A celebração faz parte da história das conquistas. Se hoje vivemos o passo celebrar é por que estamos prestes a finalizar um ciclo. “Os doze passos da Sobriedade” começou com o Passo Admitir. E o que admitimos nesta caminhada? Ainda estamos firmes neste propósito? É preciso lembra sempre o motivo que nos trouxe até aqui. O investimento é muito grande para não levarmos a sério. Cada vez que avaliamos a nossa vida e presumimos que precisamos mudar se quisermos que aqueles ao nosso redor também mude, é preciso que façamos essa experiência na íntegra, com o máximo de empenho possível.
Como este processo requer a cada semana um novo passo, graças a Deus, temos a oportunidade de trabalharmos alguns suportes que nos ajudam a desenvolver a finalidade de mantermo-nos em Sobriedade. Foi o Passo Confiar que nos trouxe essa positividade. Se tínhamos algum receio, Cristo nos mostra que podemos nos colocar em seus braços e acreditar que esta caminhada é possível. Jesus nos incentiva a dar mais um passo, a reconhecer esse terreno que não vivenciamos ainda, a perceber o quanto é importante a nossa mudança para que possamos compreender, através das nossas as dificuldades, aqueles que tanto tentam e não conseguem se melhorar.
É, não é fácil se colocar no lugar do outro sem as possibilidades que nós tivemos, sem afeto, sem carinho, sem condições, às vezes em ambientes agressivos, sem o alimento necessário, com histórias de drogas dos parentes mais próximos. E passando para o próximo passo, vivemos o Passo Entregar, que nos propõe aceitar as difíceis condições e lutar além delas dentro do nosso coração. Deus se revela piedoso e nos acolhe sempre que precisamos, mas só nos é dada a compensação na medida em que nos depositamos Nele. Se não acreditarmos o suficiente, como poderemos pedir que o Pai transforme nossas angústias? As dificuldades vêm e vão, mas precisamos aprender a lidar com elas.
E qual não é nossa surpresa, quando ao perceber essas dificuldades, enxergamos que nós andamos por caminhos tortuosos, que cometemos pequenos e grandes deslizes. Qual é nossa surpresa quando nos damos conta de que não obedecemos à Deus, que fizemos julgamentos dentro de nossa própria casa, que na comunidade reclamamos dos outros mas não fizemos a nossa parte, não damos a nossa contribuição. Ficamos impressionados porque fomos capazes de agir de maneira incorreta como se fosse normal, burlando as pessoas, enganando a nós mesmos, deixando pra depois o que precisava ser enfrentado. Chegou a hora de vivenciar o Passo Arrepender-se, pois o momento se apresenta de forma pesarosa, onde reconhecemos o quanto fomos egoístas. Agora podemos derrubar mais uma máscara. E ela cai com sofrimento, pois há uma vergonha mesclada nessas atitudes.
E é essa vergonha que nos faz querer parar por aí, querer não repetir mais os mesmos erros. Mas essa mesma vergonha também faz a gente não querer seguir adiante. Ora, “Os doze Passos da Sobriedade” são desafiadores demais. Nesse trajeto, que já nos parece tão difícil, somos convidados a nos denunciar, a nos colocar de frente ao Juiz e a apresentar a nossa própria culpa? Sinto que não tenho estrutura para fazer essa caminhada sozinho, coloca um dos nossos companheiros de caminhada. O Passo Confessar vem trazer o Padre para testemunhar e para auxiliar na medida do possível esse processo diante do Pai. O julgamento dos nossos erros e pecados vai depender do tamanho do nosso arrependimento e do exercício da conversão, pois ninguém jamais poderá dizer que não cairá novamente, mas poderá tentar pela renúncia e pela maneira como enxergará o ato da confissão.
Quem fez essa experiência certamente se sentiu mais leve, pois soube enfrentar com dignidade, assumindo as falhas que cometeu e trouxe à tona o desafio de se colocar diante de uma terceira pessoa, que naquele momento, como servo de Deus, soube nos orientar e nos aconselhar, confortando-nos diante das nossas angústias e auxiliando-nos a retomar nossa caminhada. Vivemos o Passo Renascer porque nos comprometemos ser uma nova pessoa. Ele não é apenas uma consequência das nossas ações, mas um aprendizado e um novo perfil que adquirimos por fazer a opção da nova conduta, que é a de assumir essa postura de sobriedade em nosso coração.
E essa nova reação se mistura com as futuras atitudes. Não há como ter se arrependido, responsabilizar-se por esta falha, sentir-se outro ao se prostrar no altar, e não resgatar aquele que afastamos, porque se erramos, o fizemos diretamente para alguém. Então estamos frente ao Passo Reparar para tornar concreta a continuação do nosso ciclo. Quando Jesus falou: vai e não o faças mais, Ele reconheceu nosso arrependimento, mas ainda não concluímos todo o nosso dever. Aquele ao qual machucamos, continua machucado. Aquele o qual tiramos algo continua em falta. É preciso que reponhamos.
A unidade fraterna se faz na presença do amor. E se Deus assim nos fez, devemos essa graça a Ele e devemos louvá-lo por conseguirmos alcançar em mais um passo a possibilidade de nos unir àqueles a quem amamos em Seu nome. O exercício cristão nos permite ir ao encontro da nossa fé, pois sem ela não teríamos conseguido chegar até aqui. Foi compreendendo que nos aproximamos de Deus cada vez que solicitávamos o Seu auxílio, que deixamos nossas marcas no nosso dia-a-dia, pela segurança que apresentamos, pela leveza, pelas decisões que tomamos. E assim seguimos com o Passo Professar, pois estamos em Deus e Ele em nós porque Deus nos escolheu e também escolhemos ser Dele.
Todavia, quando resolvemos trabalhar em prol de novas conquistas, passamos por situações delicadas, conflitos internos, pois não é tão fácil abrir mão de si mesmo em nome de uma opção de mudança. Temos garantias dentro da gente que é quase impossível modificar. Sim, o nosso coração é duro até com a gente mesmo. É fácil amar o familiar, mas onde buscar suporte para amar aqueles que levam nosso familiar aos pontos de drogas, aqueles que alimentam a morte dos nossos entes queridos? Temos mesmo que abrir os braços para aqueles que nos feriram tanto? Só vamos encontrar estas respostas quando estivermos prostrados, ajoelhados, frente ao Cristo e Ele nos direcionará. Com Deus nada é tão difícil quanto parece. Enfrentar a dor é fazer-se consciente dos prejuízos que nos causamos por termos alimentado o medo. O Passo Orar e Vigiar nos deixa em alerta permanente, sensível ao mundo, perceptores das ações que não compreendíamos, seja por ignorância, seja pela falta de valoração.
Podemos fazer um balanço das conquistas que adquirimos nesse percurso. Sem a retomada da nossa experiência com Deus nada disso seria possível. Este é o momento em que poderemos partilhar todas essas experiências, numa celebração. Essa comunhão se deu com muito esforço. Passamos por medos, dúvidas, desestímulos, conflitos, tribulações, desânimos, mas estamos aqui em Sobriedade para participar da ceia com o Passo Celebrar. Esta ocasião é particularmente especial porque nos une em corpo e espírito aos projetos do Pai. Somos traçados com o sinal de Seu amor e reafirmamos o nosso desafio, ainda que tenhamos que lutar muito, inclusive contra nós mesmos. Estamos saudáveis, estamos cheios da graça do Senhor, estamos prontos para recebê-Lo com dignidade. Que caminhada intensa, quantos frutos, quanta beleza!!!
Malena Andrade – Psicóloga Assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau