Chegamos ao décimo passo da nossa caminhada. Após um período já de dez semanas, estamos refletindo sobre o sentido do serviço. E já trazemos aqui alguns questionamentos: Será que servir significa favorecer alguém com o nosso trabalho? Ou será que servir quer dizer assumir os compromissos cristãos dentro da nossa Igreja? Servir nos leva a prestar obediência? Ou servimos quando suprimos as necessidades do outro? Se temos dúvidas a respeito do nosso serviço, estas perguntas vão movimentar novos questionamentos, pois quanto à nossa dedicação, ainda servimos ativamente ou passivamente. Mas, o que isso quer dizer?
Geralmente, somos chamados ao serviço pela forma que mais nos aproximamos e sentimo-nos sensibilizados a trabalhar pelo Reino. Contudo, uma coisa nos leva à outra, como por exemplo, quando nos deixamos tocar pelo sofrimento de quem procura por ajuda. Se atendemos às suas necessidades, temos automaticamente que abrir mão das coisas que fazemos para nós para nos dedicarmos à necessidade desta pessoa. É o nosso trabalho que está sendo realizado em função de alguém, sendo esta uma forma de se comprometer com Cristo, pois é a Ele que estamos servindo. E agindo assim, estamos em constante obediência para com os Seus princípios.
O que nos leva a agir com atividade ou passividade é a nossa vontade, a nossa tolerância para com a dedicação, a nossa alegria ao serviço, o nosso zelo e bom humor, se fazemos com prazer, de coração, ou, se nos sentimos obrigados ou pressionados. Outra questão muito importante também é que devemos nos dar conta de que estaremos sempre servindo a um propósito. Por isso, é importante estarmos atentos ao que vamos servir. Se é a Deus, se é à caridade, se é ao bom senso, se é a exclusividade dos nossos prazeres, se é aos nossos vícios, se estamos servindo ao nosso egoísmo, se servimos ao consumo de tudo e qualquer coisa, se servimos à gula ou aos jogos de azares, se servimos com intemperança ao corpo. E aí, temos que saber separar o que é serviço e o que é escravidão.
Agora que temos como diferenciar sobre atividade e passividade, sobre serviço e sobre escravidão, podemos compreender um pouco mais sobre o que Deus espera de nós. A nossa atitude tem que ser consciente. Precisamos abraçar nossas opções e assegurar que elas sejam bem feitas, pois ali estará impressa a nossa marca de cristãos. Quando nos dedicamos com fidelidade, com abertura de coração, permitimos que Deus se faça presente em nossas ações, aproximando este outro que necessita compreender que esta presença pode ser sentida por ela também. E assim, na qualidade de mais humilde dos servos, nos tornamos os mais nobres diante do Pai, por estar realizando a Sua vontade, por estar praticando o Seu amor, por estar dando a oportunidade de outras pessoas tomarem consciência da Sua obra.
Embora não consigamos distinguir quando alguém serve em passividade, tem muitas pessoas que se encontram a agir dessa forma, meio que em cima do muro, pois atuam em benefício dos outros, mas voltam-se para si. Fazem apenas para cumprir um dever, para não ser cobrado depois ou ainda para ser reconhecido. Este sempre argumentará: a minha parte eu já fiz. Costumeiramente estas pessoas não se evidenciam porque não assumem com firmeza aquilo que pensam verdadeiramente. Às vezes, colocam o que pensam a três ou quatro ouvintes para ganhar adesão, mas não se expressam com convicção. Temem que suas ideias sejam repudiadas. Em sua ignorância, não percebem que isso se dá porque seus olhares estão voltados para si mesmos. Ou seja, ao mesmo tempo em que fazem um trabalho importante, criam seus próprios percalços e se perdem, se confundem na submissão do seu egoísmo.
Mas Deus é constante em nós e não nos abandona. As nossas práticas se tornam instrumentos para nossa própria educação. E é por esta razão que em muitos casos, mesmo pensando que estamos agindo de forma correta levamos algumas lambadas. É preciso refletir o que ainda temos a aprender, que caminhos devemos refazer, onde temos que mudar, e graças ao bom Deus, estes espinhos, estas vias tortuosas trazem os sinais que precisamos para remover os obstáculos ou redirecionar nossa vida. As nossas ações interferem nas ações dos outros, que interferem novamente em nossas ações e assim por diante.
Os resultados podem levar muito tempo para se produzir, chegando a nem se conhecer ou se dar conta de como todas as coisas ou dificuldades começaram acontecendo. Talvez compreender o percurso das coisas faça com que a gente encontre o sentido de estar fazendo esta caminhada, mas o mais importante é parar, pensar e assumir essa identidade de filho que aceita a proposta dada pelo Pai. O serviço não se resume ao trabalho pastoral ou às atividades desempenhadas na Igreja. Tampouco servir é prestar obediência à doutrina religiosa. O nosso SIM deve se estender no trabalho diário, nos estudos, no relacionamento familiar, no relacionamento fraterno e inclusive no relacionamento conjugal.
Não precisamos largar nada para servir a Deus. Pelo contrário, precisamos abraçar com mais amor cada uma das coisas que realizamos. O nosso chamado deve ser atendido com alegria, pois certamente fomos reconhecidos em nossas habilidades e devemos entregar uma parte dela com gratuidade. Como posso servir a partir daquilo que conheço? Como posso estar partilhando esse conhecimento? Onde estão estas pessoas que poderiam estar aqui fazendo este exercício, essa entrega, dizendo com convicção este SIM? Provavelmente estão acumulando em seus bolsos para gastarem com possíveis adoecimentos futuros ou com suas próprias vagas em asilos.
Reclamamos de uma sociedade que não dá conta do trânsito, que não dá conta de uma boa educação, que não garante um serviço de saúde decente, que não proporciona boa qualidade de vida, mas não tomamos nenhuma iniciativa. Adoramos frases prontas e arranjamos muitas desculpas para a nossa inatividade. “Uma andorinha só não faz verão”, conhecem? E aí eu pergunto: quem disse que o papel da andorinha é fazer verão? Olha como estamos desfocados do verdadeiro sentido do serviço. Muitos profissionais poderiam dedicar-se a ajudar o seu semelhante com aquilo que sabem fazer sem muito esforço, senão fazendo, pelo menos ensinando. Fala-se também que a gente nunca deve dar o peixe, mas ensinar a pescar. Só que cada uma dessas coisas requer um empenho diferente.
E nós, o que vamos fazer? Dar o peixe? Ensinar a pescar? Que tal mostrar como se tece a rede ou oferecer o peixe já assado? Lembrando que qualquer atitude que escolhermos fazer, devemos realizá-la com o coração voltado para o Alto. Vamos valorizar os talentos e louvar a Deus, alcançando outras pessoas com o Seu amor.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau