Estamos quase no final do nosso ciclo. Levando em consideração que todos os passos que vivenciamos são importantes na construção da nossa caminhada e cada um deles tem uma razão de ser para o nosso crescimento, devemos dar uma atenção especial para este passo que hoje vamos refletir. Realizamos o Passo Celebrar juntamente com a comunidade e comungamos o nosso propósito pastoral a todos os presentes. A participação à ceia é significativa dentro da Caminhada de Vida Nova porque depois de experimentar alguns processos, os quais nos fizeram rever a nossa prática e a nossa forma de pensar, agora estamos nos dirigindo à casa do Pai e vamos poder fazer parte de um grande grupo, que passa a tomar conhecimento de quem somos e o que representamos dentro da Igreja.
Para alguns, assumir-se para a comunidade representa um grande desafio. Outros sentem vergonha de ter que fazer parte de uma Pastoral que lida com a dependência e receia ser apontado em outras ocasiões. Devemos reconhecer que o nosso preconceito recai primeiramente em nós. Enfrentar esta situação expressa o desejo de resolver, de querer dar um direcionamento mais acertado. Quanto mais nos escondemos, mais afastamos a possibilidade de mudança.
Além desse valor que nos faz interagir com a comunidade, também agregamos o sentimento de estar à frente do Cristo, apresentando as nossas fragilidades e a nossa força ao mesmo tempo. Encontramo-nos felizes de ter chegado até aqui, mostrando que somos persistentes e não desanimamos, mesmo que tenha sido difícil se debruçar a cada um dos passos, mesmo que em algumas situações nos sentimos inquietos, às vezes, com vontade de abandonar. E é assim que acontece, ninguém nunca é uma fortaleza o tempo todo. Tem os dias que somos tentados pelas nossas fraquezas, que gastamos todas as nossas forças e que por um triz não desistimos.
Outras vezes, desejamos que o nosso fardo não seja tão pesado e procuramos aliviar, colocando a responsabilidade das nossas ações ou da falta delas sobre as costas de outras pessoas. Em um grau menor podemos ser comparados ao dependente, quando manipulamos os nossos próprios sentimentos. Fugir de uma responsabilidade, fingir que não estamos atravessando um período difícil, ou camuflar os fatos, querendo mascarar o que já está tão evidente é uma forma de estender ainda mais um sofrimento que não há como negar. Já estivemos num mar mais revoltoso e escolhemos fazer esta experiência de Vida Nova.
Aqui, num primeiro momento fomos chamados a olhar para dentro de nós mesmos e tentar fazer um investimento de dentro para fora. Com o Passo Admitir nos dirigimos à nossa interioridade para tentar resgatar primeiramente a nós que estávamos perdidos, de tanto que estávamos envolvidos com as dores provindas de todos os lados. E aí fomos conhecendo a cada semana diferentes formas de lidar com o nosso sofrimento. Então, com o Passo Confiar veio a oportunidade de encontrarmo-nos com Deus de uma maneira especial. Tínhamos a graça de receber conforto através da oração direcionada, e assim nos reaproximamos ainda mais de Seu Amor.
Só nestas condições pudemos mostrar as nossas chagas, as marcas que os vícios causaram na nossa vida. O Passo Entregar nos proporcionou o alívio desta dor, pois fomos convidados a colocar em Suas mãos todas as nossas aflições. Reconhecemos que o Pai sempre esteve ao nosso alcance, mas não enxergávamos, tamanha era a nossa incapacidade em reconhecer as nossas falhas. E alcançando mais uma etapa, fomos nos dando conta com o Passo Arrepender-se a apropriarmo-nos dos nossos erros, das nossas faltas, que ficaram camufladas pelas nossas ilusões, acreditando que poderíamos mascará-las o tempo todo.
E como se não fosse suficiente, logo a seguir fomos tomados pelo Passo Confessar, que sendo uma prática da nossa Igreja, devíamos no mínimo compreender a razão de este ser considerado um desafio tão grande para nós. Mas só conseguiu compreender e passar para o Passo Renascer quem vivenciou na íntegra o processo de conversão. E interligado um ao outro, o Passo Reparar partiu para a ação, se dirigiu ao outro, porque até então a retomada era só nossa. A partir daqui, passamos a crescer também pela nossa relação com o outro.
Se fizéssemos uma recapitulação neste ponto, perceberíamos que o esforço que produzimos movimentou mais a nossa interioridade que a coisas externas. O Passo Professar a Fé veio comprovar essa percepção, pois o encontro com Cristo nos levou a pensar e agir de forma que não abríssemos espaço unicamente para nós, mas para a exclusão, a qual excluíamos da nossa vida. Todavia, toda atenção deveria estar voltada para as nossas atitudes anteriores com o Passo Orar e Vigiar, porque elas fizeram parte da nossa vida, que como um vício, repetíamos sem questionar se estávamos agindo com coerência cristã ou de forma saudável ao nosso espírito.
Nessas circunstâncias já não olhávamos sob a mesma ótica e não tínhamos mais como voltar toda a atenção a uma só direção. Aprendemos a refletir pela Palavra, a conhecer o amor exigente, a oferecer segundo a necessidade de quem precisava e não apenas oferecer aquilo que queríamos dar. O Passo Servir validou a nossa caminhada de maneira tão intensa que hoje vimos nos fazer presentes no Passo Celebrar. A nossa vida cristã ganha mais qualidade quando participamos da Ceia do Senhor, pois acreditamos no milagre da consagração, que passa a conter a presença real de Jesus Cristo. A Ceia torna plena a Sua presença e celebrando Jesus, recordamos sua morte e ressurreição por nós.
Ele celebrou a primeira ceia e nós, celebrando em continuidade, entendemos que pão é memória , e vinho é promessa. Nela celebramos a vida, memória e promessa, passado e futuro no instante presente. Portanto, estamos no ápice da nossa reflexão, onde devemos nos reportar com muita emoção, perguntando ao próprio Jesus o que ele quer de nós. É o momento de agradecer todo o Seu sacrifício em nosso nome, e de alegria por estar fazendo parte deste banquete da salvação. Tornamo-nos membros da aliança pela graça, não pelo mérito. Sua vida não acabou, continua em nós em nome da fraternidade e acolhimento dos excluídos.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau