complementa a outra. Em muitos momentos ainda vamos tropeçar tomados pela inconseqüência ou insensatez quando agimos por impulso. Se a nossa entrega num primeiro momento, ela é especial e intensa, da mesma forma deve se manter na continuidade do nosso dia-a-dia. Eis a razão pela qual a gente recai nas falhas e nos maus hábitos. A preguiça, por exemplo, é um mal que nos cerca com muita facilidade e nos deixamos levar de maneira muito cômoda, pois corremos atrás quando estamos angustiados, suplicamos a Deus em nosso auxílio e somos atendidos, mas ao invés de nos mantermos perseverantes, vamos relaxando e esquecendo de cumprir aquilo que Deus quer de nós e aí começamos novamente a trilhar o caminho largo, das facilidades, dos prazeres indevidos, da omissão, da rejeição, e por aí vai se adentrando sutilmente numa via em que não consegue mais voltar porque esse percurso vai apagando tudo o que se construiu.
A única esperança é deixar-se morrer para esse caminho, no sentido de negá-lo, de não se manter nele, reconhecendo as atitudes errôneas que se escolheu e assumir uma nova postura. Essa Caminhada de Vida Nova nos auxilia a rever com tranqüilidade tudo o que precisamos para viver na sobriedade dos pensamentos, dos sentimentos e das ações.
A Leitura de hoje nos ensina a viver a lição da humildade, reconhecendo a nossa pequenez diante dos numerosos problemas que enfrentamos. Quando estamos preocupados, não conseguimos fazer nada direito, pois não acontece uma dedicação plena em função dos pensamentos conturbados. Tem muita gente que não tem Deus à sua frente e nas horas mais difíceis tomam decisões precipitadas, procurando resolver as coisas instintivamente, argumentando que não conseguiu evitar. Isso deixa claro que faltou referência pra se guiar, que faltou coerência no pensar e no agir. Por isso é pedido na Leitura para que fiquemos de prontidão. Eis a razão pela qual devemos deixar aos cuidados do Pai aquilo que não temos condições de levar adiante. Uma vez mais relaxados, podemos seguir em frente com as coisas que damos conta.
Mudar os hábitos requer esforço, e em alguns momentos desafios maiores, pois largar as farpas da nossa vida gera sofrimento. Porém, o desejo de transformação deve ser maior, a vontade de se voltar às boas práticas deve sobrepor ao comodismo, à preguiça e as atitudes compulsivas. Na verdade, vamos ter que enfrentar a nós mesmos, o que é muito difícil. Por esta razão precisamos nos apegar muito às orações para que não caiamos em tentação. É muito fácil cedermos às nossas próprias desculpas. Então, que a gente possa entregar também o nosso próprio ser para que Deus nos tome conta.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau