LEITURAS
1ª leitura: Ez 33,7-9 = Se não advertires o ímpio, eu te pedirei contas da sua morte
Salmo Responsorial: Sl 94 = Não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!
2ª leitura: Rm 13,8-10 = O amor é o cumprimento perfeito da Lei
Evangelho: Mt 18,15-20 = Se ele te ouvir, tu ganharás teu irmão
Assumir a responsabilidade de corrigir a vida do outro, porque é irmão, é uma irmã, que caminha num caminho que não conduz a Deus, é algo muito sério. Tão sério, que a Bíblia propõe, em muitas passagens, como ser fraterno para ajudar e não ser um julgador; alguém que critica e condena. Com esta proposta de fundo, a Liturgia deste domingo propõe indicações preciosas sobre o relacionamento fraterno quando se considera a correção como uma necessidade.
1 – Não se intrometer na vida do outro
“Já é difícil cuidar da minha vida, quanto mais da vida dos outros!” Este é um provérbio popular que se ouve quando o assunto é ajudar alguém a deixar um modo de viver por outro modo de vida. Outro pensamento parecido: nunca gostei de me intrometer na vida do outro. Intrometer-se não, mas fraternalmente bater na porta do seu coração, para ajudá-lo a perceber que seu modo de viver é destrutivo, sim. Nós iniciamos o mês da Bíblia com o convite do salmista para acolher a Palavra de Deus que, como sabemos, é a voz de Deus: “não fecheis o coração, ouvi, hoje, a voz de Deus!” Se eu ouvir a voz de Deus, se eu cultivo a voz de Deus dentro de mim, posso ser uma sentinela para que o outro não caia, como ouvimos na profecia de Ezequiel. Se meu coração cultiva a voz de Deus, se ouço a voz de Deus, posso ser fraterno e, amorosamente aproximar-me de alguém corrigindo-o propondo-lhe viver de outro modo.
2 – A fraternidade pela correção
Estou dizendo que ajudar alguém a retomar o caminho da vida, corrigir o modo de viver de alguém, é ser fraterno. É ser caridoso. Para isso é necessário ter em nós dois princípios básicos: o coração cheio da Palavra de Deus e o coração cheio de amor. Paulo dizia na 2ª leitura: “o amor não faz mal a ninguém”. Por isso, quando nos aproximamos de alguém para corrigi-lo, para mostrar que o caminho onde caminha não é bom, não estamos fazendo uma intromissão, mas propondo amorosamente o caminho do bem. Algo que não pode ser feito com moralismos, com intimidações, com acusações, julgamentos. O caminho ensinado por Jesus, no Evangelho, é o da conversa. Ir conversar em particular com a pessoa. Se não der certo, pedir ajuda de alguém, de um amigo, de um padre… Jesus não é ingênuo. Ele apresenta a possibilidade de não sermos ouvidos. Mas, o que conta é nosso gesto do amor. Se o outro não quiser aceitar, então resta-nos a força da oração e interceder pela sua conversão.
3 – A reconciliação fraterna
“Se teu irmão pecar contra ti…” não o agrida, não revide, mas converse com ele para se chegar à reconciliação. Jesus propõe uma dinâmica pautada no perdão. Hoje, existe inclusive uma terapia do perdão, que obedece, basicamente, os mesmos passos propostos por Jesus. O processo do perdão, de perdoar quem me ofendeu, só é possível abrindo os ouvidos e o coração para acolher a voz do Senhor e ouvir quem me ofendeu. Deus não nos constitui guardas uns dos outros, mas movidos pelo amor fraterno, podemos ser sentinelas, alguém que fraternalmente chama atenção de quem caminha em caminhos de morte. Para isso, dois fundamentos: ser conduzido pelo amor fraterno e ser iluminado pela sabedoria divina, presente na Palavra. Assim nasce o compromisso cristão, proposto por Jesus, no Evangelho de hoje, de ajudar alguém a retomar o caminho do bem, o caminho de Deus, e andar no caminho do Evangelho. Esta é uma missão essencialmente presente na vida dos pais e de educadores.