Meu irmão Maximino exercia a profissão de taxista em Florianóplis. Alternava os dias de trabalho com dias de folga. Estava em casa, de tarde, quando se sentiu mal. Em dez minutos praticamente, o enfarte o levou para a outra vida.
De um lado, confortana-nos o fato de ele ter partido sem sequer um “ai”. Ele só teve tempo de chamar a esposa, nos braços da qual expirou. A última pesoa que ele chamou foi pela filha, a menina dentre os dois filhos. Sinal do verdadeiro carinho paterno que lhe devotava e porque, o seu trabalho nas proximidades, favorecia o socorro que sentia necessário e, quem saba, urgente!
De outro lado, imagina-se agora, quantas coisas não teria dito e ouvido também se, ao menos, tivesse ficado consciente por mais algumas horas.
A morte súbita é assim, nada espera, nada protela. Há uma antiga oração de preparação para a morte que pede a Deus livrar da “morte repentina e imprevista”. O Senhor, porém, sempre nos adeverte: ” Estai preparados porque não sabeis o dia e nem a hora em que o Senhor virá” (Mt 25,1-13).
Nossas preces pelo falecido Max, no entanto, são contínuas. Sabemos que, agora, é o que conta para ele, na eternidade. Toda oração beneficia o orante e o destinatário. Quem reza realiza profundo ato beneficiente para si. Os mortos, ao invés, adquirem os méritos da oração através dos seus familiares e amigos, através da Igreja que ora todos os dias pelos falecidos em sua liturgia, especialmente na celebração eucarística.
Por isso, no dia de ontem, 25, fomos a Florianópolis, a mãe, o pai e eu para, com a esposa/viúva e os filhos, rezar juntos a santa missa de trigésimo dia.
Lá, no aconchego da capela lateral da Igreja Matriz da Santíssima Trindade, próximo à Universidade Federal, nos congregamos nesse momento de prece.
Novamente sentimo-nos realmente em casa, como na ocasião da missa de sétimo dia, acolhidos e atendidos pelo amor do Frei Cássio, pároco, e pelas pessoas encarregadas do cuidado da igreja. Um privilégio celebrar missa às 16h de domingo, num ambiente bem preparado e usufruindo de um silêncio comovente.
O evangelho daquele Quinto Domingo da Quaresma – Ano B, proclama a palavra de Jesus: “Se o grão de trigo caído na terra não morrer, fica só; mas se morrer, produz muito fruto” (Jo 12,24). Que mensagem mais apropriada do que esta poderíamos ouvir juntos nessa ocasião? Saber que a morte, além de perpetuar a vida, possibilita frutificar as sementes de bondade, fé, amor, lutas e conquistas faz-nos render imensa gratidão ao Senhor da vida. Sua sabedoria e misericórida ultrapassam infinitamente nossa humana compreensão.
Depois da celebração, fomos até o cemitério e visitamos o bonito túmulo do falecido. A bela lápide com a mensagem carinhosa e forte ali escrita perpetua a edificante imagem deixada pelo Maximino. Além do mais, significa a sua abençoada memória que durará, logicamente, enquanto durar o seu suporte de aço.
Fez-nos muito bem o verdadeiro diálogo, acompanhado ainda de lágrimas, entre nós naqueles momentos.
Ainda, sob a insistência da cunhada, fomos ao seu apartamento saborear um café com “bolo de chocolate”, confeccionado carinhosamente por ela. Sem dúvida, não podíamos deixar de partilhar igualmente nossa dor e nossa fé, nossa esperança e nossas vidas. Como deixar de repartir, da mesma forma, a “semente” que foi plantada à terra, literalmente na terra, nosso irmão, filho, esposo, pai e já quase avô?
Chegamos, de volta a Blumenau, depois de percorrer 340 Km. O relógio acusava pouco mais de 21h de uma tarde que, imagino, acabamos percorrendo, ao mesmo tempo, quilômetros de solidariedade, fé, esperança e amor.
” Estai preparados porque não sabeis o dia e nem a hora em que o Senhor virá” (Mt 25,1-13).
“Se o grão de trigo caído na terra não morre, fica só; mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24).
Olá !!! Percebo que a passagem de alguém próximo provoca um sentimento de término de uma forma de se relacionar com o mundo material e um início de outra forma de continuar a vida que não conhecemos e que temos medo de aceitar. Vejo que tudo isso nos mostrou, de que apesar da distância física, que os laços de sangue nos traz sentimentos que conseguimos perceber e sentir, mas que não conseguimos explicar. Não deixem de visitar o blog.O escritor da família merece nossa gratidão pelo tempo dispendido com os assuntos tratados no blog, e que seus artigosd acende os elos de união, que as vezes ficam desgastados pelo tempo… Bjs. Rose
Rose querida,
obrigado pelo seu retornoincentivador. Expressar nossas reflexões, cada um de seu jeito, é dar um pouco de si ao outro, no caso, ao leitor, à leitora.
Grande abraço.
Raul