Gn 12, 1-4ª
Pela opção que nós resolvemos seguir de coração, estamos hoje abertos para dar mais um passo nessa nova caminhada de vida. Para estarmos aqui, tivemos que, na semana anterior, refletir o que realmente queremos para o nosso futuro, o que queremos construir, ou, o que pretendemos deixar. Se aqui estamos é porque já fizemos uma opção. E esta opção começou na semana anterior com o passo admitir. Admitimos que queremos mudar e para tanto precisamos ser pessoas melhores, deixando para traz os hábitos que nos destroem como seres humanos, vícios que acabam com a nossa vida, maus pensamentos e manias que nos tornam inferiores porque assim agimos e assim aprendemos a ser.
Dessa forma, quando dissemos a nós mesmos que queremos mudar, que queremos ser uma nova pessoa, estamos nos propondo a viver um novo estágio da nossa vida. Se não sabemos por onde começar, o que fazer? Na verdade não existe uma fórmula para seguir. Cada um tem o seu jeito de ser e essa trajetória que nós vivemos é completamente diferente da de qualquer um, então cada qual vai tratar de descobrir uma maneira de dar certo e se assim não for, devemos recomeçar e tentar novamente, porque é aí que se encontra o milagre da vida, a renovação, significa reinventar para que venha a dar certo.
Mas pensei que caminhar na luz fosse parecer seguro, comenta alguém. Sim, seguro para quem confia. Estamos fazendo uma experiência de vida, vivendo uma situação que nos propomos, mas que ainda não sabemos onde vai dar. A única certeza que temos é que Deus está conosco. Quando falamos essas palavras, queremos acreditar nelas, mas muitas vezes precisamos repeti-las várias vezes até que venhamos a nos convencer. E só admitindo que pecamos por não confiar o suficiente é que podemos nos depositar verdadeiramente diante de Deus e pedir primeiro forças para caminhar. Quem disse que é fácil assim, confiar?
O passo confiar deve ser muito bem exercitado, pois é uma ação que se expressa de dentro para fora. É um trabalho que mexe com a nossa maneira de ser. Quer ver um exemplo? Já ouviram aquela frase que diz: “Eu confio desconfiando.” Você também repete essa mesma frase? Então acredite, isso não significa confiar. Isso significa que quer confiar, mas não se entrega por medo. Muitas vezes medo de perder as rédeas da situação, medo de sofrer, medo de se machucar, medo de passar por tudo de novo, medo na verdade de enfrentar o que já sabe que vai acontecer.
Mas, se fizemos a opção de vida nova, e o caminho que aceitamos tomar a partir de hoje é diferente de tudo o mais que vínhamos tentando, então é preciso que nos lancemos por completo. Quando a gente mergulha não tem meio termo, não é assim? Quando a gente confia também. Não dá pra confiar desconfiando. Quando se põe a prova a própria confiança é porque não confia. E é isso que a gente precisa trabalhar antes de qualquer coisa, de que forma confiamos. Primeiro precisamos entender o sentido real da confiança para que possamos nos depositar em confiança, assim como uma criança que se joga nos braços de seu pai, porque sabe que ele não o deixará cair. Ela não duvida em nenhuma circunstância que seu pai o amparará. Ela tem plena convicção que ele o acolherá.
O Nosso Pai não nos abandona. Esse Pai nos dá prova disso o tempo inteiro, nos mostra situações para que venhamos refletir e muitas vezes nós é que damos as costas. Esse Pai está lá, de braços erguidos. E quantas vezes, por insegurança, nos mantemos na beira do abismo e achamos que damos conta da situação, e por teimosia ou arrogância nos achamos suficientes, e cheios de si, tropeçamos e afundamos em nossos vícios e pecados. Vejam só, temos a possibilidade de nos salvar e não confiamos o suficiente. Parece absurdo, mas é assim que acontece. Ver as coisas dessa forma parece-nos tão fácil seguir o caminho correto, o que nos falta então para poder confiar? Será que falta entender melhor essa palavra? Será que falta nos colocarmos no lugar de filhos? Será que falta humildade? Será que falta ser menos arrogante e não querer resolver tudo da nossa maneira? Será que nos falta fé? Ou será que nos falta tudo isso junto?
Neste passo de hoje devemos refletir sobre o que entendemos pela palavra confiar, sobre o que falta-nos para poder confiar e porque é preciso aprender a confiar. Sempre queremos respostas prontas, mas só conseguiremos seguir por este caminho se nos conhecermos melhor e pisarmos com firmeza. Confiar não é para muitos. Se lançar não é para muitos. Quando Deus disse a Abraão em Gn 12, 1-4a: vai, deixa teu pai e tua mãe que tenho um propósito para ti. Não foi Abraão quem pediu: Senhor, dá um jeito na minha vida. Abraão estava lá, quietinho, na sua, vivendo a sua vida e o Senhor o convocou. E ele simplesmente confiou, e foi, pois disse o Senhor: vai para a terra que Eu te mostrarei. Abraão sequer sabia para onde ia. O Senhor ainda ia mostrá-lo. Mas isso não fazia diferença para Abraão, pois Deus jamais o levaria ao abismo, disso ele tinha certeza.
Deus lhe falou que ele ia ter como recompensa uma geração grandiosa e que aqueles que o seguissem seriam abençoados também. E Abraão obedece porque confia, e confia porque ama. E aí vai a pergunta que não quer calar: por que será que não confiamos?
Para confiar é preciso abandonar-se, ou seja, abandonar o antigo desejo, abandonar a vontade de querer que as coisas sigam como se quer. Abandonar a condição de arrogância, abandonar a inquietação porque se sente humilhado, diminuído, desprezado. Abandonar a quem era para ser uma pessoa nova, sabendo que tudo o que se aprendeu precisa ser jogado fora para reaprender de outra forma. Enquanto não passarmos pelo caminho estreito, estaremos caminhando sem rumo. É necessário aprender a confiar e acreditar em Deus como verdade para os nossos olhos, nossos ouvidos e nossa boca. É que cada passo tem o seu mistério. E cada mistério nos chama a um novo desafio. Essa proposta tem sempre um novo investimento que nos convida a tomar novas atitudes. E aí surgem novos questionamentos. Como posso confiar? O que fazer para confiar?
O melhor a fazer é relaxar porque o amanhã não nos pertence. Na verdade agimos como bobos quando ansiamos por respostas que só acontecerão com o tempo. Então, porque sempre queremos fazer mais do que aquilo que nos compete? Deus sabe da nossa condição. Ele sabe da nossa pouca capacidade e pede apenas para confiar. Humildemente, devemos acolher a Sua palavra, o Seu chamado. Assim como Abraão, que CONFIA e OBEDECE. Nenhuma dúvida, nenhuma pergunta, nenhuma demora. Abraão simplesmente obedece e parte assim como Deus mandou.
Imagino que isso não foi fácil pra ele! Observem que ele recebeu um chamado! E esse chamado o convida a abandonar sua pátria, seus parentes e amigos, a casa. Isso tudo ele deveria deixar para traz. Em outras palavras: tudo o que ele construiu e conquistou durante 75 anos, ou seja, toda uma vida. Deixar tudo isso significa: abandonar aquilo que lhe oferecia segurança e proteção. – E o que tem na sua frente? A incerteza de uma terra desconhecida. Nem mapas, nem fotos, nada Abraão conhece. Ele só tem a promessa de Deus: "eu te mostrarei" Assim, Deus espera que Abraão se entregue incondicionalmente em suas mãos. E Abraão aceita este desafio. Isso é FÉ em Deus: OUVIR a Sua Palavra, ACEITAR a Sua Palavra, LEVAR À SÉRIO a Sua Palavra, e CONFIAR na Sua Palavra.
E ainda que nossa fé seja do tamanho de um grão de mostarda, ainda assim, o que importa é que fomos convidados a segui-lo. O que verdadeiramente importa é que podemos nos tornar melhores, mais amáveis, mais cristãos, mais humildes. O que importa é que Deus nos ama e nos convida a fazer parte de Seu Reino e para tanto, devemos abrir nossos corações e nos colocarmos em Suas mãos, obedientes, confiantes de que ele poderá operar milagres na nossa vida e assim que seja feita a Sua vontade e não a nossa. Peçamos em nossas orações para que o Senhor nos transforme num vaso grandioso, não importa como seremos por fora, mas o que comportamos por dentro. Só confiando isso será possível.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau