Leitura da Palavra: At 2, 42-47:
“42. Eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações.
43. Em todos eles havia temor, por causa dos numerosos prodígios e sinais que os apóstolos realizavam.
44. Todos os que abraçaram a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas;
45. vendiam suas propriedade e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um.
46. diariamente, todos juntos freqüentavam o Templo e nas casas partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração.
47. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a salvação.”
Estamos novamente nos encontrando nesta caminhada e verificando o que precisamos aprender no passo desta semana. Este nosso encontro é resultado de um processo que se iniciou com o Passo Admitir, o qual nos foi trazido uma reflexão a respeito dos nossos enfrentamentos pessoais, onde fomos convidados a reconhecer as nossas próprias falhas antes de apontar os defeitos dos outros. É certo que, como qualquer outro, nunca chegamos até aqui para buscar mudar primeiramente a nós mesmos. Nosso maior propósito é resolver os problemas que nos rodeiam, buscando uma solução que possa começar pelas pessoas que nos fazem sofrer.
Mas, ao chegar aqui, revertemos o processo. Somos convidados a olhar para o nosso interior e ver o quanto desgastado estamos por não termos tomado iniciativa ou por agirmos em razão das mudanças do outro e não das nossas próprias. Quando tomamos conhecimento que as nossas atitudes não passaram despercebidas, que estávamos camuflando as nossas pequenas falhas ou nossos maus hábitos, ficamos entristecidos, pois pensávamos que uma vez isto não sendo percebido pela maioria, nós também íamos deixar de enxergar. E quando o problema do outro é mais grave, isso se torna um motivador para nós esquecermos os nossos ou onde precisamos mudar.
No primeiro passo damos uma acordada nesta situação e despertamos os mais profundos erros adormecidos, que muitas vezes propiciaram novos erros e enraizaram-se em outras pessoas. Daí, quando essa dor toma forma nos deparamos diante de dois enfrentamentos: ou buscamos resolver como deveríamos ter feito ou renunciamos a nós mesmos e mantermo-nos errando, com a diferença de que não há mais como camuflar o nosso nível de comprometimento diante da situação que se apresenta.
Essa angústia é aliviada pelo segundo Passo Confiar que nos ajuda na proposta de fidelidade que nos é oferecida. A aproximação da prática da oração constante nos mostra que há um espaço que ainda não tinha sido explorado em nossa vida, porque no nosso entender essa prática que nos foi ensinada era realizada como um cumprimento de dever, não um envolvimento íntimo com Cristo. A oração que nos foi apresentada neste passo nos faz entender o valor do diálogo sincero. Rezar significa mais que conversar com Deus. Rezar quer dizer deixar que Ele nos invada e que nos transforme por inteiro. Rezar nos permite relacionar a nossa vida com aquilo que Jesus nos trouxe e ajuda a enxergar onde devemos mudar.
Portanto, percebendo como vínhamos conduzindo a nossa maneira de ser e estar no mundo, agora, com o segundo passo, podemos nos amparar quando formos invadidos pelas dificuldades, mas este novo processo deve acontecer constantemente para dar suporte aos novos desafios. E como já estamos vivenciando o Passo Entregar, vamos acrescentando nesta oração a nossa verdade, por mais difícil que ela possa parecer, devemos mostrar ao Pai que estamos enfrentando até situações que nem sabíamos que existiam em nome de um compromisso que resolvemos assumir com nós mesmos. Vamos descobrindo novos erros, novas faltas, falhas que entendíamos como qualidades e que revendo os nossos conceitos, percebemos o quanto nos enganamos.
Este é o momento da entrega total de todo o nosso ser. Nas mãos de Deus colocamos as alegrias e as tristezas, os desafios e as conquistas, as facilidades e as dificuldades, para que Ele nos abençoe e nos dê o suporte necessário para seguirmos em frente. Esta Leitura de hoje fala-nos de perseverança. Todos viviam em união comum, em completa entrega. Juntos partilhavam o pão e a oração. Abraçar a fé é muito mais que um exercício ou que um querer. Significa estar em constante intimidade com Deus. É baixar a guarda, diminuir a resistência, aceitar humildemente este encontro e ceder aos propósitos de mudança. Quando acreditamos e desejamos esta mudança, a probabilidade de haver esse encontro com Deus é mais rápida e para que Ele possa realmente tocar em nosso coração é preciso que a gente se aproxime.
Muitas vezes confundimos a fé com algo que deve ser explicado ou compreendido. Mas a fé só pode ser interpretada pelo próprio Deus. Só o Senhor nos conhece a ponto de compreender sobre a nossa fé, porque só Ele nos conhece o suficiente. A nossa fé se revela na entrega. Hoje em dia vivemos muito essa condição, que é a de voltar os olhares apenas para os benefícios próprios, valorizando só e exclusivamente o retorno financeiro. Dessa forma, fica difícil nos dedicarmos a essa fidelidade. Ser fiel é uma questão de querer. De querer dedicar-se, de estar disponível para esse amor, de admitir-se insuficiente diante das dores que o mundo nos impõe e buscar encontrar o caminho do bem maior. Ao vivenciarmos este passo, depois de admitirmos o quanto precisamos mudar, e se acreditamos que podemos fazer outras escolhas, teremos então condições de fazermos parte desse Programa de Vida Nova que nos liberta dos nossos vícios e nos mostra uma nova maneira de viver, sem as falhas que insistentemente repetimos.
A nossa fé depende desse laço que firmamos nas nossas orações. O VÍCIO NOS LEVA À MORTE. Devemos permanecer firmes no nosso propósito. E se entregamos a nossa vida nas mãos de Deus, Ele não vai nos perder de vista. Deus em Sua sabedoria nos dá o cobertor adequado ao nosso merecimento e na maioria das vezes só conseguimos enxergar tudo isso bem depois. Não estamos sozinhos, e sendo assim, podemos caminhar ainda mais com firmeza e perseverança, pois é o próprio JESUS quem está nos dando sustentação. JESUS nos convida a aprender com Ele. Propõe-se a aliviar nosso fardo e nos restabelecer, tornando-nos inabaláveis. Com a Sua presença em nossa vida, alcançaremos redenção. Este é o momento de entregar-se por completo. Temos a certeza de que o Senhor ouve o clamor do seu povo sofrido. Na sua misericórdia infinita Ele acolhe e atende as nossas orações. Firmes nessa convicção, devemos entregar todos os nossos anseios, nossas dúvidas, nosso pensar, nosso agir, para que possamos sentir a Sua infinita bondade.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau