E sempre que essa palavra se apresenta nos lembramos do papel de Maria, nossa mãe. Acolhemos Maria e hoje ela simboliza a maternidade num contexto geral. Como mãe da Igreja e nossa mãe, buscamos sua intercessão e fidelidade. O seu afeto cheio de simplicidade é um exemplo a ser seguido. A sua serviciência traz o sentido mais nobre do coração humano. Por isso, o passo de hoje traz à reflexão essa grande mãe, que soube entender e aceitar com resignação as dores mais profundas que uma mãe pode sentir, reconhecendo em seu Filho o redentor, ainda que isso muito lhe custasse.
Estamos tentando praticar cada um dos passos que nos foi proposto. Vivenciar pela escuta não é tão simples quanto nos parece. Que dirá a prática. Mas nesse exercício, vamos nos apropriando de nós mesmos. Vamos percebendo do que somos e do que não somos capazes ainda. Voltando ao primeiro passo que nós demos nessa caminhada, é possível verificar os anseios que nos cercavam. Compreendemos que antes de ajudar o outro foi preciso olhar para nós mesmos e reconhecer que precisávamos tirar primeiro as travas dos nossos olhos. Nossos erros precisavam ser avaliados e reparados.
Assim, admitimos que tínhamos muito a mudar. E começamos esta caminhada. De alguma maneira, quem nos trouxe até aqui foi o outro, aquele que precisava de ajuda. E que ainda precisa. Mas reconhecemos que temos que nos preparar tanto quanto ele. Tivemos que confiar na proposta de Sobriedade e entregar todas as inseguranças nas mãos do Pai para suportar este desafio. Ainda era tempo de arrepender-se. O convite à confissão cai sobre nós como uma rocha, mas não há vitória sem luta e esse passo nos trouxe a renovação. Tivemos a oportunidade de renascer no espírito e isso nos proporcionou alívio. Contudo, passamos a sentir necessidade de buscar aqueles a quem machucamos, a quem ofendemos para reparar os males que cometemos e nessa atitude pudemos expressar que queremos nos constituir de bons pensamentos e boas atitudes. Essa foi uma forma de professarmos nossa fé, praticando a mudança. Porém, essa prática é um exercício contínuo e por isso é necessário que oremos e vigiemos, pois as tentações existem na proporção das nossas fragilidades. E hoje se apresenta mais uma maneira de não olharmos apenas para nós mesmos. Agora é a hora de nos voltarmos ao que nos trouxe aqui. Agora sim, estamos prontos a dar suporte, pois nos preparamos e revimos o que em nós também precisava ser mudado.
O passo servir nos leva a encontrar o outro, a cuidar da sua necessidade e a resgatá-lo no momento em que ele mais precisa, mas também nos dá condições de auxiliá-lo na mesma caminhada a qual nos propomos. Se apenas ajudássemos pelo cunho da obrigação e responsabilidade, talvez não conseguiríamos fazê-lo na sua principal essência. A nossa caminhada de sobriedade nos capacita a mostrar que a cura da enfermidade, a recuperação e a proposta de vida nova depende também da renovação da alma. Cada um de nós precisa dar a si mesmo a chance de reaprender, de renascer em corpo e espírito. Como poderíamos falar disso se não tivéssemos vivenciado? É preciso passar pela proposta de mudança para falar dela.
Servir significa aceitar o fato e acolher com misericórdia, dando sua contribuição àquilo que é chamado. Deve ser entendido como obediência. Quando nascemos fomos apresentados a uma comunidade para fazermos parte dela como cristãos. Ainda não entendíamos nada, mas fomos levados pelos nossos pais e padrinhos e essa comunidade nos acolheu e fomos presenteados com o batismo. Quando aprendemos a nos expressar pudemos então fazer a nossa escolha, sendo recíproco a esse acolhimento e daí acolhemos também essa comunidade cristã. Enquanto jovem pudemos dar continuidade a nossa caminhada reafirmando a nossa prática cristã pelos dons do Espírito Santo.
Toda essa vivência é um depoimento da nossa obediência à Deus. Crescemos sob as Suas leis e vamos nos tornando seguidores da Sua Palavra. Contudo, é a nossa participação efetiva na vida do irmão que vai dar sentido a tudo que foi pregado por Jesus. Quem não vive para servir não serve para viver. Esta é uma frase muito bem colocada quando nos referimos ao serviço fraterno. Quantas vezes nos sentimos impotentes, quantas vezes queremos ajudar de alguma maneira, mas toda a nossa ajuda não adianta. Quantas vezes por mais que façamos, não conseguimos obter o resultado que desejamos e acabamos frustrados. Essas sensações acontecem porque procuramos resolver os problemas dos outros, sem primeiro tentar ver as nossas dificuldades, sem reconhecer o que é possível fazer e o que é necessário fazer, antes que seja feita a nossa vontade, que resultado gostaríamos de ver.
Muitas vezes ao ajudar criamos uma expectativa para tudo o que estamos fazendo e esse é o problema. É preciso que nos empenhemos no processo de ajudar e não no resultado que vamos obter. O resultado não nos cabe. Assim também o é quando nos colocamos à disposição para o desafio da Pastoral da Sobriedade. Devemos fazer com amor, com carinho, com dedicação, independente da pessoa que está se favorecendo do nosso auxílio buscar seu próprio crescimento ou não. Quando eles se beneficiam e também fazem o investimento, valorizando a sua vida, para nós é grande motivo de alegria. Mas do contrário, que mesmo com todo o suporte, ainda assim recaem ou buscam socorro apenas para dar conta daquele momento e depois voltam novamente às drogas, devemos nos dedicar ainda mais, pois são estes quem mais precisam de evangelização. E temos que ser fortes na oração para garantir com resistência os pensamentos e sensações de desgaste e desânimo. Que bom que Deus pode contar conosco, não é?
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau